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Alívio para Embraer e Suzano, pressão para WEG: o saldo do 'tarifaço light' de Trump na bolsa

Presidente dos Estados Unidos assinou uma ordem executiva que oficializa tarifas extras de 40% para os produtos brasileiros – mas há lista de isenções

Tarifas: produtos da Embraer e de Suzano ficaram em lista de isenções (Leandro Fonseca/Exame)

Tarifas: produtos da Embraer e de Suzano ficaram em lista de isenções (Leandro Fonseca/Exame)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 31 de julho de 2025 às 12h04.

Última atualização em 31 de julho de 2025 às 12h50.

O esperado tarifaço de Donald Trump bem mais light do que o mercado esperava, com uma lista de mais de 700 exceções, que pagarão apenas a alíquota mínima de 10% e não os 40% extras. O resultado foi um alívio para algumas empresas da bolsa – e preocupação redobrada para outras.

Entre os destaques positivos está a Embraer (EMBR3), favorecida pela isenção sobre aeronaves civis e seus componentes. Na ponta oposta, WEG (WEGE3) deve sentir os efeitos das tarifas de forma mais intensa.

Alívio para a Embraer...

A fabricante de aeronaves foi poupada da tarifa cheia, o que evitou um baque significativo no faturamento. Os jatos E1 e E2 estão enquadrados em códigos tarifários incluídos explicitamente na lista de isenções. Peças e componentes exportados pela empresa para suas unidades nos EUA — como os da família Phenom e Praetor — também devem ficar de fora das tarifas.

Com isso, o Itaú BBA voltou a reforçar a ação como top pick, agora que o risco tarifário foi superado. Mesmo com a alta recente de 10%, os papéis seguem negociando 10% abaixo dos níveis anteriores ao anúncio inicial das tarifas, em 3 de julho. O banco estima ainda um segundo trimestre forte e vê na retomada do múltiplo EV/backlog aos níveis históricos um potencial de valorização adicional de 23%.

As ações da fabricante de aeronaves fecharam ontem em alta 10,93% e hoje estão novamente na maior alta do Ibovespa, com avanço de 6%, praticamente recuperando toda a queda registrada desde 9 de julho, quando o presidente americano começou a fazer a ameaça das tarifas.

... e para a Suzano

Outro nome que escapou ileso foi a Suzano (SUZB3). A celulose de fibra curta, principal produto da companhia, ficou fora da lista dos bens atingidos pela tarifa máxima. “É um alívio importante”, escrevem Leonardo Correa e Marcelo Arazi, do BTG Pactual, destacando que a empresa poderá manter os volumes destinados aos EUA sem precisar redirecionar embarques em um cenário global já desafiador para a demanda.

Os analistas lembram que os EUA são altamente dependentes da celulose brasileira: mais de 80% das 2,8 milhões de toneladas importadas por ano vêm do Brasil. Uma tarifa de 50% seria difícil de absorver — tanto para o mercado americano quanto para o global. Com a exclusão da tarifa, o BTG reitera recomendação de compra para Suzano, com preço-alvo de R$ 73 (e US$ 13,10 para as ADRs), upside de cerca de 40%.

Ainda assim, os desafios estruturais da celulose permanecem: os preços seguem pressionados e há risco de paralisações na produção europeia. Mas a posição competitiva da Suzano, com baixo custo e valuation atrativo (EV/EBITDA 2025 abaixo de 6x), sustenta a tese de longo prazo. Depois de começarem o dia em leve alta, os papéis negociavam próximos da estabilidade, num dia mais pressionado para o Ibovespa.

Pressão sobre a WEG

Já no caso da WEG (WEGE3), o cenário é bem menos favorável. Os motores de baixa tensão, principais produtos exportados aos EUA, não foram incluídos na lista de isenções e passarão a pagar a tarifa cheia de 50%. Segundo a XP, ainda que haja códigos isentos para aplicações em aviação civil, eles não se aplicam à maioria das exportações da companhia.

O problema não para aí: o cobre, que representa entre 10% e 15% do custo de materiais da WEG, também será tarifado em 50%. Segundo o BTG, o impacto combinado das medidas pode alcançar R$ 2,3 bilhões — cerca de 25% do EBITDA estimado para 2025.

A empresa avalia medidas para mitigar os efeitos, como exportar via México e Índia ou usar fábricas mais próximas do mercado americano. Mas as soluções exigem tempo, investimentos logísticos e não eliminam o risco de perda de mercado para concorrentes com produção local, como a suíça ABB.

Com a incerteza no radar, a avaliação do BTG é de que o curto prazo seguirá fraco para a companhia. "Clientes estão adiando pedidos à espera de uma definição sobre o ambiente tarifário", diz o analista Lucas Marquiori. Os papéis respondem de acordo: as ações caíam mais de 2% por volta das 12h.

Impacto limitado nas exportações agrícolas

No setor agroindustrial, o impacto é mais restrito — mas não desprezível. Os produtos brasileiros mais afetados incluem carne bovina, açúcar orgânico, etanol e café, que ficaram fora da lista de isenções.

Apesar disso, os analistas do BTG apontam que a exposição do Brasil ao mercado americano nesses itens ainda é limitada. No caso dos frigoríficos, a mais exposta é a  Minerva, que tem 5% da receita vindo de exportação aos EUA. Mas a empresa pode compensar parte das perdas redirecionando unidades de outros países.

Para a Jalles Machado (JALL3), que destina metade das exportações de açúcar orgânico aos EUA (5% da receita total), o impacto pode ser mais direto. Se não conseguir repassar o custo, o efeito no EBITDA pode chegar a 3% em 2026.

No etanol, a tarifa subirá de 12% para 50%. Mas como apenas 16% das exportações vão para os EUA — e por serem usadas em mandatos de mistura — o custo tende a ser absorvido pelo consumidor americano.

O maior risco pode vir do café, cujo principal destino é o mercado americano. Uma parte dos embarques pode ser redirecionada ao mercado interno, o que teria efeito sobre os preços domésticos. A Camil (CAML3) seria afetada, mas o BTG não vê impacto relevante sobre as margens da companhia.

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