Invest

Bolsas dos EUA e Ibovespa bateram recordes — mas será que podem subir mais?

Queda de juros ainda não fez preço no mercado e pode impulsionar ainda mais o preço dos ativos

Bolsas de valores: ativos podem andar com corte de juros (Cris Faga/NurPhoto/Getty Images)

Bolsas de valores: ativos podem andar com corte de juros (Cris Faga/NurPhoto/Getty Images)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 11 de setembro de 2025 às 06h00.

As bolsas dos Estados Unidos e do Brasil chegaram a patamares nunca vistos antes. E a conclusão dos especialistas é que, mesmo com esse desempenho, a festa ainda não chegou no auge. Ainda dá tempo de entrar, sim, e ganhar dinheiro.

No caso do Ibovespa, a relação preço sobre lucro, que define se um ativo está caro ou barato,  ainda está abaixo e longe da média histórica. Mesmo com uma alta de 17,9% no ano.

E não é só isso. O PL do Ibovespa está nos patamares de pandemia, da crise do Lehman Brothers de 2008 e do impeachment da Dilma.

“Tem bastante espaço para crescer”, aponta Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de ações do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME).

Ao contrário do Ibovespa, o S&P 500, por exemplo, está em níveis semelhantes aos da bolha da internet, negociando a 22x.

“Os preços andaram, mas os lucros também.”

Mas o que faria as bolsas de ambos os países avançarem ainda mais é exatamente o mesmo gatilho: a queda dos juros.  É o fator que aumenta a atratividade do mercado de renda variável. E este momento pode estar perto de acontecer, tanto por aqui quanto nos EUA.

O Bank of America (BofA), por exemplo, estima que o primeiro corte de 0,50 ponto percentual (p.p.) acontecerá já em dezembro no Brasil. Já outros bancos, como Santander e Itaú, esperam que esse momento só ocorra no primeiro semestre de 2026. O BTG Pactual projeta o primeiro corte para janeiro.

Nos Estados Unidos, faltam 6 dias para a próxima reunião de política monetária e o mercado vê 90% de chance de haver um corte de 0,25 p.p. e 10% de um corte mais agressivo, de 0,50 p.p., segundo a plataforma FedWatch, do CME Group.

Por lá, são as falas mais ‘dovish’ do presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano), Jerome Powell, que sustentam a narrativa. Por aqui, as projeções das instituições financeiras no Boletim Focus do Banco Central, apontam para uma Selic de 15% no final deste ano, mas a 12,50% em 2026.

No Brasil, ainda não está no preço

Mas apesar das apostas do mercado, para Zanlorenzi, a queda de juros ainda nem chegou a fazer preço no mercado brasileiro de ações.

“Quando tiver dentro do preço, a bolsa tende a subir mais”, afirma.

Segundo ele, a queda de juros também tende a dar impulso aos resultados das empresas, que foram até bem, mesmo com a Selic em 15%.

Os juros altos costumam elevar as despesas financeiras o que, por sua vez, impacta o lucro das companhias.

“[Com a queda dos juros] teremos um arrefecimento dessa despesa financeira. Quando olhamos para frente, isso vai aumentar o lucro por ação e abrir espaço para valorizar um pouco mais”, diz Fernando Tendolini, head de fundos de renda variável da Fator.

Para além dos resultados das empresas, Tendolini também comenta que o cenário de seca de ofertas públicas de ações (IPO) também pode mudar por aqui, com a perspectiva de queda de juros e preservação do crescimento Produto Interno Bruto (PIB).

Na carta mensal de setembro, o Santander Asset reforça a visão positiva da bolsa local. “O Ibovespa registrou forte valorização em agosto, acompanhando o quadro global, com as empresas mostrando resiliência mesmo em um cenário de juros elevados”, escreveu em relatório.

Barato pode ser sinal de oportunidade — apesar do investidor local ainda estar receoso com a entrada na bolsa, já que a renda fixa continua extremamente atrativa.

“Conforme o tempo for passando e os vencimentos de renda fixa forem acontecendo, o investidor que está ancorado numa taxa maior e eventualmente querer renovar, as taxas vão estar muito menores, então ele vai ser provocado a buscar outras oportunidades”, diz Zanlorenzi.

E não é que as eleições não estejam no radar — elas estão — mas ainda é cedo para precificar, já que nem os candidatos foram definidos.

“Historicamente, o mercado precifica as eleições em maio do ano eleitoral. Parece que o mercado está antecipando um pouco. Mas é muito mais especulação do que convicção. O cenário está muito aberto. A única certeza é que a eleição vai ser muito competitiva. Agora para qual lado a balança vai... não sei nem quem está de qual lado da balança”, diz David Beker, chefe de Economia no Brasil e estratégia para América Latina do BofA.

Investidores mais seletivos

Múltiplos altos não necessariamente significam que não há espaço para avançar: as bolsas americanas ainda podem subir, principalmente Nasdaq e S&P, no setor de tecnologia.

Mas, de acordo com Zanlorenzi, o ponto é que o caminho à frente será mais seletivo do que no passado. “O que quero dizer é que 2023 e 2024 foram quase em um movimento de euforia: tudo subia se tivesse IA ou tecnologia no nome”, afirma o especialista do BTG Pactual.

O mercado acabou migrando bastante para esses setores, mas desde o começo deste ano, com eventos como o Deep Seek e a perspectiva de mais ruídos nos Estados Unidos, incluindo o enfraquecimento do dólar, os critérios começaram a mudar.

“Hoje, o funil está mais estreito. Estamos mais criteriosos, ainda muito construtivos com IA e tecnologia, mas de forma mais seletiva. Precisa ser mais cauteloso na escolha dos nomes e não ficar no tema [de tecnologia]”, diz.

Eduardo Carlier, co-diretor de gestão da Azimut Brasil Wealth Management, corrobora com a visão.

Segundo ele, como o nível de competição em tecnologia com a China é alto e crescente, o investimento concentrado nas ‘7 magníficas’ tende a ter algum nível de diversificação no tempo.

“As temáticas mudam para capturar nichos de investimentos específicos, como investimento direto na cadeia de robótica, semicondutores, computação quântica. Hoje o investimento em ‘7 magníficas’ têm uma posição técnica sobrecomprada. Sempre existem pontos de realização de lucro conforme as expectativas altas frustram analistas em algum resultado trimestral”, afirma.

No BTG, os top picks do setor de tecnologia são Nvidia, Microsoft e Amazon. No setor de healthcare, há grande interesse em empresas como Eli Lilly, produtora do Mounjaro, e United Health. No setor financeiro, destacam-se JP Morgan e Visa.

Onde olhar para Brasil?

“O que nos deixa animados com a bolsa hoje é que não precisa inventar moda para montar uma posição muito boa em ações”, brinca Zanlorenzi.

Com a bolsa considerada barata, o BTG destaca que é possível investir em grandes empresas de setores sólidos e distribuidoras de dividendos a preços atrativos, algo fora do comum.

Segundo o banco, setores como energia são bem vistos, com convicção em Eletrobras e Equatorial; no setor bancário, a preferência é pelo Itaú; no consumo, a visão é construtiva para empresas como Azzas; na construção civil, a queda de juros favorece empresas como Direcional; e no varejo, há convicção em grupos como SBF.

Já na visão do Santander, foi o segmento financeiro que contribuiu positivamente para o desempenho do Ibovespa em agosto, enquanto o setor de petróleo foi o principal detrator.

“Em termos setoriais, aumentamos a alocação nos setores financeiro e imobiliário, enquanto reduzimos a exposição em bens de capital”, afirma na carta mensal.

Acompanhe tudo sobre:bolsas-de-valoresNasdaqDow JonesS&P 500IbovespaJurosCopomFed – Federal Reserve System

Mais de Invest

Como funciona o sistema de franquias?

Como foi o IPO da Klarna, fintech do tipo 'compre agora, pague depois'

Procon-SP cobra explicações da Ticketmaster sobre taxas na venda de ingressos para The Weeknd

Em melhor dia desde 1992, Oracle vê ação disparar 36% e ganha US$ 244 bilhões em valor de mercado