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Concash mira R$ 1 bilhão em créditos de consórcio com FIDC

Concash transforma cotas canceladas em dinheiro para cotistas que desistiram de participar do consórcio. Fintech já antecipou R$ 700 milhões em direitos

Concash: Antônio Basto, CFO (Concash/Divulgação)

Concash: Antônio Basto, CFO (Concash/Divulgação)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 23 de outubro de 2025 às 06h00.

A Concash, fintech adquirida pelo BTG Pactual, (do mesmo grupo de controle da EXAME), tem um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) de consórcios para chamar de seu, explorando um nicho que ainda tem poucos players. A companhia antecipou mais de R$ 700 milhões em direitos creditórios, oferecendo pagamento imediato a clientes que desistiram dos contratos.

Fundada em 2020, a Concash foi incorporada ao banco em 2023. Este ano a fintech projeta um crescimento de 297% no volume de transações e prevê dobrar o faturamento em relação ao ano anterior. Já para 2026, a Concash espera alcançar a marca de R$ 1 bilhão em créditos antecipados no mercado de consórcio.

O FIDC tem como único cotista o BTG, mas, segundo Antônio Basto, CFO da Concash, com o mercado se consolidando e formalizando, poderá abrir espaço para a entrada de clientes varejo no segmento (similar ao que acontece com precatórios). "Mas isso seria um horizonte de mais longo prazo", afirma.

Mercado ainda pouco popular

Uma situação cada vez mais crescente no Brasil é a participação em consórcios: a pessoa quer adquirir uma casa, um imóvel ou até uma viagem e, em vez de um financiamento, paga parcelas mensais para participar de um sorteio futuro.

"O consórcio é um produto tradicional, 100% brasileiro, que se apresenta como alternativa ao financiamento bancário. Hoje, com a alta dos juros, tem sido adotado por todos os perfis de clientes", afirmou Basto.

Mas, no meio do caminho, seja por questões financeiras ou mudanças de prioridades, abandona o consórcio. O dinheiro que ela já gastou pode ser devolvido – mas só dali a 10, 15 anos.

Os FDICs compram cotas canceladas, ou seja, pagam aos ex-cotistas esse valor com desconto (já que é mais vantajoso para eles receberem menos agora, do que mais no futuro) — e ficam com o direito de receber esse valor lá na frente, corrigido pelo índice de referência.

Como achar os cotistas?

Achar os cotistas que cancelaram as parcelas não é uma tarefa fácil, já que não existe um “cartório” que registre essas cotas canceladas. Por isso, é fundamental a atuação de administradoras junto com as empresas.

A Concash atua de duas formas diferentes: com diversos parceiros comerciais, que trazem clientes interessados em antecipar o seu crédito cancelado; e originação orgânica, através de estratégias digitais de mídia (Meta, Google, YouTube).

“Para todos os canais, o ponto imprescindível é a parceria com a administradora, porque é isso que nos permite ter um processo de transferência seguro e homologado, que conta com a aprovação da administradora e a transferência efetiva do ativo para o nome do fundo”, explica Basto.

Para pagar os ex-cotistas, todo o processo é online, aprovado junto à administradora e com pagamento via Pix.

Riscos

Um dos riscos existentes seria o consórcio não pagar o que deve no final. Mas, na prática, esse risco – em administradoras de grande porte – é muito baixo, além de ser um mercado regulado pelo Banco Central (BC).

“Quando o FIDC compra um crédito cancelado, ele assume a posição do cotista como credor daquele grupo. Em tese, o risco assumido é o risco de crédito pulverizado de varejo dos participantes daquele grupo, que são os tomadores da dívida agregada”, pontua Basto.

Porém, existem diversos instrumentos para mitigar esse risco. Uma das principais funções da administradora é controlar a inadimplência e o cancelamento dos grupos.

“E se todos esses mitigantes falharem, no limite, a administradora ainda pode resgatar o grupo por conta própria, assumindo parte do prejuízo financeiro em prol da saúde geral do grupo inadimplente”, diz Basto.

Em números

Segundo a Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac), as adesões a consórcios cresceram 10,6% no período de 12 meses até agosto deste ano, com 12,09 milhões de participantes ativos.

De janeiro a agosto de 2025, foram comercializadas 3,31 milhões de cotas, um avanço de 11,4% frente aos 2,97 milhões no mesmo período do ano passado. No total, houve 1,16 milhão de contemplações nos oito primeiros meses deste ano, um crescimento de 3% frente ao período homólogo do ano passado (1,12 milhão),

Já o mercado de FIDCs, em setembro, somava R$ 718,87 bilhões em patrimônio líquido, ficando na segunda posição em volume de captações, com R$ 63 bilhões. Em dezembro de 2024, o patrimônio líquido da classe ultrapassou o de fundos de ações, de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

O mercado secundário, este das cotas canceladas, é acessível a uma parcela dos consorciados cancelados (nem todos são elegíveis). “Mas as administradoras, em parceria com os agentes do mercado secundário, vêm construindo soluções que vão possibilitar que todos os consorciados cancelados tenham a capacidade de se desfazer dos seus consórcios por um valor justo”, aponta Basto.

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