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EUA enfrentam risco de 'ataque cardíaco econômico', alertam especialistas

Nomes importantes da Bridgewater Associates, FMI e Harvard alertaram para uma crise de dívida: juros, inflação e política fiscal foram os principais pontos levantados

Estados Unidos: especialistas falam sobre crise fiscal e 'ataque cardíaco econômico'. (	Bo Zaunders/Getty Images)

Estados Unidos: especialistas falam sobre crise fiscal e 'ataque cardíaco econômico'. ( Bo Zaunders/Getty Images)

Estela Marconi
Estela Marconi

Freelancer

Publicado em 16 de junho de 2025 às 10h55.

Apesar do alívio recente nos mercados após uma semana de forte demanda por títulos públicos, três importantes especialistas ouvidos pelo Goldman Sach (GS) alertam que os Estados Unidos ainda correm risco de enfrentar uma grave crise de dívida.

Ray Dalio, Ken Rogoff e Niall Ferguson apontam que os altos níveis de endividamento, somados às medidas fiscais adotadas pelo presidente Donald Trump, podem levar o país a um colapso econômico.

Estima-se que o pacote de cortes de impostos e aumento de gastos proposto por Trump adicione trilhões de dólares ao déficit público nos próximos anos. Embora os últimos leilões do Tesouro tenham mostrado apetite dos investidores, os analistas destacam que o cenário fiscal segue frágil e longe de estar sob controle.

A previsão de Dalio

Para o bilionário Ray Dalio, fundador da Bridgewater Associates, o risco de uma crise se aproxima por três fatores principais:

  1. O crescimento dos juros pagos em relação à arrecadação do governo;

  2. O volume de títulos emitidos acima da demanda dos investidores, o que exigiria elevação dos juros;

  3. A necessidade de o Federal Reserve imprimir dinheiro para comprar os títulos remanescentes, alimentando a inflação e desvalorizando o dólar.

"Esses sinais de deterioração estão claros. Uma crise assim ocorre quando o governo é forçado a cortar os gastos financiados por dívida — como um ataque cardíaco econômico induzido por ela", afirmou Dalio.

Ele defende que o déficit seja reduzido para 3% do PIB. Com isso, segundo ele, os juros poderiam cair até 1,5 ponto percentual, reduzindo o peso dos encargos sobre a dívida e estimulando a economia.

Crise em cinco anos?

Ex-economista-chefe do FMI, Ken Rogoff acredita que, caso a política econômica de Trump continue, os EUA podem enfrentar uma crise da dívida entre quatro e cinco anos - antes do prazo de cinco a sete anos que ele estimava antes da reeleição de Trump.

"A ideia de que dívida é um almoço grátis é absurda", criticou. "O déficit atual, em cima de uma dívida já elevada, prepara o terreno para um ajuste profundo."

Segundo ele, a crise pode acontecer por dois caminhos: um choque inflacionário severo ou a manipulação dos juros e do fluxo de capitais para controlar a dívida — medidas que podem prejudicar o crescimento e penalizar os poupadores.

Rogoff também destaca que os juros mais altos devem permanecer, encerrando o ciclo de taxas baixas que marcou a última década. “Voltar ao período de juros baixos pode ser apenas uma ilusão.”

A 'Lei de Ferguson'

Para o historiador e pesquisador de Harvard, Niall Ferguson, uma possível crise fiscal pode ser agravada por desafios militares que comprometam o status dos EUA como potência global.

Ferguson usa uma métrica própria, que chama de “Lei de Ferguson”: quando um país gasta mais com juros da dívida do que com defesa, sua posição como potência entra em risco.

Segundo dados do Tesouro, os EUA gastaram US$ 1,1 trilhão com juros da dívida em 2024, superando os US$ 883,7 bilhões destinados à defesa. “Qualquer grande potência que gasta mais com dívida do que com as Forças Armadas se expõe a desafios”, afirmou. “Os EUA são só o mais recente exemplo dessa armadilha.”

Ele ressaltou que o país só conseguiu se financiar até agora por conta do dólar ser moeda de reserva global e dos títulos do Tesouro ainda serem vistos como seguros. Mas, segundo ele, esse cenário começa a mudar, com investidores migrando para outros ativos fora dos EUA.

“Há 20 anos eu venho alertando para essa trajetória insustentável. Às vezes me sinto como o menino que gritou ‘lobo’”, disse Ferguson.

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