Invest

Acordo Mercosul e União Europeia pode redefinir exportações brasileiras em meio às tarifas dos EUA

A proposta apresentada abre oportunidades para o Brasil em setores como café, soja e celulose, mas exigirá adaptação às pressões ambientais e regulatórias da Europa

Veja como acordo Mercosul - União Europeia pode afetar as exportações brasileiras após as tarifas dos EUA (AFP/AFP)

Veja como acordo Mercosul - União Europeia pode afetar as exportações brasileiras após as tarifas dos EUA (AFP/AFP)

Alê Delara
Alê Delara

Consultor, Palestrante e Professor

Publicado em 5 de setembro de 2025 às 17h39.

Última atualização em 5 de setembro de 2025 às 17h54.

Tudo sobreEducação executiva
Saiba mais

Na terça-feira, dia 3, a Comissão Europeia apresentou oficialmente ao Parlamento Europeu e aos governos nacionais o acordo comercial com o Mercosul. A proposta conclui um processo de mais de 25 anos de negociações e é considerada o maior pacto já costurado pela União Europeia em termos de redução tarifária.

O texto precisa ser aprovado por maioria qualificada dos Estados-membros (15 de 27 países, representando 65% da população da UE) e pelo Parlamento.

A votação, porém, não será simples. França e Polônia seguem resistentes, especialmente pela preocupação com o impacto sobre seus agricultores.

Para reduzir a oposição, Bruxelas incluiu cláusulas de salvaguarda que permitem suspender benefícios tarifários se as importações de determinados produtos crescerem mais de 10% ou se os preços caírem nessa proporção. Também foi anunciado um fundo de € 6,3 bilhões para apoiar agricultores em momentos de crise.

Aprenda como navegar por acordos comerciais e seus impactos nos mercados agrícolas. Domine derivativos que protegem contra volatilidade em cenários de mudanças tarifárias. Inscreva-se no curso executivo de Formação no Mercado de Derivativos Agrícolas. 

O comércio Brasil e UE em números

Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior, em 2024, o intercâmbio comercial Brasil-UE atingiu US$ 95,5 bilhões:

  • Exportações: US$ 48,3 bilhões (+4,3% em relação a 2023).
  • Importações: US$ 47,3 bilhões (+4,0%).
  • Saldo: superávit de US$ 1 bilhão.

A União Europeia foi destino de 14,3% das exportações brasileiras e origem de 18% das importações.

Entre os principais produtos exportados para a UE em 2024 estão petróleo bruto (23,1%), café (11,6%), farelo de soja (8,7%), soja em grão (6,0%) e celulose (5,0%).

Nas importações, predominam medicamentos (8,4%), automóveis e autopeças (5,5%), combustíveis refinados (3,7%) e insumos químicos (3,2%).

Esses números evidenciam a complementaridade da pauta comercial: o Brasil exporta commodities agrícolas e minerais, enquanto importa bens industrializados de maior valor agregado.

Trump e o desvio de comércio

A reeleição de Donald Trump trouxe novas tarifas sobre dezenas de produtos brasileiros. Café, aço, alumínio e derivados agroindustriais foram incluídos em sobretaxas de até 50%.

Os Estados Unidos são o segundo maior destino das exportações brasileiras, atrás apenas da China, o que amplia o impacto dessas medidas.

Esse cenário pode gerar um desvio de comércio. Parte do volume que hoje enfrenta barreiras no mercado americano pode ser redirecionada à Europa, caso o acordo Mercosul–UE seja aprovado.

O café é o exemplo mais claro. O produto já representa mais de 11% das exportações brasileiras para a UE e movimenta mais de US$ 5 bilhões anuais. Diante das tarifas americanas, a Europa tende a se consolidar como destino prioritário.

DERIVATIVOS AGRÍCOLAS: Saiba como mudanças geopolíticas criam oportunidades e riscos nos mercados de commodities. Domine estratégias de proteção contra incertezas comerciais. Participe da formação executiva na EXAME Saint Paul.

Geopolítica e estratégia da UE

A proposta da Comissão Europeia também tem uma dimensão estratégica. Desde a reeleição de Trump e o aumento das tarifas sobre aliados históricos, Bruxelas busca diversificar seus parceiros comerciais.

O objetivo é reduzir a dependência tanto dos Estados Unidos quanto da China, especialmente em setores como minerais críticos para a transição energética, entre eles o lítio.

O Mercosul aparece como alternativa relevante. Para a Europa, representa acesso a alimentos, energia e matérias-primas, além de um mercado de mais de 260 milhões de consumidores.

Para o Brasil, é uma oportunidade de diversificar destinos de exportação e reduzir a vulnerabilidade às oscilações da política comercial americana.

Oportunidades e limites

O acordo tem potencial para ampliar o acesso brasileiro ao mercado europeu em carnes, soja, açúcar, café e biocombustíveis. Também pode abrir espaço para a indústria, com redução de tarifas sobre derivados de aço e alumínio.

Mas os ganhos não serão automáticos. A experiência mostra que barreiras não tarifárias, como ambientais, sanitárias e regulatórias, tendem a ser usadas para restringir importações mesmo após a abertura formal.

França e Polônia já defendem salvaguardas agrícolas. Grupos ambientais europeus classificam o acordo como “destruidor do clima” e devem pressionar o Parlamento contra a ratificação.

Para o Brasil, isso significa que não basta ser competitivo em preço e volume. A entrada plena dependerá de comprovar sustentabilidade, rastreabilidade e padrões de produção. O futuro das exportações brasileiras para a UE estará condicionado à capacidade de conciliar escala e credibilidade ambiental.

Formação no Mercado de Derivativos Agrícolas

A EXAME Saint Paul se uniu à B3 Educação, o braço de educação da Bolsa de Valores do Brasil para desenvolver o curso de educação executiva Formação no Mercado de Derivativos Agrícolas

  • Desenhado para profissionais do mercado financeiro e do agronegócio que desejam aprofundar seus conhecimentos em Derivativos Agrícolas
  • Carga horária de 15h: aulas 100% online e ao vivo 
  • Aulas começam em novembro e oferecem certificado 
Acompanhe tudo sobre:Branded MarketingEducação executivaFormação no Mercado de Derivativos Agrícolas

Mais de Invest

Dólar fecha semana a R$ 5,41 com resultado fraco de emprego nos EUA

Com payroll bem abaixo do esperado, Ibovespa fecha na máxima histórica

Cade aprova fusão entre BRF (BRFS3) e Marfrig (MRFG3) sem restrições

PIS/Pasep: mais de 740 mil ainda não sacaram o abono salarial; veja até quando retirar