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Bolhas financeiras são mais raras do que se imagina, dizem estudos

Estudos mostram que episódios de alta seguidos de queda representam menos de 1% dos períodos analisados e que investidores de longo prazo mantêm retornos consistentes

NYSE - The New York Stock Exchange - Bolsa New Yorque - Nova Iorque - Pregão - Internacional - juros - americano - EUA 

Foto: Leandro Fonseca
data: setembro 2022 (Leandro Fonseca/Exame)

NYSE - The New York Stock Exchange - Bolsa New Yorque - Nova Iorque - Pregão - Internacional - juros - americano - EUA Foto: Leandro Fonseca data: setembro 2022 (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 10 de setembro de 2025 às 15h29.

As bolhas financeiras ocupam espaço importante no imaginário dos investidores e são frequentemente associadas a crises históricas, como a quebra da Bolsa de Valores em 1929 nos EUA ou o colapso das empresas pontocom no início dos anos 2000. No entanto, levantamentos publicados pelo The Wall Street Journal indicam que esses episódios são bem menos frequentes do que a percepção comum sugere.

De acordo com pesquisa do professor William Goetzmann, da Universidade de Yale, que analisou o comportamento do mercado de ações desde 1790, apenas 0,5% dos períodos de três anos registraram movimentos típicos de bolha: forte valorização, seguida por uma queda que eliminou parte ou todos os ganhos acumulados.

Apesar da baixa ocorrência, a possibilidade de crises é superestimada por investidores. Pesquisas do professor, em conjunto com os economistas Robert Shiller e Dasol Kim, realizadas nos últimos 25 anos, mostram que participantes do mercado costumam estimar em 10% a 20% a chance de uma queda acentuada em seis meses — proporção muito maior que a evidenciada pelos dados históricos.

Ao longo de mais de um século, apenas quatro episódios registraram quedas superiores a 10% no Índice Dow Jones em um único dia, sendo dois deles durante a crise de 1929.

Ainda assim, o desempenho de longo prazo do mercado acionário foi consistente: investidores que mantiveram carteiras diversificadas obtiveram retornos médios anuais de cerca de 9,5% desde 1900. Esse resultado foi registrado mesmo após a Grande Depressão, o crash de 1987, a crise das pontocom e o choque econômico da pandemia de Covid-19, segundo a reportagem do WSJ.

Crises históricas

A primeira bolha registrada nos Estados Unidos ocorreu em 1719, com a valorização das ações da Compagnie des Indes, ligada ao desenvolvimento do território da Louisiana. O movimento se espalhou pela Europa, mas terminou em colapso no ano seguinte.

Em 1929, o estouro da bolha em Wall Street levou a quedas históricas e à Grande Depressão. Ainda assim, o capital investido contribuiu para o avanço de setores como automóveis, eletrodomésticos e comunicações. A Radio Corporation of America (RCA), por exemplo, foi destaque na expansão do rádio antes de ver suas ações despencarem de US$ 568 para US$ 15 em apenas três anos.

No final do século XX, a bolha das empresas de tecnologia levou o índice Nasdaq a perder quase 78% entre 2000 e 2002. Apesar do impacto, companhias como Apple, Microsoft, Amazon e Cisco sobreviveram e se consolidaram como protagonistas da transformação digital.

Mais recentemente, o bitcoin também passou por ciclos de valorização e queda acentuados. A criptomoeda chegou a ser negociada abaixo de US$ 170 em 2014 e, em 2025, variava entre US$ 74.000 e US$ 124.000.

Impactos

Embora as bolhas possam destruir fortunas no curto prazo, estudos mostram que também ajudam a financiar inovações que remodelam a economia. A tecnologia de rádio nos anos 1920, a internet nos anos 1990 e a ascensão das criptomoedas são exemplos de transformações aceleradas por ciclos de euforia financeira, de acordo com a reportagem do WSJ.

Assim como as transformações tecnológicas anteriores estiveram associadas a bolhas e quedas, a inteligência artificial é vista como um novo elemento capaz de influenciar ciclos de mercado. O desafio, segundo pesquisadores, é identificar em tempo real quando uma valorização pode se transformar em um colapso, algo considerado difícil mesmo com o uso de novas ferramentas.

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