Jerome Powell: presidente do Fed tem sofrido críticas de Trump e pode deixar o mandato até o final do ano (Samuel Corum/Getty Images)
Freelancer
Publicado em 26 de junho de 2025 às 06h24.
O dólar caiu no início desta quinta-feira, 26, e atingiu o menor nível desde abril de 2022. O enfraquecimento ocorreu após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sinalizar a possibilidade de indicar um novo presidente para o Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, até o final deste ano.
A notícia fez o índice da Bloomberg, que mede o desempenho da moeda norte-americana, sofrer uma desvalorização de 0,4%. No acumulado do ano, o dólar já recuou mais de 8%.
Com a especulação de que Trump deve escolher um sucessor de Jerome Powell — atual presidente do Fed — mais favorável a juros baixos, os operadores elevaram as apostas para cortes nas taxas básicas, segundo reportagem do The Wall Street Journal. Os mercados passaram a projetar 66 pontos-base de alívio até o fim de 2025, contra os 51 pontos-base no fim da semana passada. Os dados foram indexados à taxa overnight.
“Isso efetivamente reduz a influência de Jerome Powell, já que todos passam a focar no próximo presidente do Fed”, disse Matthew Haupt, gestor da Wilson Asset Management em Sydney. “É uma inclinação mais dovish”, completou, em referência à expectativa de uma política monetária mais frouxa.
A moeda caiu frente a todas as principais moedas globais. Os maiores ganhos registrados foram pelas divisas de Taiwan, Coreia do Sul e África do Sul.
Para Ignatius Pang, chefe de câmbio do Union Bancaire Privée, mesmo que o dólar esteja em baixa, a moeda ainda pode ter momentos pontuais de valorização. Segundo o analista à Bloomberg, esses momentos devem ser aproveitados para diversificar os investimentos, trocando parte das reservas em dólar por outras moedas ou ativos.
“Esse tipo de manchete pesa muito sobre o dólar”, afirmou.
Os nomes mais cotados para substituir Powell são Kevin Warsh, atual governador do Fed, e Kevin Hassett, ex-diretor do Conselho Econômico Nacional, segundo o WSJ. Trump declarou na última quarta-feira, 25, que considera "três ou quatro" nomes para a função.
O mandato do atual presidente do Fed termina apenas em maio de 2026. Entretanto, Powell tem sofrido diversas críticas de Trump, que não apoia a postura do banco em manter os juros estáveis e alega que isso encarece o financiamento da dívida pública.
Diante dos pronunciamentos contra Powell, Trump afirmou - em abril - que não teria a menor intensão de demitir o presidente do banco central dos EUA.
“A pressão sobre Powell para cortar os juros deve aumentar, o que contribui para a pressão de venda sobre o dólar”, afirmou Rodrigo Catril, estrategista do National Australia Bank.
Para analistas da Bloomberg, a perspectiva de uma nomeação antecipada eleva as chances de corte já em julho, não apenas em setembro como era esperado. “Isso aumenta os riscos para o mercado levar a reunião de julho mais a sério, talvez com uma redução de 25 pontos-base”, avaliou o estrategista Mark Cranfield.
Além da questão política, o dólar e os títulos do Tesouro americano enfrentam um cenário de menor atratividade, em meio à expansão do déficit fiscal e à incerteza sobre os efeitos das tarifas comerciais impostas pelo presidente americano.