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Adriano Pires: Tarifaço não impacta a Petrobras; instabilidade que Trump traz ao mercado, sim

Petrolífera tem condições de encontrar mercados alternativos à produção; o problema é o preço do barril petróleo, impactado pela guerra tarifária

Adriano Pires: um dos maiores especialistas em óleo e gás do país

Adriano Pires: um dos maiores especialistas em óleo e gás do país

Juliana Alves
Juliana Alves

Repórter de mercados

Publicado em 10 de julho de 2025 às 14h32.

As exportações de petróleo e derivados do Brasil para os Estados Unidos representaram 18,8% de tudo o que país vendeu aos americanos no ano passado, movimentando US$ 7,6 bilhões, de acordos com dados Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Mas não é por ter a maior participação no comércio exterior com os EUA que do setor de óleo e gás será o mais afetado pela tarifa adicional de 50% anunciada por Donald Trump. Os analistas do mercado ao dizer que os impactos serão mínimos e alguns apostam em isenção, como é o caso do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle de EXAME).

Considerado um dos maiores especialistas em energia do país, Adriano Pires engrossa o coro. Para ele, que quase assumiu a presidência da Petrobras (PETR3;PETR4), o impacto direto dessas tarifas sobre a companhia é mínimo. O que realmente afeta a afeta, segundo ele, é a instabilidade provocada pela política comercial de Trump.

Em entrevista à EXAME, Pires explicou que, apesar das exportações de petróleo para os EUA não serem insignificantes, elas não representam uma parcela expressiva do volume exportado pela Petrobras. No primeiro trimestre de 2025, apenas 4% do petróleo produzido pela petroleira foi destinado ao mercado americano. O principal destino das exportações de petróleo da Petrobras é a China, rival dos EUA na guerra comercial, com 36% das vendas externas.

Além disso, a companhia pode redirecionar suas exportações para outros mercados, minimizando o impacto das tarifas. “No limite, isso não quer dizer que a produção inicial vá absorver a tarifação. Ela pode desviar essa produção para outros compradores, talvez em condições comerciais menos favoráveis, mas ainda assim será possível ajustar a oferta”, afirmou Vitor Souza, analista de petróleo da Genial Investimentos.

"O Brasil tem a capacidade de redirecionar os barris atualmente exportados para os EUA para refinarias na Ásia (China, Índia), Europa ou no Oriente Médio, que demandam petróleo leve e de baixo teor de enxofre, como o produzido nos campos do pré-sal brasileiro", afirma relatório do BTG Pactual. Para o banco, as tarifas extras podem gerar ruídos de curto prazo nos fluxos comerciais, impactando margens de contratos, mas não representa um risco estrutural à produção brasileira.

A Petrobras, por meio de uma nota enviada à EXAME, afirmou que está avaliando o impacto das tarifas sobre o mercado de petróleo e seus derivados. "A companhia segue atenta aos movimentos de mercado e mantém sua estratégia de buscar sempre a melhor alternativa para a empresa em qualquer cenário. O posicionamento comercial e a atuação global da Petrobras permitem monitorar permanentemente os movimentos do mercado internacional e observar as opções mais econômicas", declarou a empresa.

Ao sabor do petróleo

Adriano Pires observa que as ações da Petrobras tem reagido muito mais às oscilações no preço do petróleo. A produção global da matéria-prima está avançando e a demanda não acompanha - e aí entra uma instabilidade de mercado provocada, segundo Pires, pelas tarifas de Trump. “A política comercial de Donald Trump está acentuando a instabilidade no mercado, o que resulta no baixo crescimento econômico e na queda das exportações. Neste cenário, a diminuição da demanda de petróleo reflete no preço”, explicou Pires.

Se o "tarifaço" se concretizar e o Brasil decidir retaliar,  também haveria implicações sobre o que país importa dos Estados Unidos. No caso da Petrobras, derivados de petróleo, gás natural e produtos petroquímicas. Uma outra empresa, da qual a estatal é sócia, poderia se beneficiar nesse cenário: a Braskem (BRKM5), com "ganho de market share no mercado doméstico de resinas plásticas", escreveram os analistas da XP.

O problema é que o setor petroquímico tem um déficit comercial com os Estados Unidos, situação desfavorável em meio a um tarifaço.

Combustível mais caro?

Uma possível retaliação do governo brasileiro também tem potencial para afetar a importação de combustíveis, como o diesel, avalia o BTG. Os Estados Unidos são um dos principais fornecedores de produtos refinados leves para o Brasil.

"A imposição de tarifas retaliatórias poderia aumentar os custos de importação, reduzir a competitividade de players locais e forçar uma busca por mercados alternativos, como Europa e Índia, onde os custos de logística operacional e os riscos de sanções [comerciais] são mais altos", explicam os analistas do banco. Assim sendo, poderia haver pressão inflacionária no mercado doméstico de combustível, já que o Brasil já opera num déficit de produtos refinados.

Uma "júnior oil" na mira do tarifaço

Na carteira do Bradesco BBI, a petrolífera com maior exposição ao mercado americano é uma junior oil. PRIO (PRIO3) tem cerca de 13% de suas receitas provenientes desse mercado, observam os analistas da casa. Mas, para eles, não está claro se o setor ficará isento dessa tributação. De qualquer forma, o BBI também vê possibilidade de redirecionamento das exportações para outros mercados, "possivelmente com um desconto adicional no preço".

Para o BBI, os riscos de uma guerra comercial com os EUA estão no macro: a possibilidade de um cenário inflacionário mais elevado, com reflexos sobre a curva de juros. "Nesse contexto, empresas com alta exposição ao CDI brasileiro —como Cosan e Vibra —também poderiam ser negativamente impactadas", diz o relatório

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