Não tão magníficas: desconfiança com tese de IA acende luz amarela em Wall Street (Divulgação / Getty Images)
Repórter
Publicado em 21 de novembro de 2025 às 15h14.
As chamadas Sete Magníficas, grupo formado por Apple, Amazon, Alphabet, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla, perderam US$ 1,75 trilhão em valor de mercado entre 29 de outubro e 20 de novembro de 2025, de acordo com levantamento da consultoria Elos Ayta. O total perdido equivale ao valor de duas B3, uma vez que todas as companhias listadas na bolsa brasileira somam, juntas, US$ 866 bilhões.
O movimento de correção começou depois que o índice Nasdaq atingiu o maior nível nominal de sua história, aos 23.958 pontos, no dia 29 de outubro. Na mesma sessão, a Nvidia bateu também um recorde, com a ação a US$ 207,04.
A partir daí, porém, o apetite dos investidores mudou de direção, como mostram os dados. O índice acumulou queda de 7,85%, enquanto a fabricante de chips perdeu 12,75% no período. Segundo a Elos Ayta, o valor consolidado das sete magnificas recuou de US$ 22,24 trilhões para US$ 20,49 trilhões em apenas três semanas.
A pior perda nominal ficou justamente com a Nvidia, cuja desvalorização de US$ 641 bilhões representa, sozinha, 74% do valor de mercado da B3 inteira. A segunda que mais perdeu em valor de mercado foi a Microsoft, com queda de US$ 469 bilhões. A big tech é seguida pela Meta, com recuo de US$ 410 bilhões.
Entre as sete gigantes, apenas a Alphabet apresentou alta, avançando 20,8% em seu valor de mercado ao atingir US$ 180 bilhões.
A deterioração das big techs tem por trás um debate que há meses ronda o mercado: até onde vai a euforia em torno da inteligência artificial (IA)? O setor segue reportando resultados fortes, mas o desconforto cresce tanto nas bolsas quanto no mercado de crédito.
O temor é que esse ciclo de investimentos intensivos seja sustentado por expectativas exageradas e um revés possa atingir não só empresas de IA, mas o mercado como um todo.
Grandes gestoras e bancos, como o Goldman Sachs veem sinais de que o entusiasmo com a inteligência artificial pode estar chegando no limite. Em relatório publicado na terça-feira, 18, o banco de investimentos apontou que o valor de mercado das companhias ligadas ao tema, desde o lançamento do ChatGPT, já se aproxima das estimativas de valor econômico que a tecnologia pode gerar para essas empresas.
Para os analistas, isso não impede novas altas, mas indica que "a vulnerabilidade à decepção ou ao risco de eventos está aumentando".
"No lado macroeconômico, vemos um risco crescente de que os desequilíbrios se tornem mais visíveis à medida que o boom da IA se estende, especialmente com o aumento do financiamento de dívidas. Portanto, mesmo que o tema da IA continue a impulsionar as ações, não nos surpreenderíamos se os spreads de crédito e a volatilidade das ações também aumentassem, como aconteceu no final da década de 1990", afirmaram os analistas do Goldman Sachs.
Foi nesse ambiente de nervosismo que a Nvidia concentrou nesta semana a atenção global. A empresa se tornou o símbolo da corrida da inteligência artificial e superou as expectativas com seu balanço do 3° trimestre ao reportar mais de R$ 32 bilhões de lucro.
Mas, os números mais sensíveis do seu último resultado financeiro aumentaram a desconfiança dos investidores. Os recebíveis cresceram 39% em nove meses, para US$ 33,4 bilhões, indicando que a companhia está levando mais tempo para receber pelos produtos vendidos — 53 dias, acima da média histórica de 46.
O inventário também aumentou, de US$ 10,08 bilhões para US$ 14,96 bilhões.
Para analistas, esses dados sugerem possíveis inconsistências entre discurso e realidade. "Se o produto está voando da prateleira, então por que você não está sendo pago por isso?", afirmou Kimberly Forrest, fundadora e chefe de investimentos da Bokeh Capital Partners, em comentário para a Bloomberg.
A questão ganha peso em um momento em que algumas empresas já enfrentam limitações de energia para operar data centers e outras podem ter dificuldade em financiar novos projetos de IA. A desconfiança também se soma ao histórico recente. Em três dos últimos quatro trimestres, mesmo com resultados muito acima das projeções, as ações da Nvidia caíram após os balanços.