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As debêntures mais compradas por gestores profissionais: vale a pena investir?

Levantamento mostra os 10 títulos de dívida mais populares na carteira dos fundos, em volume financeiro e quantidade adquirida

Debêntures: Setores como telecom, energia elétrica e serviços financeiros se destacam (beast01/Getty Images)

Debêntures: Setores como telecom, energia elétrica e serviços financeiros se destacam (beast01/Getty Images)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 23 de agosto de 2025 às 07h54.

Num ano em que o crédito privado está brilhando os olhos dos gestores, um ativo se destaca entre os investimentos: as debêntures, tanto tradicionais como incentivadas. Somadas, as empresas emitiram R$ 192,7 bilhões no primeiro semestre de 2025, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Com a Selic em 15% e uma busca maior por diversificação, abriu-se uma janela favorável para o crédito privado. “As debêntures oferecem prêmios relevantes sobre a taxa DI, muitas vezes também indexados ao IPCA, funcionando como proteção contra inflação”, explica Gabriel Santos, especialista em crédito da Bloxs.

Há também uma tendência estrutural em curso: investidores institucionais vêm se tornando mais sofisticados e abertos a assumir risco corporativo em busca de spreads maiores, diz Santos. Esse movimento reflete, de um lado, a necessidade das companhias de captar fora do sistema bancário e, de outro, a demanda crescente dos fundos por ativos mais rentáveis em meio ao processo de normalização da Selic.

As debêntures incentivadas avançaram 5,3%, totalizarando R$ 74,5 bilhões, o maior patamar de captação semestral já registrado. No mercado secundário, o volume negociado de debêntures com e sem benefício fiscal cresceu 22,6% e atingiu o valor recorde de R$ 410,1 bilhões.

Debêntures mais compradas por fundos

Um estudo da Quantum Finance mostrou o ranking dos papéis de dívidas mais adquiridos por fundos até 30 de abril (dados mais recentes). Em primeiro lugar, considerando o volume aportado está a B3, com um valor investido de R$ 4,714 bilhões, seguida por Cielo, com R$ 4,642 bilhões e, completando o top 3, Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, com R$ 4,106 bilhões.


A companhia de telecomunicações Tim é a primeira na quantidade de fundos compradores, com 672. Em seguida, aparece Eletrobras (564) e, em terceiro lugar, Arteris Intervias, com 547 fundos.


No mercado de crédito privado, setores como telecomunicações, serviços financeiros e energia se destacam pela atratividade junto aos investidores. “Quando você compra crédito privado, você está comprando dívida de empresas e minimamente você precisa ter na carteira empresas que tenham alta previsibilidade na sua capacidade de geração de caixa e recorrência nas suas atividades”, afirma Marcos Moreira, sócio da WMS Capital.

Em telecom, companhias como a Tim contam com receitas recorrentes, base de clientes resiliente e elevado Capex, o que as leva a buscar financiamento constante no mercado. Já em serviços financeiros, nomes como Cielo e B3 se beneficiam da digitalização e da expansão da intermediação, somados a balanços sólidos que transmitem maior segurança.

No setor elétrico, empresas como Chesf, Eletrobras e Comerc oferecem previsibilidade de caixa por meio de contratos de longo prazo, sustentados por concessões e PPAs (Contrato de Compra e Venda de Energia). “Na prática, são setores vistos como defensivos e estratégicos, com risco de crédito relativamente baixo, mas que ainda carregam prêmios interessantes”, diz Santos.

Vale a pena investir?

Em relação à taxa de juros entre as maiores emissoras de debêntures, elas variaram, no estudo, de DI + 0,54% até DI + 2,3%. As indexadas à inflação chegaram a pagar IPCA + 8,2%. Mas, será que vale a pena investir?

Se você é uma pessoa física, segundo Aline Soaper, educadora financeira, é possível investir em uma debênture de forma direta, comprando o título da empresa no aplicativo da corretora, ou também comprar via fundos. “No fundo, tem um especialista, gestor escolhendo as melhores ofertas e você compra essa seleção de títulos escolhidos pelo gestor”, afirma.

Mas nem toda debênture pode ser comprada por uma pessoa física. Existem ofertas que são abertas a qualquer investidor, mas algumas são ofertadas apenas para investidores “profissionais/qualificados” (pedem comprovação de patrimônio/certificações).

“Para quem não é investidor profissional ou qualificado é mais seguro investir com fundo, porque dilui o risco em várias empresas. Mas não é 100% seguro no sentido de ter garantia de lucro. Existe o risco de crédito (a empresa pode atrasar) e de oscilação de preço. Se você quer simplicidade e diversificação, fundo. Se quer escolher a empresa e aceitar a oscilação, direto”, afirma Soaper.

Ela também cita que existem as debêntures comuns, que pagam Imposto de Renda (IR), e as incentivadas (muitas vezes isentas de IR para pessoa física). “Também é um investimento com prazo estipulado, precisa aguardar o vencimento. Para curto prazo, reserva de emergência, CDB, Tesouro Selic ou caixinhas dos Bancos são melhores opções”, diz.

O futuro das debêntures

Com a já precificada queda da Selic e a possibilidade do fim da isenção do Imposto de Renda (IR) para debêntures incentivadas, o cenário pode mudar. Para Moreira, poderemos ver, sim, uma queda no fluxo de demanda por esses papéis, visto que esse incentivo deixará de acontecer — apesar de ainda terem alíquotas menores que outros investimentos.

“Somado a isso, com a queda da Selic, os investidores passam eventualmente a buscar melhores alternativas ou ativos que eventualmente possam pagar um prêmio de risco maior. No entanto, que isso pode trazer uma retomada na abertura dos spreads de crédito”, diz o executivo, citando que os prêmios estão amassados devido à alta demanda por esses papéis.

Por conta disso, esse aumento de taxa de retorno pode continuar impulsionando o setor: por exemplo, um ativo que paga 7% acima da inflação, com uma tributação de 5%, esse ativo deveria agora pagar mais para compensar essa nova alíquota de imposto. “Isso não diminuiria a atividade sob a ótica do investidor, mas aumentaria o custo de crédito sob a ótica dos emissores desses ativos de crédito privado.”

Segundo Santos, o futuro das debêntures no Brasil segue promissor, com o instrumento se consolidando como um canal relevante de funding para empresas, em substituição gradual ao crédito bancário. A tendência é de maior sofisticação e segmentação do mercado, com investidores direcionando recursos para emissores de melhor rating ou projetos específicos, como infraestrutura, verdes e ESG. Além disso, o avanço da tokenização e da negociação digital deve ampliar a base de investidores e trazer mais liquidez a esse mercado.

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