“Uma coisa é fazer consignado para o INSS, para o poder público, outra coisa é fazer um consignado privado. Eu estou dando no risco da empresa e daquele trabalhador que pode não estar trabalhando amanhã”, avaliou Noronha
Repórter de mercados
Publicado em 31 de julho de 2025 às 11h13.
Última atualização em 31 de julho de 2025 às 15h58.
O Bradesco (BBDC4) apresentou um desempenho positivo no segundo trimestre de 2025, com lucro líquido recorrente de R$ 6,1 bilhões, superando as expectativas do mercado, que previam um valor de R$ 6 bilhões. O crescimento de 28,6% em relação ao mesmo período de 2024 foi reflexo da melhora da qualidade do crédito do banco que, segundo o CEO Marcelo Noronha, está agora pronto para acelerar em um setor específico: o crédito consignado privado.
Até agora, o banco havia adotado uma postura mais conservadora no crédito consignado privado, priorizando a redução de riscos. “Assim como o Santander, não enfiamos o pé no acelerador”, afirmou Noronha.
“Quem fez antes de ter a estruturação mais azeitada teve dor de cabeça. A gente não está disposto a entrar em aventura”, disse Noronha.
Agora, o CEO explicou que a estratégia do Bradesco está mudando. “Agora está começando a rodar melhor, observamos uma melhora na escrituração, então estamos aumentando nosso apetite”, disse o presidente do banco, indicando que o Bradesco está pronto para intensificar suas operações no segmento.
A mudança de postura se baseia em um cenário de recuperação na qualidade de crédito, com o banco afirmando que os riscos começaram a ser mais bem controlados. O Serasa recentemente divulgou dados preocupantes sobre o aumento da inadimplência, com 77,8 milhões de endividados no Brasil.
A segunda parcela da nova modalidade do consignado privado, que começou a ser oferecida em abril, foi paga no mês de junho. "A inadimplência geral dela foi de mais de 16% no mercado e o índice do banco foi um terço disso", ressaltou Noronha, destacando que o Bradesco, mesmo com o cenário de inadimplência crescente, manteve um controle rigoroso sobre seus riscos.
Líder no crédito consignado público, com foco no INSS, o Bradesco segue mais cauteloso com a modalidade privada, apesar da melhora do ritmo.
“Uma coisa é fazer consignado para o INSS, para o poder público, outra coisa é fazer um consignado privado. Eu estou dando no risco da empresa e daquele trabalhador que pode não estar trabalhando amanhã”, avaliou Noronha, deixando claro que a qualidade e segurança são prioridades ao avaliar qualquer operação.
Segundo ele, o banco só está avançando com operações de crédito consignado privado em empresas com as quais já tem experiência e conhece bem o perfil de risco.
“Uma coisa é conceder crédito para um funcionário que trabalha há dez anos em uma multinacional, e outra é para um funcionário de uma padaria pequena. Avaliamos os riscos do indivíduo e da empresa”, explicou Noronha.
Além de intensificar sua atuação no crédito consignado privado, o Bradesco também se foca em modalidades de crédito mais seguras, como financiamento de veículos, recebíveis e crédito rural, para equilibrar o crescimento com a manutenção da qualidade dos ativos. O spread bancário do banco também foi ajustado, refletindo uma postura mais conservadora em segmentos mais arriscados, com a empresa operando com taxas sob medida para crédito consignado, sempre com foco na qualidade do portfólio.
“Estamos trabalhando com taxas sob medida para crédito consignado, sempre focando em um portfólio qualificado”, finalizou Marcelo Noronha, deixando claro que o Bradesco está disposto a crescer, mas de forma sólida e bem estruturada, sem abrir mão de seus critérios de risco.