Banco do Brasil: pressão sobre rentabilidade pode impactar dividendos (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Repórter de negócios e finanças
Publicado em 14 de agosto de 2025 às 06h00.
O Banco do Brasil (BBAS3) vai divulgar seus resultados trimestrais nesta quinta-feira, 14, após o fechamento do pregão. As previsões para os números já não eram tão boas no início da temporada de balanços e pioraram ainda mais nas últimas semanas, após o Banco Central divulgar os dados mensais das instituições financeiras. O lucro líquido do BB em abril, de R$ 1,7 bilhão, já tinha deixado a desejar, mas a cifra de R$ 454 milhões de maio, a menor entre os "bancões", foi um gatilho para revisões nas prévias do balanço do segundo trimestre.
O BTG Pactual (BPAC11) (do mesmo grupo de controle de EXAME), por exemplo, reduziu em 23% a estimativa de lucro líquido da instituição financeira no período - e agora prevê que a linha final do balanço fique em R$ 5 bilhões. A cifra também fica R$ 1 bilhão abaixo do consenso do mercado antes dos dados mensais do BB se tornarem públicos. O índice que mede a rentabilidade do banco (ROE) também foi revisado para baixo, de 16,5% para 15%.
Os números do primeiro trimestre também já tinham vindo abaixo do esperado e agora a expectativa é a de que o banco revise o guidance formal para o ano. Os analistas do BTG calculam que o o resultado líquido do BB em 2025 fique em R$ 23,5 bilhões (20% menor que a previsão anterior). O JP Morgan também cortou estimativas, prevendo lucro anual de R$ 22,04 bilhões, 41% menor que o de 2024 - e ROE terminando o ciclo em 12,4%. Para 2026, o banco prevê alguma melhora para o indicador de rentabilidade, a 14,8% e lucro líquido de R$ 28,5 bilhões.
É uma projeção ainda otimista se comparada à visão de 33 investidores locais consultados pelo Safra esta semana. A vasta maioria (63%) projeta lucro líquido entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões no segundo trimestre de 2025 para o Banco do Brasil. Uma fatia de 18% dos participantes da rápida pesquisa apostam em um número ainda mais baixo, inferior aos R$ 3 bilhões.
"Embora [o dado mensal de lucro] possa ser usado como uma indicação preliminar dos lucros, não deve ser tratado como uma proxy perfeita para o lucro líquido final", observam os analistas da XP, que manteve previsão de lucro líquido de R$ 5,4 bilhões para o BB no segundo trimestre de 2025. "Em alguns trimestres, a diferença foi maior; mas, em média, desde 2024, temos observado desvios de cerca de 2% por trimestre no último ano, entre os dados do Banco Central e os números reportados pelo BB."
Não é de hoje que o mercado tem revisado os lucros do banco para baixo e o motivo das mudanças nas projeções é, principalmente, a inadimplência do agronegócio, que tem pressionado a rentabilidade. O declínio no preço das commodities, como a soja, aumentou o nível de endividamento dos produtores rurais e os atrasos nos pagamentos das dívidas. Os casos de recuperação judicial no setor explodiram. Isso, por si só, já fez o mercado esperar resultados mais fracos para o banco, altamente exposto ao agro. No entanto, a adesão a regras contábeis internacionais, que facilitam comparar números dos bancos brasileiros com as instituições listadas lá fora, pioraram o sentimento em relação ao BB.
É que os bancos passaram ao ter limitações em reconhecer juros vindos de operações de crédito em estágio 3, o maior grau de risco de inadimplência. Não se pode mais contabilizar essa receita pelo regime de competência, apenas pelo regime de caixa, ou seja, quando ela for efetivamente paga ao banco. Além disso, a norma amplia a necessidade de provisionamento em momentos de inadimplência elevada, como a que o agro vive no momento.
"A visibilidade permanece muito baixa, dado o grande volume de empréstimos do BB para o agronegócio com vencimento nos próximos meses, o que significa que os resultados podem variar significativamente, dependendo do desempenho desses pagamentos", escreveram os analistas do BTG.
No mercado, corre a tese de que o modelo de concessão de crédito agrícola, que funcionou por décadas, descolou da realidade atual. Os tomadores, hoje, tem outras maneiras se financiar, seja por fintechs, tradings, cooperativas e o próprio mercado de capitais. O problema é que o produtor rural dificilmente tem garantia a oferecer para todos os seus credores e o Banco do Brasil pode estar indo para o final dessa fila.
No buy side, a Legacy Capital levanta esse ponto em uma carta especial, específica sobre Banco do Brasil. Para a gestora, ao mesmo tempo em que o crédito subsidiado perdeu relevância, há um aumento no endividamento dos produtores e até mesmo uma piora no perfil do tomador. Via de regra, o BB trabalha com a penhora de safra, quando o agricultor dá uma parte da sua produção como garantida do empréstimo. A Legacy avalia que o modelo tem se mostrado inadequado.
"Coloca o banco em posição subordinada frente aos concorrentes privados, que operam majoritariamente com alienação fiduciária da terra, um mecanismo de recuperação mais direto e eficiente", diz a carta da gestora.
A Legacy prevê um aumento nas provisões do banco, o que pressiona a lucratividade do BB e, consequentemente, diminuiu a remuneração do acionista. "A distribuição de dividendos pode cair pela metade ou até mais".
"Existe a possibilidade de o banco reduzir o payout para abaixo dos 40% a 45% observados nos últimos anos — movimento que refletiria uma postura mais conservadora, com foco na preservação de capital", diz relatório da Genial, publicado antes do "balancete" do Banco Central com os resultados mensais das instituições financeiras.
A casa aposta em provisões da ordem de R$ 13,2 bilhões, o que representaria um aumento de quase 70% ano a ano e de 30%, na comparação com o primeiro trimestre. O ROE, calculam os analistas, deve vir em menos de 11%, ficando abaixo do custo de capital do banco. E além de deterioração no agro, há expectativa de piora na inadimplência das carteiras de pessoa física e pequenas e médias empresas, sobretudo em operações renegociadas.