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Alta na Selic abre espaço para queda adicional do dólar; UBS vê moeda a R$ 5,20

Aposta na valorização da moeda brasileira é a favorita da casa entre ativos na América Latina

Banco Central: para o UBS BB, embora parte do mercado já precificasse a chance de alta, a postura firme da autoridade monetária pode pressionar as taxas de curto prazo e achatar a curva entre os vértices de janeiro de 2026 e janeiro de 2027. (Leandro Fonseca/Exame)

Banco Central: para o UBS BB, embora parte do mercado já precificasse a chance de alta, a postura firme da autoridade monetária pode pressionar as taxas de curto prazo e achatar a curva entre os vértices de janeiro de 2026 e janeiro de 2027. (Leandro Fonseca/Exame)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 19 de junho de 2025 às 15h51.

O Banco Central surpreendeu parte do mercado ao elevar a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 15% ao ano, encerrando o ciclo de aperto monetário que teve início em setembro do ano passado.

Embora a decisão tenha vindo contra as expectativas de cerca de 60% dos analistas consultados pela imprensa, ela reforçou o compromisso do Copom com o controle da inflação — e abriu espaço, segundo o UBS, para uma nova rodada de valorização do real.

Em relatório distribuído após a decisão da quarta-feira, 18, o UBS BB afirmou que a manutenção da Selic nesse nível elevado por um “período muito prolongado”, como indicado pelo Copom, tende a sustentar o diferencial de juros do Brasil frente a seus pares e manter o real como a moeda preferida entre os emergentes latino-americanos.

“Mesmo com a recente valorização, o real ainda parece barato. Estimamos que o valor justo da moeda esteja próximo de R$ 5,20”, escreveram os estrategistas do banco, que seguem recomendando posições compradas na moeda brasileira contra os pesos mexicano ou colombiano na América Latina para capturar esse potencial.

O dólar fechou a quarta-feira a R$ 5,50, nas mínimas do ano e o menor patamar desde setembro.

Além da atratividade do real, o UBS destaca o “carry” excepcionalmente alto da moeda brasileira como fator de sustentação. Em outras palavras, o juro real de aproximadamente 10% ao ano segue muito acima do que o próprio BC considera uma taxa neutra — de 5% — e oferece retorno elevado a investidores estrangeiros que aplicam recursos no Brasil.

Sinal claro de estabilidade

O tom da comunicação do Copom, na avaliação tanto do UBS quanto do BofA, indica que o Banco Central pretende manter os juros em 15% por um período extenso, frustrando a expectativa anterior de cortes já em dezembro ou janeiro.

O UBS chamou atenção para a inclusão da palavra “muito” no trecho em que o BC fala sobre a manutenção da Selic por um período prolongado — uma mudança sutil, mas significativa na sinalização da autoridade monetária.

A interpretação do banco é que o primeiro corte de juros só deve ocorrer em abril de 2026, com chance limitada de antecipação para março.

O BofA, por sua vez, vê espaço para um primeiro corte já em dezembro, mas também reconhece que o ciclo de afrouxamento será lento e dependente dos dados.

“A política monetária está suficientemente apertada, e os dados não justificam novos aumentos”, escreveram os analistas do BofA. Para o banco americano, a Selic deve encerrar 2025 em 14,5% e cair para 11,25% até o fim de 2026.

Implicações para os ativos

A decisão do Copom tem implicações importantes para os mercados de juros e câmbio. O UBS aponta que, embora parte do mercado já precificasse a chance de alta, a postura firme do BC pode pressionar as taxas de curto prazo e achatar a curva entre os vértices de janeiro de 2026 e janeiro de 2027.

Ao mesmo tempo, ao adiar o início dos cortes, o BC abre espaço para uma trajetória mais acelerada de redução dos juros no médio prazo — o que beneficiaria os vértices mais longos da curva.

Em resumo, mesmo com o real já entre as moedas de melhor desempenho do ano, os estrategistas seguem vendo espaço para ganhos adicionais, ancorados por fundamentos e agora também por uma sinalização mais clara de estabilidade monetária.

Inflação no radar

Apesar da apreciação cambial recente e da queda nos preços de commodities agrícolas, o Banco Central manteve sua projeção de inflação para o quarto trimestre de 2026 em 3,6% — acima da meta de 3%, mas abaixo do consenso de mercado (4,5%).

A alta recente do petróleo compensou o efeito desinflacionário do câmbio mais forte, segundo o BofA.

O Copom também voltou a mencionar os riscos geopolíticos, especialmente no Oriente Médio, mas reiterou que choques de oferta não alteram a direção da política monetária, ainda ancorada no horizonte relevante de política.

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