Fed: Comitê de Mercado Aberto (Fomc) corta juros em 0,25 ponto percentual (p.p.) (Chip Somodevilla/Getty Images)
Repórter de finanças
Publicado em 29 de outubro de 2025 às 14h33.
Última atualização em 29 de outubro de 2025 às 15h43.
O Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) cortou, na reunião desta quarta-feira, 29, os juros básicos da economia americana em 0,25 ponto percentual (p.p.) para a faixa de 3,75% a 4%. O movimento era amplamente aguardado pelo mercado, que precificava em 97,8% de chance do Fed cortar os juros nessa magnitude.
A decisão, no entanto, não foi unânime. Stephen Miran (indicado por Donald Trump) preferia reduzir o intervalo-alvo em 0,50 ponto percentual, enquanto Jeffrey Schmid preferia manter o intervalo-alvo inalterado nesta reunião.
Ainda assim, o mercado ainda precifica mais um corte de 0,25 p.p. em dezembro. Segundo a plataforma FedWatch, do CME Group, 84,1% apostam que os fed funds cairão para a faixa de 3,50% a 3,75%, enquanto 15,3% esperam uma manutenção e apenas 0,7% apostam em uma alta de 0,25 p.p..
Um ponto relevante da decisão foi o anúncio de que o Fed deve encerrar a redução do seu balanço a partir do final de novembro.
"O balanço, que chegou a quase US$ 9 trilhões em 2022, está sendo normalizado desde 2023 e deve se estabilizar na casa dos US$ 6 trilhões, ainda acima do nível pré-pandemia, que girava em torno de US$ 4 trilhões", comenta Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.
Segundo ele, esse movimento levanta uma questão para 2026: se o Fed pode voltar a expandir seu balanço em um cenário de inflação ainda elevada e mercado de trabalho lateralizado. "Caso isso ocorra, o dólar pode se enfraquecer ainda mais frente a outras moedas no próximo ano. Por ora, o sinal é de pausa na redução do balanço, o que tende a dar suporte aos ativos de risco globais no curto prazo."
A decisão, no entanto, ocorre em meio ao apagão de dados devido à paralisação de parte do governo americano desde o dia 1º de outubro, que impediu a divulgação do payroll, Índice de Preços de Consumo Pessoal (PCE, na sigla em inglês) e Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre.
Na última sexta-feira, 24, houve a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês). Os números vieram em 0,31% em setembro, e 3% no ano. O núcleo do CPI ficou em 0,23% no mês e 3%. Os dados vieram levemente abaixo do esperado, mas a inflação anual ainda está longe da meta de 2%.
No meio do shutdown, investidores também se apegaram aos discursos dos governadores do Fed que, até o momento, tiveram uma preponderância de falas dovish, pontuou John Kerschner, Global Head of Securitized Products & Portfolio Manager at Janus Henderson.
O diretor Christopher Weller, por exemplo, avaliou em outubro que a inflação nos EUA tende a convergir para a meta de 2% à medida que os impactos de tarifas se dissipam. Na ocasião, Weller disse estar de acordo com outro corte na taxa de juros devido às leituras mistas sobre a situação do mercado de trabalho.
“Com base em todos os dados que temos sobre o mercado de trabalho, acredito que o comitê deve reduzir a taxa de juros em 0,25 ponto percentual em nossa reunião que termina em 29 de outubro”, afirmou em reunião do Conselho de Relações Exteriores em Nova York.
A falta de indicadores também direciona os investidores a olharem com a atenção as falas do presidente do Fed, Jerome Powell, previstas para às 15h30. No dia 14 de outubro, a autoridade reconheceu que, em meio a um mercado de trabalho menos dinâmico e um pouco mais fraco, os riscos de queda para o emprego pareciam ter aumentado.
Segundo William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, o mercado agora buscará pistas na fala de Powell na coletiva - se ele vai deixar a porta aberta ou não para mais cortes — sendo que o mercado espera outro corte em dezembro. "Acredito que a postura dele vai tentar ser o mais em cima do muro possível, porque ele tem falado de não garantir cortes, esperando os dados saírem", disse o especialista.
Para Kerschner, os mercados “aparentemente estão dando ao Fed um passe livre para cortar taxas até o final de 2025”, se concentrando, primeiro, quem sucederá Powell e quão dovish essa pessoa será e, segundo, como a economia está se saindo.