Repórter
Publicado em 3 de outubro de 2025 às 05h56.
As ações da Intel subiram 3% nesta quinta-feira, 2, impulsionando o ganho mensal para mais de 50%. A alta levou o valor das ações para mais de US$ 37, aumentando a participação de 10% do governo dos Estados Unidos na empresa para cerca de US$ 16 bilhões.
O governo do presidente americano Donald Trump havia negociado um investimento de US$ 8,9 bilhões em ações ordinárias da Intel em agosto, comprando 433,3 milhões de ações a US$ 20,47 cada.
Por que Apple e Nvidia querem ‘salvar’ a Intel?A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, comemorou a alta com uma publicação no X, associando o resultado à Associação de Cidadãos Americanos Maduros, uma organização conservadora.
A participação acionária do governo foi financiada por subsídios concedidos à Intel sob a Lei de CHIPS e Ciência dos EUA, do ex-presidente Joe Biden. A Intel já recebeu US$ 2,2 bilhões em subsídios dessa lei e deve receber outros US$ 5,7 bilhões, além de US$ 3,2 bilhões de um programa governamental separado, segundo informações da CNBC.
“O foco do presidente Trump na fabricação de chips nos EUA está impulsionando investimentos históricos em uma indústria vital e essencial para a segurança econômica e nacional do país”, afirmou o CEO da Intel, Lip Bu-Tan, em comunicado.
Além do apoio governamental, a Intel tem atraído outros grandes investidores, como Softbank e, mais recentemente, Nvidia. Em setembro, a Nvidia anunciou um investimento de US$ 5 bilhões na Intel, como parte de uma colaboração para o desenvolvimento de data centers e produtos para PCs.
Essas movimentações ajudaram a Intel a se recuperar, especialmente após o pior desempenho das ações da empresa em mais de uma década, quando os papéis caíram 60% em 2024. O ano fiscal de 2024 foi marcado pela saída do CEO Pat Gelsinger em dezembro, mas agora, sob a liderança de Bu-Tan, as ações da Intel estão no nível mais alto em 18 meses.
Além disso, as ações da Intel subiram 7% nesta quarta-feira após a notícia de que a empresa está em negociações iniciais com a AMD, com a possibilidade de adicionar a fabricante de hardware como cliente.
Embora seja incomum para o governo dos EUA adquirir uma participação em uma empresa tão grande como a Intel, essa ação está alinhada com a tendência de Donald Trump de intervir mais diretamente no mercado durante seu segundo mandato, segundo a agência Deutsche Welle.
As fabricantes de chips Nvidia e AMD também concordaram, neste mês, em pagar 15% da receita de suas vendas na China ao governo dos EUA. Outro exemplo de intervenção foi a recente venda da siderúrgica americana US Steel para a japonesa Nippon Steel, em um acordo que garantiu ao governo dos EUA uma 'golden share', o que concede ao governo amplo poder de veto sobre decisões corporativas da US Steel e o direito de nomear um membro do conselho.
Além disso, em julho, o governo dos EUA anunciou que se tornaria o maior acionista da única mina de terras raras em operação no país, de propriedade da MP Materials.
"A gestão Trump está realmente adotando uma visão ampla do que é possível em termos de intervenções do governo dos EUA no setor privado e forçando muito os limites", afirmou à Deutsche Welle Geoffrey Gertz, pesquisador sênior do Centro para uma Nova Segurança Americana, em Washington.
Ele descreveu essas medidas como "incomuns" e fez uma distinção entre políticas que estimulam setores inteiros e a estratégia mais direcionada de Trump, que busca fechar acordos pontuais com empresas específicas.
"Essa é uma abordagem bem diferente de estabelecer padrões ou diretrizes de política industrial para todo o setor."
No entanto, essa abordagem de Trump tem recebido apoio, especialmente quando se trata de setores considerados estrategicamente importantes na rivalidade entre os EUA e a China, como os semicondutores e as terras raras.
"A Intel é mais do que apenas uma empresa, e acho que a decisão de investir deve ser aplaudida", afirmou à DW Sujai Shivakumar, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington.
"É hora de entender que esse tipo de política industrial é a norma nas economias avançadas, e que os governos estão fornecendo essa forma de apoio amplo. Se nos agarrarmos a esse mito de um mercado puro aqui nos EUA, corremos o risco de perder terreno em um dos setores mais estratégicos do século", acrescentou.