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Dólar sobe após ataques dos EUA ao Irã, mas analistas veem efeito temporário

Moeda americana sobe com busca por proteção, mas preocupações fiscais e tarifas ameaçam sustentação no médio prazo

Publicado em 23 de junho de 2025 às 06h17.

O dólar subiu nesta segunda-feira, 23, beneficiado por seu papel tradicional de ativo de proteção em momentos de crise, após os ataques militares dos EUA contra instalações nucleares iranianas. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a outras moedas, avançou 0,45% nas primeiras horas do dia, refletindo ganhos sobre o euro, a libra esterlina, o iene e moedas ligadas a commodities como o dólar australiano.

Kirstine Kundby-Nielsen, estrategista de câmbio do Danske Bank, afirmou à CNBC que a “a escalada da crise no Oriente Médio ativa mecanismos clássicos de busca por segurança: petróleo em alta, ações em queda e dólar forte.

Mas o movimento pode ser passageiro. Diversos bancos de investimento avaliam que a valorização do dólar oculta fragilidades estruturais da moeda americana — como o déficit fiscal elevado, tensões comerciais com a Europa e uma expectativa de aumento na oferta de títulos do Tesouro dos EUA.

Retaliação do Irã e bloqueio de Ormuz ainda são fatores-chave

Parte da força recente do dólar decorre do temor de que o Irã tente retaliar com o bloqueio do Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 20% do petróleo global. Para Halima Croft, da RBC Capital, o Irã pode usar estratégias assimétricas para aumentar o custo econômico das ações de EUA e Israel, mesmo sem fechar totalmente a rota marítima.

Jordan Rochester, do banco Mizuho, disse à CNBC que duvida de um bloqueio total do estreito, citando pressões de aliados como a China e o cuidado dos EUA com infraestrutura energética da região. O petróleo subiu mais de 7% na sexta-feira e ainda opera acima de US$ 77.

Mercado de Treasuries não reage como esperado

Apesar da escalada geopolítica, os títulos do Tesouro americano — outro tradicional porto seguro — mostraram reação fraca. Kundby-Nielsen aponta que a dívida crescente dos EUA e o risco de novas tarifas prejudicam a atratividade dos Treasuries.

Esse descompasso também reflete o ceticismo com relação à força do dólar. Segundo o Bank of America, a posição "vendida" em dólar — aposta em sua desvalorização — é atualmente a terceira mais comum entre grandes gestores globais, com base em levantamento feito antes da entrada dos EUA no conflito.

Guerra oculta fraquezas do dólar

Para analistas da Macquarie, o dólar estaria em trajetória de queda não fosse a guerra. A combinação de dados econômicos fracos, aumento da aversão ao risco global e ameaças tarifárias contra a União Europeia torna o ambiente mais adverso à moeda americana no médio prazo.

Com a trégua comercial prestes a expirar em 9 de julho e o governo Trump ameaçando impor tarifas de até 50% sobre produtos europeus, investidores avaliam que o dólar pode perder força assim que o efeito de “porto seguro” da guerra for dissipado.

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