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Do Reddit ao lucro: ações esquecidas disparam com força de pequenos investidores

Sem estímulos do governo, ações especulativas disparam com apoio de apps e redes sociais

Publicado em 4 de agosto de 2025 às 07h10.

As "meme stocks" estão de volta ao radar de Wall Street. Empresas como Opendoor (OPEN), Rocket Companies (RKT), Kohl’s (KSS) e Krispy Kreme (DNUT), pouco valorizadas por fundos profissionais, dispararam nas últimas semanas, impulsionadas por investidores pessoa física organizados em redes sociais e plataformas digitais.

O grupo ficou conhecido como "ações Dork", acrônimo formado pelas iniciais dos seus respectivos tickers: DNUT, OPEN, RKT, KSS. Em inglês, dork também é uma gíria para alguém considerado desajeitado ou excêntrico, o que confere um tom irônico ao apelido.

Apesar de atuarem em setores diferentes, essas companhias compartilham dois pontos em comum: têm sido alvo de posições vendidas por hedge funds e, ao mesmo tempo, atraem investidores de varejo que compram os papéis com a intenção de provocar um “short squeeze”, movimento que força os vendidos a recomprar as ações, alimentando ainda mais a alta.

Em julho, por exemplo, as ações da Opendoor chegaram a subir mais de 500% antes de perder parte dos ganhos. O movimento lembra a euforia vivida em 2021 com GameStop e AMC, e acontece mesmo sem estímulos fiscais ou juros baixos como no auge da pandemia.

Acesso fácil ao mercado

Desta vez, o principal combustível da especulação vem da evolução tecnológica. Aplicativos de corretoras digitais oferecem acesso fácil a ativos de risco e a estratégias alavancadas. A Robinhood, um dos principais nomes desse ecossistema, já acumula alta de 169% no ano, segundo a revista britânica The Economist.

O apetite por risco não se limita às ações "Dork". Segundo análise do Goldman Sachs, os volumes de negociação em penny stocks, empresas deficitárias e ações com valuations elevados voltaram a níveis observados apenas duas vezes nas últimas décadas: na bolha das "pontocom", no fim dos anos 1990, e na pandemia, em 2021.

Outro indicador é o crescimento expressivo das operações com opções de vencimento no mesmo dia. No segundo trimestre de 2025, foram 2,1 milhões de contratos negociados, de acordo com a Cboe Global Markets. A estimativa é que metade dessas transações tenha origem no varejo.

Hoje, os investidores pessoa física respondem por cerca de 20% do volume negociado nas bolsas americanas. O número está abaixo do pico de 24% em 2021, mas segue muito acima da média observada na década passada, que variava entre 10% e 16%.

Para Cliff Asness, fundador da gestora AQR, esse comportamento já afeta a eficiência do mercado. Em 2024, ele escreveu que a combinação entre tecnologia, redes sociais e negociação gamificada por celular estaria por trás de distorções crescentes nos preços dos ativos.

Segundo a The Economist, o grande teste para esse novo perfil de investidor ainda está por vir. No primeiro semestre de 2025, quando o S&P 500 caiu mais de 20%, investidores de varejo aproveitaram a baixa para comprar e impulsionaram uma recuperação rápida. A dúvida é se a mesma disposição estará presente diante de uma crise mais profunda ou de uma recessão prolongada.

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