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Qual o futuro do dólar? Tarifas de Trump e avanço dos Brics colocam moeda em xeque

Mercado projeta queda adicional de até 10% ou recuperação da moeda, em meio a juros mais baixos nos EUA e tensões geopolíticas

Publicado em 11 de agosto de 2025 às 07h28.

Última atualização em 11 de agosto de 2025 às 08h26.

O futuro do dólar americano continua incerto, pressionado pelas  novas tarifas comerciais impostas pelo presidente Donald Trump, incertezas quanto à trégua comercial com a China e a pressão geopolítica de países emergentes.

Apesar das turbulências, a moeda mantém posição central no sistema financeiro internacional: está presente em cerca de 90% das transações cambiais, participa de quase metade do comércio global de mercadorias e representa aproximadamente 60% das reservas internacionais de governos, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Essa hegemonia garante aos Estados Unidos a capacidade de financiar déficits elevados a custos relativamente baixos, sustentados pela demanda global por ativos denominados em dólar.

Mas analistas estão divividos sobre o que vem pela frente. Parte do mercado projeta uma desvalorização prolongada, impulsionada por juros mais baixos e crescimento econômico mais fraco nos EUA. Outros, porém, veem na redução das incertezas comerciais uma oportunidade para recuperação ainda neste ano.

Projeções para a moeda

Segundo os analistas do Morgan Stanley, o dólar encerrou o primeiro semestre de 2025 com a maior perda desde 1973, acumulando queda de cerca de 11% frente a uma cesta de moedas. Para o banco, o movimento marcou o fim de um ciclo de alta iniciado em 2010, e a desvalorização deve continuar, podendo somar mais 10% até o fim de 2026.

“O segundo ato do enfraquecimento do dólar deve ocorrer nos próximos 12 meses, à medida que as taxas de juros e o crescimento dos EUA convergirem com os de outras economias”, afirmou David Adams, chefe de estratégia de câmbio do G10 no banco.

Os economistas da instituição projetam crescimento de 1,5% em 2025 e 1% em 2026, com juros caindo para cerca de 2,5% nesse período.

O estreitamento do diferencial de taxas em relação a outros países tende a reduzir a atratividade do dólar. Além disso, parte da pressão vem do comportamento de investidores estrangeiros, que passaram a proteger suas posições contra quedas na moeda.

Já a consultoria britânica Capital Economics vê espaço para uma recuperação moderada ainda neste ano, caso as incertezas comerciais diminuam e o Federal Reserve (Fed) mantenha a taxa básica.

“Esperamos que a pressão inflacionária induzida pelas tarifas mantenha o Fed hesitante em cortar juros de forma muito profunda, o que sustentaria o dólar”, afirmou a equipe de análise.

No mercado, o banco holandês ING avalia que um avanço de 0,3% no núcleo do CPI mensal daria ao Fed espaço para cortar juros já em setembro, diante do enfraquecimento do mercado de trabalho. Segundo dados da Reuters, operadores precificam cerca de 90% de chance de um corte de 0,25 ponto percentual no mês que vem, e até dois cortes adicionais até dezembro.

Avanço dos Brics

Além dos fatores econômicos, cresce a atenção para a pressão geopolítica sobre o dólar. O analista norte-americano Gerald Celente, fundador do Trends Research Institute, avalia que a “morte do dólar já começou”, impulsionada pela busca de autossuficiência de economias como Índia e China e pela resistência dos países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) à política externa de Washington.

Segundo ele, as tarifas impostas pelos EUA a parceiros como Brasil e Índia, por importarem petróleo russo, aprofundam o afastamento desses países e aceleram o esforço do bloco para reduzir sua dependência da moeda americana no comércio exterior.

Esse movimento inclui a criação de mecanismos financeiros alternativos ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco Mundial. Na visão do analista, o foco dos EUA em manter a supremacia militar, em detrimento do fortalecimento da economia doméstica, pode fragilizar a posição do dólar no longo prazo.

Ainda assim, analistas ouvidos pela Bloomberg ponderam que, no curto prazo, não há outra moeda com liquidez, profundidade de mercado e confiança suficientes para substituir o dólar como principal reserva global.

A supremacia se apoia não apenas na dimensão da economia americana, mas também na estabilidade institucional, na robustez do mercado de Treasuries e no peso político de Washington.

A expectativa é de uma transição gradual para um sistema mais “multimoeda”, no qual o dólar permaneceria dominante, mas com participação crescente de concorrentes como o euro, o yuan e, em menor escala, moedas de países emergentes. Dessa forma, as transações comerciais e as reservas internacionais tenderiam a se diversificar, reduzindo o peso da moeda americana sem provocar uma ruptura abrupta na arquitetura financeira global.

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