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China cria bolsa de valores para o “novo ouro do século”

Metais terras raras são usados em produtos de alta tecnologia como celulares, trens-bala, câmeras digitais e baterias para carros híbridos

China domina 90% da oferta mundial dos metais, o que preocupa os EUA e a Europa (Gary Meek/Georgia Institute of Technology)

China domina 90% da oferta mundial dos metais, o que preocupa os EUA e a Europa (Gary Meek/Georgia Institute of Technology)

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Da Redação

Publicado em 29 de dezembro de 2011 às 15h38.

São Paulo – As autoridades da Mongólia Interior, província autônoma localizada no norte da China, anunciaram a criação de uma bolsa inovadora para o mundo das commodities. O país planeja desenvolver o primeiro mercado para comercialização de metais de terras raras, já chamados de "ouro do século XXI" por causa de sua importância em aplicações de alta tecnologia.

Ao contrário do que o nome sugere, os minerais – abundantes na crosta terrestre - não são raros na natureza. Embora grande parte das reservas esteja localizada na Ásia e, em especial, na China, o principal problema está no tamanho: quando encontrados, os elementos estão em concentrações muito pequenas, o que torna difícil o processo de separação. Daí o fato de serem considerados raros.

No geral, são minerais não ferrosos que incluem no total 17 variedades de elementos químicos. São eles: lantânio, neodímio, cério, praseodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, túlio, itérbio, escândio e lutécio.

Os metais são ideais para aplicações de alta tecnologia em discos rígidos e câmeras digitais, além de cruciais para as tecnologias verdes. As lâmpadas econômicas usam európio e érbio, enquanto as baterias de carros híbridos e as turbinas eólicas usam neodímio. São utilizados também na fabricação de celulares, trens-bala, iPods, fibras óticas, armas nucleares, painéis solares, etc.

De olho no potencial dos metais terras raras e no aumento do consumo nos últimos anos, a China quer agora criar uma bolsa de valores para comercializá-los. E neste quesito, o país já desponta com grande vantagem pois é responsável por mais de 95% da atual produção mundial de metais terras raras.

Além disso, a China detém também cerca de metade dos 110 milhões de toneladas de depósitos de terras raras existentes no mundo, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Geológica dos Estados Unidos.

Aprovado

A ideia de criar uma bolsa de valores veio do governo da província da Mongólia Interior, que autorizou no dia 26 de maio deste ano a Companhia de Alta Tecnologia de Terras Raras e Aço Baotou (denominada em inglês como Inner Mongolia Baotou Steel Rare-Earth Hi-Tech) e a Sociedade Detentora de Alta Tecnologia da Mongólia Interior a criarem “o mais breve possível” uma empresa para operar esse mercado.

“É um passo positivo. Se a bolsa operar com êxito quando entrar em operação, ajudará a criar um mecanismo de preços transparentes e científicos que poderão ser utilizados na comercialização dos metais terras raras”, declarou Ma Peng, ex-diretor do Instituto de Investigação Baotou de Terras Raras, em entrevista à agência de notícias chinesa Xinhua.

Embora o trabalho para a criação de uma empresa que controlará a nova bolsa de valores já tenha começado, uma data específica de inauguração não foi mencionada pelos organizadores. A princípio, a bolsa terá um capital registrado de pelo menos 100 milhões de iuanes (15,4 milhões de dólares). Serão negociados apenas contratos à vista. A comercialização de contratos futuros estará proibida.

O dragão chinês

O domínio que a China detém sobre as terras raras já preocupa autoridades e executivos de diversos países. Com o avanço da tecnologia e a demanda cada vez maior pelos minerais magnéticos, muitas nações tem questionado o poder que a China exerce sobre a commodity.


Nos Estados Unidos, o alarme já soou. Delegações americanas, junto com a Alemanha e o Japão, imploraram a Pequim para que mantenha a oferta contínua dos elementos. Apenas para constatação, os americanos foram os maiores consumidores no mundo de metais terras raras em 2010. O valor total de minerais refinados atingiu 161 milhões de dólares no ano passado, ante 113 milhões de dólares vistos em 2009.

Na defensiva, a China impôs cotas à exportação, elevou a produção e optou também por acumular reservas estratégicas, uma iniciativa que agora pode dar ao governo local um poder maior para influenciar nos preços e nas ofertas de um setor na qual já domina.

A participação da China no volume total de terras raras produzidas a nível mundial cresceu de 27% em 1990 para 90% em 2008, segundo dados do Instituto de Pesquisa Geológica dos Estados Unidos. Apenas em dez anos, a produção chinesa saltou 450%, atingindo 73 mil toneladas métricas em 2000, ante 16 mil em 1990.

De olho nas reservas, que somaram 55 milhões de toneladas métricas em 2010, a China limitou que a produção não ultrapasse a faixa entre 130 mil toneladas métricas e 140 mil toneladas métricas por ano até 2015.

Em alta

Companhias que já atuam com a produção dos metais terras raras viram suas ações dispararem nos últimos meses diante do aumento da demanda pela commodity. Um bom exemplo disso é o caso da americana Molycorp, cujas ações saltaram 416,96% desde seu IPO (Oferta Inicial de Ações, na sigla em inglês) ocorrido em julho de 2010 até ontem (31).

Outro destaque é a Inner Mongolia Baotou Steel Rare-Earth Hi-Tech, maior produtora de metais terras raras do mundo. No mesmo período, as ações - negociadas na Bolsa de Valores de Xangai - dispararam 192%.

Brasil

A Vale planeja entrar na área de mineração de terras raras, como parte do esforço do Brasil para competir com a China como fornecedor desses elementos, mostrou reportagem do Financial Times datada em 30 de maio deste ano e que cita o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante.

"A Vale traria grandes benefícios ao Brasil ao entrar nesse mercado de terras raras, e acho que isso é importante para o Ocidente como um todo. Também beneficiaria a Vale como empresa", disse Mercadante ao FT.

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