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As maiores ilusões de Wall Street em 2025: da força do dólar à queda nas bolsas da Ásia

Traders iniciaram o ano apostando na supremacia do mercado americano — que enfraqueceu após políticas tarifárias de Trump e escalada de conflitos geopolíticos

Estela Marconi
Estela Marconi

Freelancer

Publicado em 30 de junho de 2025 às 06h22.

Última atualização em 30 de junho de 2025 às 11h33.

Todos os anos, analistas de Wall Street traçam previsões sobre o rumo dos mercados nos meses seguinte. Entretanto, com o fechamento do primeiro semestre de 2025, já é possível perceber alguns erros e tendências nas apostas. 

Políticas tarifárias do presidente Donald Trump e conflitos geopolíticos foram contra diversas projeções, como apostas na força e supremacia dos ativos norte-americanos — que sofreram quedas expressivas e ajudaram a alavancar outros mercados e moedas ao redor do mundo.

A Bloomberg levantou os principais erros dos analistas desde o começo do ano. Confira abaixo:

A queda do dólar 

O dólar, até então símbolo do poder americano, vive seu pior início de ano desde 2005. O índice da Bloomberg, que mede a força da moeda, já acumula grandes quedas, contrariando apostas de bancos como Societe Generale, Morgan Stanley e JPMorgan, que só esperavam um recuo gradual no futuro. Agora, estrategistas do JPMorgan, liderados por Meera Chandan, veem fragilidades estruturais na moeda e projetam uma queda adicional de 2% até o fim do ano.

As tarifas americanas anunciadas em abril, batizadas de “Dia da Libertação”, foram tão severas que aumentaram temores de recessão nos EUA e levantaram suspeitas de que Trump buscava enfraquecer o dólar para favorecer a indústria doméstica.

A Bloomberg destacou que a estratégia pode ser considerada arriscada, levando em conta que um dólar fraco reduz o retorno dos investidores estrangeiros que financiam a dívida americana.

Nas bolsas, o ano também começou com otimismo em relação às ações americanas, impulsionadas pela economia contundente e avanço da inteligência artificial. Já em janeiro, o surgimento da chinesa DeepSeek e o medo de recessão com as tarifas de Trump, em abril, derrubaram as apostas.

O Nasdaq 100 perdeu quase US$ 7 trilhões em valor entre fevereiro e abril, enquanto pesquisa do Bank of America mostrou a maior queda histórica na exposição a ações dos EUA em março.

Em abril, poucos analistas se mantiveram otimistas até Trump suspender parte das tarifas, provocando forte retomada no mercado. O S&P 500 bateu recorde, com dados apontando continuidade do crescimento econômico e empresas de tecnologia voltando ao foco. “Continuo tão otimista quanto sempre estive em relação às ações dos EUA. Elas ainda oferecem a melhor história de lucros, com crescimento rápido e previsível”, disse Marija Veitmane, estrategista da State Street Global Markets, à Bloomberg.

O mercado de renda fixa, por sua vez, foi salvo por operações em títulos de curto prazo, beneficiados por cortes de juros com a inflação em queda. Já papéis de longo prazo sofreram pressão diante do aumento da dívida pública americana e dos gastos do governo. Pimco, Allspring Global Investments e BlackRock acertaram ao reduzir exposição aos Treasuries mais longos.

O crescimento das moedas asiáticas

No mercado cambial asiático, a aposta de que o Banco do Japão elevaria juros enquanto outros países cortavam foi certeira. O iene subiu quase 9% contra o dólar, chegando a 145, reforçado em abril pela busca por ativos seguros. Mark Nash, da Jupiter Asset Management, espera que a moeda atinja 120 por dólar até dezembro, alta de cerca de 17% sobre o nível atual.

Já na China, tarifas dos EUA eram vistas como ameaça ao yuan, mas o dólar fraco também mudou o cenário. O yuan acumula alta de 1,8% no ano, chegando a 7,1565 por dólar, o maior nível em sete meses, após o Banco Popular da China fortalecer a taxa de referência.

Mesmo assim, de acordo com informações da Bloomberg, o Barclays prevê desvalorização para 7,20 até o fim do ano e para 7,25 até março de 2026, apontando necessidade de estímulos fiscais e monetários diante das dificuldades da economia chinesa. 

Aposta em títulos europeus e países emergentes

A Europa surpreendeu ao se tornar destaque global no mercado. O índice Stoxx 600 acumula desempenho 16 pontos percentuais melhor que o S&P 500 em termos de dólar - maior vantagem desde 2006. O euro bateu US$ 1,17, contrariando previsões no início do ano. Segundo Peter Oppenheimer, do Goldman Sachs, tarifas agressivas provavelmente não serão totalmente implementadas. Beata Manthey, do Citigroup, foi uma das poucas a apostar nas ações europeias, segundo a reportagem.

Nos mercados emergentes, as ações acumularam US$ 1,8 trilhão em valor, atingindo US$ 29 trilhões, primeira vez que superam o desempenho americano em oito anos. O impulso vem de empresas de IA na Ásia e de moedas mais fortes contra o dólar. “As tensões geopolíticas não conseguiram interromper esse rali”, disse Bernd Berg, da InTouch Capital Markets.

Na Turquia, a lira despencou a mínima histórica em março após o presidente Recep Tayyip Erdogan prender seu principal rival político, assustando investidores que aplicavam em ativos locais de alto rendimento. Apesar de o temor de mudanças radicais na política econômica não ter se confirmado, fundos como a Pimco reduziram exposição a títulos turcos.

Já o fracasso de Trump em intermediar a paz entre Rússia e Ucrânia, segundo a Bloomberg, derrubou o preço dos títulos ucranianos, que antes eram apostas de investidores perante um cessar-fogo. Os warrants ucranianos, que têm pagamentos vinculados ao crescimento econômico, caíram após o governo dar calote em uma parcela da dívida.

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