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Conflito Irã-Israel agrava questionamento do dólar como ativo de refúgio, diz Gavekal

Segundo a consultoria, é o ouro que tem se comportado como um verdadeiro porto seguro nos últimos dias

Com o dólar sem reagir fortemente diante do conflito entre Israel e Irã, a Gavekal questiona se esta desvalorização levará investidores estrangeiros a abandonar as ações americanas (Stock/Getty Images)

Com o dólar sem reagir fortemente diante do conflito entre Israel e Irã, a Gavekal questiona se esta desvalorização levará investidores estrangeiros a abandonar as ações americanas (Stock/Getty Images)

Karla Mamona
Karla Mamona

Editora de Finanças

Publicado em 19 de junho de 2025 às 06h59.

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A reputação do dólar americano como ativo de refúgio está sendo desafiada. É o que afirma o analista Tan Kai Xian, da Gavekal. Um dos principais fatores que provocaram esta mudança foi o comportamento da moeda antes do ataque de Israel ao Irã. Poucas horas antes do ataque, na última quinta-feira, o índice DXY do dólar, que mede o desempenho da moeda frente a uma cesta de outras moedas, caiu abaixo do seu menor patamar recente, registrado em 21 de abril.

Em um cenário de mercado "normal", como o que predominou nas últimas cinco décadas, um evento militar dessa magnitude desencadearia uma valorização da divisa americana típica de momentos de aversão ao risco — especialmente após um período de enfraquecimento.

Contudo, como destaca o analista, embora o dólar tenha subido levemente, o movimento foi fraco. Já o ouro, embora tenha recuado na segunda-feira, tem se comportado como um verdadeiro ativo de refúgio nos últimos dias.

Para a Gavekal, a resposta moderada do dólar pode ser explicada pela incapacidade do presidente Donald Trump de evitar a escalada das negociações nucleares para um cenário de guerra, o que reflete a diminuição do papel dos Estados Unidos como "polícia do mundo".

Diplomacia americana

Segundo o analista, Trump ainda pode tentar intermediar uma distensão entre Israel e Irã — uma ação que poderia reduzir a demanda por ativos de proteção e, eventualmente, restaurar o status do dólar como moeda-refúgio em futuros conflitos no Oriente Médio. No entanto, é difícil imaginar um cessar-fogo duradouro, especialmente tendo em vista o insucesso da diplomacia americana em resolver o impasse entre Rússia e Ucrânia.

Se os EUA se envolverem mais diretamente ao lado de Israel em um conflito total no Oriente Médio — uma possibilidade que Trump ainda não descartou —, o cenário mais provável seria um aumento nos gastos militares e, consequentemente, nos déficits fiscais.

Para financiar esse déficit em um momento de hesitação dos investidores estrangeiros, o governo americano poderia adotar uma alternativa regulatória: permitir que os bancos comerciais mantenham mais títulos do Tesouro sem ter que atribuir pesos de risco a esses ativos, o que os isentaria de reservar capital para essas posições.

Nesse cenário, os bancos comerciais se tornariam máquinas de financiamento do déficit, resultando em um aumento da base monetária em dólares. Isso, por sua vez, pressionaria a cotação da moeda e incentivaria ainda mais a saída de capitais.

Com o dólar sem reagir fortemente diante do conflito entre Israel e Irã, a Gavekal questiona se esta desvalorização levará investidores estrangeiros a abandonar as ações americanas.

O apetite por ativos dos EUA tem diminuído entre investidores internacionais. Embora o índice S&P 500 esteja apenas 2% abaixo do pico de fevereiro, os investidores domésticos comemoram a resiliência do mercado de ações. Porém, os estrangeiros enfrentaram uma perda de 11% quando convertida a performance para moeda estrangeira.

Além disso, ações fora dos EUA têm se tornado mais atraentes, com avaliações mais vantajosas e desempenho superior no ano de 2025, quando comparado aos ativos americanos. Como um bônus, esses papéis apresentaram quedas menores e menor volatilidade.

Além da performance, os investidores estrangeiros têm um motivo adicional para se afastar das ações dos EUA. O projeto "Big Beautiful Bill" inclui medidas que permitem ao governo dos Estados Unidos impor "impostos de retaliação" sobre estrangeiros que possuam ativos no país, além de uma taxa sobre remessas. Essas medidas têm sido vistas como um estágio inicial de controles de capitais.

Diante desse cenário, a Gavekal acredita que os investidores estrangeiros já estão inclinados a vender ações americanas. Se o índice DXY continuar a cair, como tem ocorrido desde janeiro, isso pode ser o gatilho que provocará uma venda maciça de ativos.

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