Dólar: divisa atingiu o menor patamar em 14 meses frente ao real (PM Images/Getty Images)
Repórter de finanças
Publicado em 13 de agosto de 2025 às 14h35.
Última atualização em 13 de agosto de 2025 às 15h28.
As projeções de dólar acima dos R$ 6 em 2025 não se concretizaram. Muito pelo contrário. Num ano em que Donald Trump chacoalhou as bases da economia mundial com seu tarifaço, a divisa americana atingiu o menor patamar em 14 meses, a R$ 5,385. Diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos, rendimentos menores na economia americana e expectativa de corte de taxas pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano) são alguns dos fatores que explicam a queda na moeda.
Não só no Brasil, como no mundo: o índice do dólar, DXY, que mede a moeda em relação a uma cesta de moedas semelhantes, caiu 0,43% nesta terça-feira, 12, para 98,10, seu menor nível desde 25 de julho. É tudo um efeito em cadeia.
Com os fed funds na faixa entre 4,25% e 4,50% nos EUA e a Selic em 15%, o diferencial de juros é um dos principais motivos que explicam a queda do dólar esse ano e a apreciação do real. Grosso modo: tanto menores os juros por lá e maiores os juros por aqui, mais faz sentido colocar o dinheiro para render no Brasil, apesar dos riscos. Isso valoriza nossa moeda.
Os últimos dados sobre inflação e empregos aumentaram a expectativa de corte de juros nos Estados Unidos em setembro – a plataforma FedWatch já precifica quase 100% de chances. Agora o mercado também visualiza chances de dois a três cortes. Antes, vislumbravam apenas de um a dois.
A discussão de corte de juros é uma das principais pautas do governo americano. Recentemente, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, pediu uma "série de cortes nas taxas" e disse que o Fed poderia dar início à flexibilização da taxa básica de juros com um corte de 0,50 ponto percentual (p.p.).
Donald Trump, presidente dos EUA, também vem criticando repetidamente o presidente do Fed, Jerome Powell, por não aliviar as taxas antes, inclusive chamando-o de “idiota teimoso” “estúpido” e “atrasado”.
“Trump já falou que queria enfraquecer o dólar. Um dólar mais forte acaba diminuindo a competitividade dos produtos americanos com outros países. Nesse sentido, ele gosta de um dólar mais fraco. Mas em nenhum momento, ele disse que quer que deixe de ser a moeda de referência”, afirmou Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad.
A chegada de Trump à Casa Branca e, consequentemente, suas políticas anti-imigração e o tarifaço, ocasionaram uma saída de capital dos EUA para o restante do mundo, incluindo mercados emergentes.
“Tem a ver com os yields americanos: yields maiores geram uma atratividade para investidores estacionarem o dinheiro nos EUA. Quando o yield sobe, tente a favorecer o dólar, quando recua, o índice dólar sofre”, explica William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue. E, neste momento, a curva dos yields de longo prazo arrefece, devido à expectativa de corte de juros por lá.
“O câmbio não vai voltar a ser R$ 6”, diz Andrea Bastos, economista-chefe da Buysidebrazil. Entretanto, questões fiscais no Brasil, déficit externo e correção no final do ano podem fazer com que a divisa se mantenha no mesmo patamar e não ceda mais, aponta.
“O patamar atual é sustentável, mas não vemos espaço para o dólar cair tão forte”, corrobora Zogbi, da Nomad.
Segundo ela, o fiscal brasileiro tem bastante espaço para ficar ainda mais apertado no médio e longo prazo. Como exemplo, a estrategista cita o tarifaço, que está motivando o governo a criar uma nova linha de crédito para resgatar as empresas dos setores que vão ser mais afetados. “O governo emprestando mais dinheiro, isso pode aumentar a dívida pública e voltar a pressionar o fiscal.”
“Além disso, mais para o fim do ano, tem uma sazonalidade de remoção dos riscos de parte dos portfólios, o que costuma fazer com que o dólar valorize frente ao real”, complementa Zogbi.
Também existe o déficit externo como fator de risco para o câmbio. Nos últimos anos, o Brasil mantinha um déficit externo próximo de 2% do PIB, coberto com folga pelo Investimento Estrangeiro Direto (IDE), considerado um fluxo estável e de longo prazo.
“Agora, vamos ter um déficit externo de 3,5% e um IED de 3,1%, vai ficar faltando dólar para completar o déficit externo, e isso joga a favor de ter mais saídas do fluxo cambial”, destaca Bastos.
Essa lacuna tende a pressionar o câmbio, já que o Banco Central pode ter de atuar no mercado à vista ou os bancos ajustarem preços para atrair capital de curto prazo, movimento que costuma elevar a cotação do dólar.
Outro ponto de grande incerteza são as eleições. Apesar de estarem “bastante disputadas e incertas, o mercado hoje não precifica mais quatro anos de um governo Lula e ele [o mercado] tem se mostrado otimista com a possibilidade de mudança”, comenta Alves, da Avenue.
Em outras palavras: a continuidade do governo pode pressionar o câmbio. Uma sinalização mais clara de mudança tende a ser percebida pelo mercado como uma redução do risco fiscal e, portanto, pode dar mais fôlego para a apreciação do real.