Redatora
Publicado em 15 de julho de 2025 às 07h32.
Quando apoiou a fusão entre Kraft e Heinz em 2015, o Warren Buffett destacou o potencial de reunir “marcas icônicas” sob o mesmo teto. Dez anos depois, no entanto, a possível separação dessas mesmas marcas representa uma das raras apostas malsucedidas do investidor bilionário.
As ações da Kraft Heinz acumulam queda de mais de 60% desde a fusão das duas empresas, enquanto o mercado acionário como um todo registrou fortes ganhos no mesmo período. A fatia de cerca de 27% detida pela Berkshire Hathaway na companhia vale atualmente US$ 4,5 bilhões a menos do que está registrada nos balanços do conglomerado, segundo informações da Bloomberg.
O movimento marca um episódio atípico para Buffett, de 94 anos, que deixará o comando da Berkshire no fim do ano após seis décadas de liderança e retornos expressivos com ações de grandes marcas. Apesar dos dividendos constantes e dos lucros com a aquisição da Heinz dois anos antes da fusão com a Kraft, a Berkshire teria ganhado cerca de US$ 10 bilhões a mais se tivesse investido no índice S&P 500.
Em entrevista à Bloomberg, Matthew Palazola, analista sênior da Bloomberg Intelligence, afirmou que Buffett pode não ter antecipado a tendência de consumo por alimentos mais saudáveis. “A Kraft Heinz é muito forte em alimentos processados, e Buffett era conhecido por não ter a dieta mais saudável, então talvez não estivesse olhando tão à frente”, disse.
A Kraft Heinz ainda detém marcas populares como Oscar Mayer e Kraft Mac & Cheese, mas tem sofrido com a inflação e a mudança de hábitos alimentares, acelerada pelo uso crescente de medicamentos para perda de peso. Diante disso, a empresa avalia dividir uma parte substancial de suas operações em uma nova companhia, como forma de destravar valor e enfrentar os desafios do setor.
Em 2019, Buffett reconheceu publicamente que o investimento na Kraft não havia sido o ideal. Naquele ano, a companhia anunciou uma baixa contábil de US$ 15,4 bilhões em algumas de suas marcas mais conhecidas.
Apesar disso, a Berkshire obteve retornos relevantes com dividendos da Kraft Heinz. O retorno positivo se concentrou principalmente na fase pré-fusão, com lucros expressivos sobre ações preferenciais da Heinz, resgatadas em 2016.
Ainda assim, a participação da Berkshire na companhia vem diminuindo. Neste ano, dois representantes ligados à holding deixaram o conselho da Kraft Heinz, embora a saída não tenha sido atribuída a discordâncias com a gestão.
Segundo Cathy Seifert, analista da CFRA Research ouvida pela Bloomberg, a possível cisão tem potencial para destravar valor para os acionistas. “A divisão vai tornar o investimento mais atrativo. Porque, francamente, ele não tem sido dos mais positivos”, afirmou.
Desde que os rumores sobre a reestruturação vieram à tona, as ações da Kraft Heinz acumulam alta de quase 5%.