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Bolha à vista? Investidores reagem à euforia da IA com táticas da era pontocom

Fundos globais ajustam carteiras e resgatam estratégias usadas na virada dos anos 2000 para evitar uma nova bolha tecnológica

Publicado em 24 de outubro de 2025 às 18h25.

Com o avanço vertiginoso das ações ligadas à inteligência artificial e a valorização recorde da Nvidia, agora acima de US$ 4 trilhões, gestores de recursos estão recorrendo a um manual antigo: o da era pontocom. De acordo com a Bloomberg, o objetivo é capturar ganhos no mercado aquecido sem se expor ao risco de uma nova bolha tecnológica.

Investidores profissionais estão substituindo papéis supervalorizados por ativos com potencial de alta em setores menos explorados, em uma estratégia semelhante à usada por fundos de hedge entre 1998 e 2000, quando o avanço da internet se espalhou por telecomunicações, software e tecnologia global.

Segundo Francesco Sandrini, diretor de investimentos multiativos da Amundi, maior gestora de ativos da Europa, o momento atual lembra a euforia da virada do milênio. Ele afirma que o foco está em encontrar “as maiores oportunidades de crescimento ainda não precificadas”, com apostas em empresas asiáticas de tecnologia, robótica e softwares corporativos.

Estratégia busca ganhos sem exposição direta à bolha de IA

A comparação com os anos 2000 ganha força à medida que os fundos reavaliam a concentração de mercado no grupo conhecido como “Magnificent Seven” — que inclui Nvidia, Microsoft, Alphabet, Amazon, Meta, Apple e Tesla. As ações dessas companhias vêm subindo de forma acelerada, impulsionadas pelo entusiasmo em torno da IA generativa.

Para investidores como Simon Edelsten, da Goshawk Asset Management, o cenário atual repete o comportamento de 1999, quando empresas de tecnologia disputavam um mercado ainda incerto. Ele aposta em consultorias de TI e fabricantes japonesas de robótica, que podem se beneficiar da cadeia de suprimentos de IA sem depender diretamente dos grandes nomes do setor.

O estudo de economistas Markus Brunnermeier e Stefan Nagel reforça a tese: entre 1998 e 2000, fundos de hedge não apostaram contra a bolha das pontocom — preferiram rotacionar posições, obtendo desempenho 4,5% superior ao mercado por trimestre e evitando perdas após o colapso.

Fundos migram para energia e hardware de IA

A busca por oportunidades alternativas também inclui setores ligados à infraestrutura da IA. Becky Qin, da Fidelity International, aposta em urânio, já que data centers de IA demandam alto consumo de energia e podem impulsionar o uso de energia nuclear.

Outros gestores destacados pela Bloomberg vêm realizando lucros com as big techs e redirecionando recursos para empresas como a Gudeng Precision (Taiwan), fornecedora de componentes para TSMC, uma das principais fabricantes de chips avançados do mundo.

Ainda assim, analistas alertam para os “blocos de construção de uma bolha”. Para Arun Sai, estrategista sênior da Pictet Asset Management, o rápido crescimento de data centers e investimentos trilionários de gigantes como Amazon, Microsoft e Alphabet pode gerar excesso de capacidade — um paralelo direto com o colapso do mercado de fibra óptica em 2001.

Equilíbrio entre risco e oportunidade

Alguns gestores têm preferido uma estratégia mais defensiva. Oliver Blackbourn, da Janus Henderson, tem compensado sua exposição a tecnologia dos EUA com investimentos em ações europeias e do setor de saúde, em uma tentativa de proteger o portfólio caso a euforia da IA perca força.

Para ele, prever o momento exato do estouro de uma bolha é quase impossível — e muitos só percebem o pico depois que ele já passou.

“O mercado parece repetir o padrão de 1999”, avalia o gestor, reforçando que, embora os fundamentos da IA sejam mais sólidos do que os da internet nos anos 2000, o risco de supervalorização é evidente.

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