Exposição de receita aos Estados Unidos não é única variável analisada pelos analistas (Pedro Motta/EXAME.com)
Redação Exame
Publicado em 10 de julho de 2025 às 09h19.
O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros importados a partir de 1º de agosto de 2025 acendeu o sinal de alerta no setor de bens de capital. Segundo analistas do Bradesco BBI, embora ainda haja incertezas sobre os detalhes da aplicação da tarifa — especialmente se ela será cumulativa em relação a outras já existentes, como a de 25% sobre autopeças — o impacto pode ser relevante para diversas empresas brasileiras com presença nos EUA.
As dúvidas que permanecem envolvem, por exemplo, se a produção parcial ou final nos Estados Unidos poderá isentar a companhia da tarifa ou se a alíquota será aplicada mesmo em operações com etapas locais. Também há incerteza quanto ao potencial redirecionamento de exportações para outros mercados, o que poderia suavizar o golpe.
Com base nas estimativas de exposição ao mercado americano e nas estratégias operacionais de cada companhia, os analistas identificaram quais empresas sob sua cobertura estão mais vulneráveis ao tarifaço. A seguir, a análise do Bradesco BBI — da mais à menos exposta.
A Embraer aparece como a empresa mais exposta, com cerca de 60% de sua receita originada da América do Norte. A estimativa preliminar dos analistas é de que o impacto nas operações da companhia possa chegar a aproximadamente US$ 220 milhões no EBIT (lucros antes de juros e impostos) de 2025, o que representa cerca de 35% do resultado operacional esperado para o ano.
A companhia pode mitigar parte do impacto por meio de sua operação nos EUA: enquanto os jatos Phenom são produzidos diretamente no país, os Praetor têm sua montagem final feita em território americano. Se a exigência da nova tarifa for de produção local para isenção, essas operações poderiam reduzir significativamente o efeito da medida.
Ainda assim, os analistas ponderam que não está claro se isso será suficiente para isentar todos os produtos da tarifa. Estratégias como aumento de preços em novas encomendas e ajustes nas tarifas de serviços e peças também são caminhos para compensar parcialmente as perdas.
Com 23% da receita exposta ao mercado americano, a Tupy tem entre 50% e 60% dessas vendas provenientes de exportações feitas a partir do Brasil. Isso significa que cerca de 13% da receita total da empresa poderia ser impactada pela nova tarifa, levando a uma possível perda de competitividade frente a concorrentes com produção local ou com acesso a tratados mais favoráveis.
A WEG tem aproximadamente 28% de sua receita oriunda dos Estados Unidos, mas apenas um terço disso — ou cerca de 9% da receita total — advém de exportações feitas diretamente do Brasil. A empresa conta com fábricas nos EUA e no México (que participa do USMCA, o acordo comercial entre EUA, México e Canadá), o que deve reduzir sensivelmente o impacto.
Além disso, o forte momento do mercado de Transmissão & Distribuição — responsável por 41% da receita da companhia — pode oferecer oportunidades de redirecionamento das vendas para outros países, segundo os analistas do BBI.
Para a Randoncorp, o impacto seria principalmente sentido por meio de sua subsidiária Fras-le, cujas exportações a partir do Brasil representam cerca de 5% da receita total da empresa. Além disso, a divisão Master também contribui com cerca de 4% da receita vinda de exportações diretas ao mercado americano.
A existência de fábricas tanto da Randoncorp quanto da Fras-le nos Estados Unidos pode ajudar a mitigar o efeito da nova tarifa.
A Iochpe-Maxion tem apenas 5% da sua receita originada nos EUA, sendo que apenas cerca de 1% da receita total vem de exportações do Brasil para esse mercado. A companhia possui fábricas em diversos países, incluindo os próprios Estados Unidos, o que diminui significativamente sua vulnerabilidade ao tarifaço. A Mahle Metal Leve, por sua vez, tem cerca de 10% de sua receita vinda do mercado americano. O relatório, contudo, não especifica a fração que é exportada a partir do Brasil.