O Goldman Sachs alertou que o risco de interrupção significativa no fornecimento de petróleo e gás aumentou após os ataques dos EUA, embora sua projeção base ainda não preveja grandes cortes imediatos na oferta.
O banco estima que, caso o fornecimento iraniano caia 1,75 milhão de barris por dia, o preço do Brent poderia alcançar US$ 90 o barril. Caso o fluxo pelo Estreito de Ormuz seja reduzido em 50% por um mês e permaneça 10% abaixo do normal por mais 11 meses, o preço do Brent poderia chegar a US$ 110.
Para o Brasil, a alta inicial no preço do petróleo pode ser vantajosa, especialmente para a Petrobras (PETR3; PETR4).
"O Brasil, como país produtor de petróleo, tende a ganhar mais com a alta, já que o governo brasileiro, como um dos principais acionistas da Petrobras, verá um aumento nas receitas da empresa", disse Leonardo Paz, pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da FGV (FGV NPII), em entrevista à EXAME.
Na escassez, a oportunidade
Com a possível escassez de petróleo, países como a China, grandes compradores de petróleo iraniano, se veriam forçados a buscar novos fornecedores.
O Brasil, com suas vastas reservas de petróleo offshore, pode se tornar uma alternativa estratégica para esses mercados, principalmente na Ásia e Europa. "O aumento na demanda por petróleo brasileiro pode abrir portas para novos contratos de longo prazo e parcerias comerciais", disse Paz, destacando o potencial de crescimento para a Petrobras.
Em 2011, durante o conflito da Líbia, os preços do petróleo saltaram de US$ 93 para US$ 130, o que teve um impacto significativo na economia global. Uma interrupção do fornecimento de petróleo do Oriente Médio pode criar um efeito semelhante, e o Brasil pode se beneficiar dessa situação.
O JPMorgan, por sua vez, estimou que há cerca de 21% de chance de o conflito entre Israel, EUA e Irã interromper a produção de energia no Golfo Pérsico, o que poderia elevar o preço do petróleo em até 75%, para US$ 120–130 o barril.
Esse aumento nos preços reforça a possibilidade de que o Brasil se beneficie com um crescimento nas exportações, especialmente devido à sua capacidade de fornecer petróleo para mercados que precisam de alternativas.
"No médio prazo, o Brasil estará mais preparado para lidar com as flutuações dos preços, uma vez que o restante da oferta global de petróleo não será tão afetado. Vamos ter problema com cerca de 20% da oferta de petróleo, mais ou menos, mas o restante, 80%, não vai ser prejudicado e a oferta pode ser aumentada", explicou Paulo Feldmann, professor da Faculdade de Economia da USP.
Esse posicionamento pode fortalecer a posição do Brasil no mercado global e proporcionar uma maior projeção internacional no campo da energia.
Para o especialista, no entanto, o impacto deve ser neutro para a indústria brasileira. "Se o Irã fechar o estreito de Ormuz, o Brasil não será nem muito favorecido, nem muito prejudicado. A consequência imediata será um aumento no preço, mas esse aumento não será duradouro", disse Feldmann.
E os riscos?
Mas nem tudo é vantajoso para o Brasil. O país também importa combustíveis refinados e gás natural liquefeito (GNL), sendo que uma parte significativa desse suprimento passa pelo Estreito de Ormuz.
"O fechamento do estreito pode afetar diretamente os custos internos do Brasil, elevando os preços de gasolina, diesel e GNL", disse Paz.
Além disso, segundo ele, o aumento nos preços do petróleo tende a gerar uma pressão inflacionária interna. Isso é especialmente preocupante em um momento em que a inflação já está elevada, pressionando os custos internos e impactando diretamente os consumidores.
Em junho, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,26%, acumulando alta de 5,32% nos últimos 12 meses. No ano, o IPCA acumula alta de 2,75%.
O fechamento do estreito de Ormuz poderia afetar negativamente as exportações brasileiras, especialmente no setor agropecuário, segundo Paz.
O Brasil, de acordo com o pesquisador, tem mercados importantes na região do Oriente Médio, incluindo o Irã e os Emirados Árabes Unidos, e a instabilidade causada pela crise poderia dificultar o acesso a esses mercados.
O risco de uma instabilidade econômica global também está no radar dos analistas. O fechamento do estreito de Ormuz, para Paz, pode gerar um "efeito dominó".
"Essa fuga de capitais, impulsionada pela incerteza global, pode resultar em um aumento das incertezas no mercado financeiro, afetando diretamente a confiança dos investidores e elevando os custos do crédito", afirmou.
"Essa instabilidade ainda pode afetar mercados emergentes como o Brasil, o que resultaria em um aumento dos juros e na elevação do risco percebido pelos investidores"
O aumento nos preços do petróleo também foi destacado no cenário de incerteza pelos grandes bancos. O JPMorgan ressaltou que o risco geopolítico já está parcialmente refletido nos preços, com uma alta de cerca de 14% desde 12 de junho.
Apesar de o cenário base do banco projetar uma estabilidade nos preços do Brent, caso não haja agravamento, o aumento de preços já é um fator de pressão no mercado global. O Goldman Sachs também já alertou sobre o aumento do risco geopolítico embutido nos preços, com um prêmio de US$ 12 por barril já refletido.
Por sua vez, analistas de ambas instituições concordam que a volatilidade continuará no mercado, dependendo da resposta do Irã e da evolução do conflito.