Dólar: enfraquecimento global da moeda americana abre espaço para avanço do real (Jason Dean/Getty Images)
Redatora
Publicado em 16 de setembro de 2025 às 11h23.
O dólar abriu nesta terça-feira, 16, cotado a R$ 5,3105 por volta das 10h45 (horário de Brasília), em leve queda de 0,12%. Na véspera, a moeda americana já havia recuado 0,61% e fechado a R$ 5,321, o menor valor desde junho de 2024.
O movimento acompanha a fraqueza global da moeda americana, com o DXY, índice que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de divisas, recuando 0,26%.
A expectativa de corte de juros nos Estados Unidos, reforçada por dados recentes de inflação e emprego, está no centro do enfraquecimento do dólar. Analistas do Goldman Sachs afirmam que a combinação de política monetária mais frouxa no país e ajustes no custo de hedge deve impulsionar ainda mais a busca por moedas de países emergentes.
O real aparece entre os destaques, beneficiado pela taxa Selic elevada e pelo diferencial de juros atrativo. De acordo com Daniel Toledo, consultor de negócios internacionais, a valorização do real também vem sendo apoiada pelos leilões de swap cambial promovidos pelo Banco Central, que contribuem para aliviar pressões sobre o câmbio.
Silvio Campos Neto, sócio e economista-sênior da Tendências Consultoria, reforça que a queda é essencialmente global. “Não tem hoje nenhum elemento nos fundamentos dos Estados Unidos que possa reverter de forma substancial essa dinâmica de enfraquecimento. O dólar segue fragilizado no mundo todo", disse à EXAME.
A valorização do real diante da moeda americana não afeta todos os setores de forma semelhante. Exportadores perdem competitividade, mas segmentos mais direcionados para o mercado interno, dependentes de insumos importados e com receitas em reais, tendem a sair ganhando.
Entre os mais beneficiados estão o setor automotivo, o de eletrônicos, a indústria química e a farmacêutica. “Com o dólar mais baixo, setores que usam produtos importados conseguem reduzir custos”, afirmou Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas.
Rafael Pérez, economista da Suno Research, acrescenta que “automóveis, eletrodomésticos e fármacos ficam mais baratos com a queda do dólar”, o que também contribui para aliviar a inflação.
O varejo aparece como outro destaque. Para Gusmão, produtos importados ficam mais acessíveis ao consumidor final. Gabriel Redivo, sócio da Aware Investments, lembra que empresas como Magazine Luiza, Renner e Vivara se beneficiam desse barateamento dos insumos e o aumento do poder de compra.
João Soares, sócio-fundador da Rio Negro Investimentos, reforça que essa dinâmica “aumenta margens e, de forma mais ampla, reduz pressões inflacionárias, estimulando o consumo das famílias”.
Gabriel Redivo também cita a construção civil, em especial as incorporadoras de média e alta renda, como Cyrela e MRV, que se beneficiam do arrefecimento da inflação e da melhora nas condições de crédito.
Já Bruna Centeno, sócia advisor da Blue3 Investimentos, aponta a tecnologia como destaque: “Com diferencial de juros elevado, o real atrai capital externo e se valoriza. Isso cria um cenário mais positivo para empresas de tecnologia, que sofrem com juros altos, além de varejo e consumo interno.”
As companhias aéreas também estão entre as maiores favorecidas. “O setor aéreo é muito dolarizado, em especial pelo combustível de aviação. Nesse cenário, as empresas se beneficiam e podem até aliviar tarifas”, afirmou Silvio Campos Neto, da Tendências.
Gusmão acrescenta que o turismo internacional também ganha impulso, pois viajar para fora do país se torna mais acessível.
Pérez, da Suno Research, reforça que a queda do câmbio também ajuda a reduzir o preço da gasolina e do diesel importados, aliviando custos em toda a cadeia de energia.
Por outro lado, a valorização do real pressiona exportadores. Campos Neto lembra que indústrias intensivas em mão de obra, como a de calçados, têm custos em reais e receitas em dólar. “Nessa equação, o câmbio mais baixo reduz a competitividade e aperta margens”, afirmou.
O mesmo ocorre com parte do agronegócio. Defensivos e fertilizantes importados ficam mais baratos, mas a receita em dólar com vendas externas diminui. Centeno ressalta que “o setor de commodities tende a perder fôlego em um cenário de dólar mais fraco”.
Na mesma linha, Pérez destacou que segmentos como minério de ferro e soja também saem prejudicados, pois a queda do câmbio reduz a receita obtida com exportações.