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Além da Azul: Relembre as recuperações judiciais da Gol e da Latam

A Azul era a única entre as grandes companhias aéreas brasileiras que ainda não havia solicitado recuperação judicial nos Estados Unidos pelo Chapter 11

Chapter 11 como caminho para reestruturar seus passivos fora do Brasil (NurPhoto / Contributor/Getty Images)

Chapter 11 como caminho para reestruturar seus passivos fora do Brasil (NurPhoto / Contributor/Getty Images)

Juliana Alves
Juliana Alves

Repórter de mercados

Publicado em 28 de maio de 2025 às 15h40.

Última atualização em 28 de maio de 2025 às 17h38.

A Azul (AZUL4) anunciou nesta quarta-feira, 28, que entrou com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos, sob o Chapter 11, da Lei de Falências norte-americana. O plano de reestruturação da companhia prevê um financiamento inicial de US$ 1,6 bilhão, além da possibilidade de levantar até US$ 950 milhões em novos aportes de capital durante o processo.

A ferramenta jurídica permite que empresas reorganizem suas dívidas com proteção contra credores enquanto seguem operando normalmente.

A Azul era a única entre as grandes companhias aéreas brasileiras que ainda não havia solicitado recuperação judicial nos Estados Unidos pelo Chapter 11 desde o estouro da pandemia de Covid.

Recuperação judicial nos EUA: O que é o Chapter 11 e por que as aéreas brasileiras recorrem a ele

A estratégia já foi adotada por outras companhias aéreas brasileiras: a Gol, em 2024, e a Latam, em 2020, também optaram por esse caminho para reestruturar seus passivos fora do Brasil.

O setor nunca se recuperou completamente da paralisação da economia e dos voos durante a covid. Desde a época da pandemia, o segmento vem passando por uma falta estrutural de aviões e peças da manutenção, sobretudo motores -- o que se somou ao aumento do dólar e a disparada de taxas de juros no Brasil.

Relembre os casos:

Caso GOL

A Gol Linhas Aéreas também já passou pelo processo de recuperação judicial via Chapter 11 nos Estados Unidos. A companhia entrou com pedido em janeiro de 2024, com dívida bruta de R$ 23,7 bilhões, tendo seu plano aprovado pela Justiça em maio de 2025.

Durante a reestruturação, a Gol conseguiu captar cerca de US$ 1,9 bilhão, valor que foi utilizado para quitar o processo, diminuir substancialmente seu endividamento e reforçar sua saúde financeira e operacional. O processo envolveu negociações complexas com arrendadores, bancos brasileiros e fornecedores, além da implementação de medidas estratégicas para aumentar a competitividade da companhia aérea no mercado.

A empresa também obteve redução de aproximadamente US$ 1,6 bilhão em dívidas financeiras e US$ 800 milhões em outras obrigações, por meio de acordos com credores e conversões em capital.

A companhia também firmou acordos com o governo brasileiro para reduzir impostos governamentais não pagos, contingências e outros passivos em aproximadamente US$ 750 milhões e gerar aproximadamente US$ 184 milhões de liquidez até 2029.

Um marco relevante do processo da GOL foi a negociação de pacotes de concessões no valor total de US$ 1,1 bilhão com arrendadores cobrindo todas as aeronaves da frota da companhia, incluindo suporte financeiro para eliminar seu backlog de manutenção.

No primeiro trimestre de 2025, a companhia aérea registrou uma dívida bruta total de R$ 33,2 bilhões, representando um aumento de 40% em relação ao mesmo período de 2024.

Esse crescimento foi impulsionado principalmente pela desvalorização cambial e pelo saldo remanescente do financiamento DIP Loan (Debtor-in-Possession Loan), captado durante o processo de reestruturação sob o Chapter 11 nos Estados Unidos.

A composição dessa dívida inclui aproximadamente R$ 22 bilhões em empréstimos e financiamentos, dos quais R$ 5,1 bilhões referem-se ao DIP Loan, e cerca de R$ 11,3 bilhões em passivos de arrendamentos de aeronaves.

A expectativa é que a GOL saia do Chapter 11 em junho de 2025, com uma posição de liquidez de US$ 900 milhões, alavancagem reduzida, 5,4 vezes no momento da saída, e meta de alcançar alavancagem líquida de 2,9 vezes até o fim de 2027.

Caso Latam

No começo da pandemia, em maio de 2020, a Latam entrou com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos. O pedido foi feito para ter acesso a “novas fontes de liquidez”, uma vez que a dívida pode ficar mais segura a novos credores, enquanto negocia com o BNDES um pacote de ajuda.

Antes, a Latam Airlines já havia pedido nos EUA recuperação judicial para suas afiliadas no próprio país e no Chile, na Colômbia, no Peru e no Equador e tinha encerrado as operações na Argentina.

As dívidas totais do Grupo Latam eram de US$ 17,96 bilhões, só a unidade brasileira, LATAM Brasil, era responsável por cerca de 12% desse montante, equivalente a US$ 2,15 bilhões.

Para sair da recuperação judicial, que durou dois anos, a companhia aérea emitiu US$ 1,15 bilhões em títulos, parte com vencimento em cinco anos e parte em sete anos. Também conseguiu um financiamento de US$ 1,1 bilhão por cinco anos e uma linha de crédito rotativa de US$ 500 milhões.

A Latam também lançou uma oferta de títulos de dívida com garantia no mercado internacional no valor de US$ 1,4 bilhão, num movimento de melhora do perfil de dívida justamente quando as concorrentes tentam reorganizar a casa.

Após um processo de reestruturação, a companhia reduziu sua dívida em cerca de US$ 3,6 bilhões, o que representa uma diminuição de 35% em relação ao período anterior ao processo.

Os dados do primeiro trimestre de 2025 demonstram uma reviravolta da companhia. A Latam registrou um lucro líquido de US$ 355 milhões, um aumento de 37,6% em comparação ao mesmo período do ano anterior.

Além disso, a empresa projeta um crescimento operacional e financeiro contínuo para o ano, com expectativa de geração de fluxo de caixa alavancado superior a US$ 1 bilhão, impulsionado pelas economias de juros obtidas com o refinanciamento da dívida.

Hoje a dívida líquida é de US$ 7,09 bilhões, uma redução de 60% em comparação com 2020, ano que entrou com o pedido de recuperação.

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