Anglo American: mineradora tenta concluir acordo de US$ 500 milhões com a MMG (Chris Ratcliffe/Getty Images)
Redatora
Publicado em 3 de setembro de 2025 às 08h01.
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), autoridade antitruste do Brasil, abriu uma investigação sobre o plano da Anglo American de vender sua operação de níquel no país, informou o jornal britânico Financial Times. A medida adiciona um novo obstáculo aos esforços de reestruturação do grupo de mineração listado em Londres.
O Cade instaurou um procedimento administrativo para analisar o acordo de US$ 500 milhões fechado em fevereiro entre a Anglo e a MMG Singapore Resources. “Com base em uma denúncia recebida, foi instaurado Processo Administrativo para Apuração de Ato de Concentração Econômica”, disse o órgão ao FT.
O Cade ressaltou que a abertura da investigação não significa necessariamente que irá barrar o negócio, mas a intervenção amplia os desafios para a Anglo, que já enfrentou entraves nas tentativas de vender suas operações de carvão e diamantes.
O jornal reporta que a queixa foi apresentada pela CoreX Holding, conglomerado criado pelo investidor turco Robert Yildirim. A empresa é concorrente direta na região e anunciou em julho a compra de uma mina de ferroníquel na Colômbia por até US$ 100 milhões.
A Anglo American iniciou uma reestruturação radical de suas operações após rejeitar, no ano passado, uma oferta hostil de £39 bilhões da rival BHP.
Na sequência, o plano de vender sua divisão de carvão à americana Peabody Energy por US$ 3,8 bilhões fracassou em agosto, quando a compradora desistiu alegando “mudança adversa relevante” após uma explosão em uma das minas. A Anglo prontamente anunciou que iniciaria arbitragem para “buscar reparação pelos danos da rescisão indevida” do contrato.
Além disso, a companhia tenta se desfazer da sua operação de diamantes De Beers, seja por venda ou abertura de capital, mas o processo tem sido dificultado por pressão do governo de Botsuana, que busca aumentar sua participação na empresa.
A investigação no Brasil ocorre semanas após o Instituto Americano do Ferro e do Aço pedir à Casa Branca que interviesse na operação Anglo-MMG, alegando que a transação ampliaria a dominância da China no setor de níquel.
Segundo a entidade, caso o negócio fosse aprovado, “a China ganharia influência direta sobre uma parcela substancial das reservas de níquel do Brasil, além de sua posição dominante na produção da Indonésia, agravando vulnerabilidades já existentes na cadeia de suprimento desse mineral crítico”.
O níquel é insumo essencial para aço inoxidável e baterias de veículos elétricos. Embora a Indonésia seja o maior produtor global, o investimento chinês garantiu amplo controle sobre o setor na última década. A MMG, mineradora listada em Hong Kong cujo maior acionista é a estatal China Minmetals Corporation, tem se mostrado ativa em aquisições no exterior.
As ações da Anglo American fecharam em queda de 1,4% na terça-feira, cotadas a £22,36. Às 7h desta quarta-feira, os papéis subiam 2,55% em Londres.