Invest

Braskem recua para menor valor de mercado em 16 anos: entenda os motivos

A companhia perdeu mais de R$ 48 bilhões em 'market cap' desde o pico de preços em 2021, mostra levantamento da Elos Ayta

 (Germano Luders/Exame)

(Germano Luders/Exame)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 29 de setembro de 2025 às 17h47.

Última atualização em 29 de setembro de 2025 às 18h00.

Ao contrário do publicado anteriormente, o valor de mercado da Braskem é o menor em 16 anos, e não em seis como dizia o texto original. O conteúdo foi corrigido.

Os últimos três dias da Braskem (BRKM5) na bolsa refletem uma combinação de fatores que têm impactado as finanças da empresa nos últimos anos. A companhia lida com consequências do incidente geológico em Alagoas, as dúvidas quanto à venda do seu controle por parte da Novonor, além de spreads petroquímicos sem sinais de recuperação.

Com uma queda de 5,13% no pregão de hoje, fechando a R$ 6,66, a petroquímica viu cerca de R$ 1,327 bilhão do seu valor de mercado evaporar desde o fechamento do último dia 24.

Com o fechamento de hoje, a Braskem passou a valer R$ 5,7 bilhões, o menor market cap da companhia em 16 anos e perdeu R$ 48,2 bilhões desde o pico, em setembro de 2021, mostra levantamento da Elos Ayta.

A derrocada de quase 15% registrada na sexta-feira passada foi impulsionada pelo anúncio da contratação de consultores financeiros e jurídicos para uma reestruturação de capital. O movimento foi interpretado como um sinal de que a Braskem pode iniciar um processo de reestruturação da dívida.

Segundo o BTG Patcual (do mesmo grupo de controle de EXAME), a decisão adiciona outra camada de preocupação à tese de investimentos, pois sugere que uma conversão de dívida em ações ou estruturas alternativas, como instrumentos conversíveis ou empréstimos colateralizados, não pode ser descartada.

Deterioração da liquidez e aumento do risco de calote

Para agravar ainda mais a situação da Braskem, as agências de classificação de risco S&P e Fitch rebaixaram o rating de crédito da petroquímica.

A Fitch rebaixou todos os ratings da Braskem, citando deterioração significativa da liquidez e o aumento da probabilidade de default (calote) ou de reestruturação da dívida no curto e médio prazos.

A S&P Global, por sua vez, cortou a nota global da companhia de “B+” para “CCC-”, rebaixando também os títulos seniores não garantidos para “CCC-” e os subordinados de “CCC+” para “C”, com perspectiva negativa.

Na visão da agência, a companhia enfrenta o desafio de renegociar sua linha comprometida de crédito, que até então sustentava sua posição de liquidez.

Nesse contexto, a S&P vê riscos iminentes de uma reestruturação em condições desfavoráveis para os credores, especialmente diante da deterioração contínua dos spreads de sua dívida nos mercados internacional e doméstico.

Conversão da dívida em ações

O BTG realizou uma análise simplificada de cenários para avaliar as possíveis implicações de uma conversão de dívida em ações no balanço da Braskem sem “haircut”. No caso base do banco, a premissa é de que a Petrobras (PETR4) injete capital para manter até 49% de participação (evitando consolidação total), sem distinção entre classes de ações. Se 25% da dívida da Braskem (US$ 1,7 bilhão) fosse convertida em ações, a Petrobras teria de aportar um valor equivalente, de US$ 1,7 bilhão, para evitar diluição.

De acordo com o BTG, nessa estrutura a alavancagem da Braskem cairia para 2,6 vezes Dívida Líquida/EBITDA até 2026, criando espaço para capturar ganhos caso os spreads melhorem com a recuperação do ciclo.

No entanto, a Petrobras precisaria continuamente acompanhar qualquer conversão de dívida com capital adicional para preservar sua participação, o que reduziria os retornos aos acionistas. Nesse cenário, o banco estima que o dividend yield da estatal cairia em cerca de 0,8 ponto percentual, para 8,2%.

Diluição dos acionistas

De modo geral, o BTG observa que a tese de capital próprio da Braskem se tornou cada vez mais desafiadora, com o risco de diluição (redução da participação acionária dos atuais sócios em caso de emissão de novas ações) agora firmemente no radar e a situação se complicando diante de recursos limitados.

O vencimento mais crítico da Braskem ocorre em 2028. "Embora os detentores de títulos (bondholders) possam, em teoria, esperar até lá, o enfraquecimento do perfil financeiro da companhia aumenta o risco de que a empresa chegue a esse ponto em uma posição muito mais fragilizada", explica BTG.

Para o BTG, um fator-chave será a renegociação do RCF (linha de crédito rotativo), considerada crucial para preservar a liquidez de curto prazo. No entanto, analistas avaliam que essa negociação pode ser difícil diante das sucessivas quedas de rating.

Do ponto de vista técnico, o Bradesco BBI comenta que a alta nas taxas de aluguel das ações PNB da Braskem, agora entre as 10 maiores do Ibovespa, reflete o temor de diluição dos acionistas minoritários, já que a reestruturação pode ocorrer por meio de aumento de capital.

Negociação com credores

Os bancos Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e BNDES, que têm a receber cerca de R$ 19 bilhões da Novonor, controladora da Braskem, continuam em negociação com a IG4 para a transferência dos créditos que detêm contra a companhia, com as ações da Braskem como garantia. Um acordo de exclusividade por 90 dias foi assinado em agosto e permanece vigente.

A IG4 está elaborando um plano de reestruturação da empresa em conjunto com a Petrobras e os bancos credores, com o objetivo de melhorar a margem financeira e lidar com a alta alavancagem, incluindo a eventual venda de ativos.

'Sem solução mágica'

Com dívida de US$ 8,5 bilhões, excluindo a operação com a Idesa no México, a Braskem avalia um pedido de recuperação extrajudicial, que garantiria proteção contra a execução de dívidas, segundo apuração do Pipeline do Valor.

Para dar entrada no processo, a controladora Novonor precisa do aval de pelo menos um terço dos credores, além do apoio de 50% mais 1 dos credores para homologar o plano. A decisão ainda precisa ser aprovada pelo conselho da companhia e contar com o aval da Petrobras, que detém 47% da petroquímica.

O Bradesco BBI avalia que não existe uma solução mágica para a recuperação da Braskem. Segundo o banco, a saída para os problemas da companhia passa por revisar alternativas de estrutura de capital, combinadas a outras medidas, como a aprovação do Programa Especial para a Sustentabilidade da Indústria Química (Presiq), corte de custos, venda de ativos, renegociação de contratos de matérias-primas e uma potencial oferta de ações.

A equipe de analistas do UBS BB também destacou que tarifas de importação mais altas e a aprovação do Presiq tornaram-se pré-requisitos para interromper o consumo de caixa em um futuro próximo.

Na última sexta, o UBS BB cortou a recomendação para as ações da Braskem de compra para neutro e o preço-alvo de R$ 15 para R$ 10. O BTG, por sua vez, manteve recomendação neutra e preço-alvo de R$ 11.

Acompanhe tudo sobre:BraskemAçõesbolsas-de-valores

Mais de Invest

Ibovespa fecha em alta de 0,61%, depois de bater novo recorde 'intraday'

Dólar fecha em queda, a R$ 5,32, com risco de paralisação nos EUA

Receita lança nova ação de conformidade para regularização de divergências no Pis e Cofins

Petróleo cai mais de 3% após plano de Trump para acabar com a guerra em Gaza