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Fim da era Buffett: 5 pontos para entender os resultados da Berkshire

Com aposentadoria prevista para janeiro, Buffett deixa a Berkshire com recorde de caixa, lucros em alta e sem recompras de ações há cinco trimestres

Warren Buffett: bilionário deixa cargo de CEO da Berkshire no fim do ano (Ankit Agrawal/Mint/Getty Images)

Warren Buffett: bilionário deixa cargo de CEO da Berkshire no fim do ano (Ankit Agrawal/Mint/Getty Images)

Publicado em 2 de novembro de 2025 às 08h20.

A Berkshire Hathaway (BRK/A) divulgou no sábado, 1º, que o lucro da empresa subiu 34% no terceiro trimestre. Mas, mais do que os dados financeiros, o balanço marca o fim de uma era: é o último divulgado enquanto Warren Buffett ainda ocupa o cargo de CEO da companhia.

Aos 95 anos, Buffett se prepara para transferir o comando da holding a Greg Abel em janeiro, encerrando oficialmente uma das gestões mais influentes da história do mercado financeiro.

Mesmo prestes a deixar o posto executivo, Buffett manteve a consistência que caracterizou sua administração. Na Berkshire, ele deixou mais caixa, apresentou lucros fortes, nenhum movimento de recompra de ações e vendas líquidas de ações pela 12ª vez seguida.

Buffett permanecerá como presidente do conselho da Berkshire Hathaway. Ainda assim, o balanço divulgado neste trimestre fecha simbolicamente um ciclo que durou mais de seis décadas — e inaugura um período de novas perguntas para uma das maiores empresas do mundo.

1. Lucro operacional cresce 34%, puxado por seguros

A Berkshire registrou lucro operacional de US$ 13,5 bilhões no terceiro trimestre, ante US$ 10,1 bilhões no mesmo período de 2024 — resultado superior às projeções dos analistas, que esperavam cerca de US$ 8,57 bilhões.

O destaque veio do setor de seguros: o lucro de subscrição somou US$ 2,369 bilhões, frente aos US$ 750 milhões do ano anterior.

O desempenho foi favorecido por uma temporada de furacões menos intensa, queda nas despesas com sinistros e bons resultados na Geico.

Outros segmentos da empresa também apresentaram crescimento, ainda que com algumas exceções.

Os lucros nas áreas de energia e varejo recuaram, com menções específicas a marcas como Duracell, Fruit of the Loom e Squishmallows, impactadas pela confiança do consumidor.

2. Caixa atinge novo recorde

O volume de caixa, equivalentes e investimentos de curto prazo da Berkshire atingiu US$ 381,7 bilhões, um recorde.

O valor representa um crescimento expressivo em relação aos US$ 344,1 bilhões registrados no segundo trimestre.

Boa parte desses recursos está alocada em títulos do Tesouro americano de curto prazo, garantindo liquidez e rendimento com baixo risco.

O movimento reforça o perfil conservador da gestão Buffett, que prefere aguardar oportunidades reais de valor.

Apesar de, historicamente, preferir ativos produtivos a dinheiro, a Berkshire justificou, em carta anterior, que mantém o caixa elevado por falta de alternativas atrativas no mercado.

Para muitos analistas, o montante atual funciona como “pó seco”: recursos disponíveis para investir caso surjam negócios vantajosos.

3. Ausência de recompras sinaliza cautela — ou avaliação de preço

Pelo quinto trimestre consecutivo, a Berkshire não realizou recompras de ações — prática que a empresa retomou com força em 2018, após flexibilizar suas políticas internas.

A ausência prolongada do instrumento indica que Buffett ainda considera o valor das ações da companhia elevado demais para justificar as recompras.

As ações Classe A fecharam o trimestre a US$ 715.740, bem abaixo do pico de US$ 812.855, registrado antes do anúncio da aposentadoria de Buffett, em maio. Mesmo assim, o megainvestidor optou por manter a liquidez.

Recompras, geralmente, são vistas como sinal de confiança da administração e como forma de aumentar o valor por ação. Sua ausência tem alimentado a percepção de que a Berkshire está em compasso de espera, possivelmente aguardando eventos que possam reprecificar o mercado.

4. Estratégia de desinvestimento se mantém

A Berkshire foi, novamente, vendedora líquida de ações no trimestre.

Foram US$ 6 bilhões a mais em vendas do que compras, somando US$ 183 bilhões em vendas líquidas nos últimos 12 trimestres.

A postura confirma a estratégia de acumular caixa enquanto o mercado permanece, na visão de Buffett, com preços pouco atrativos. Mesmo assim, a companhia reforçou que a maior parte do patrimônio continua aplicada em ações.

A decisão mais notável do trimestre foi a aquisição de US$ 9,7 bilhões em ações da OxyChem — o maior investimento da empresa em anos. Ainda assim, a movimentação teve pouco impacto na reserva de caixa.

5. Sucessão e incerteza

Com o anúncio de que deixará o posto de CEO em janeiro, Buffett passa a função executiva para Greg Abel, atual vice-presidente da empresa e responsável pelas operações não seguradoras desde 2018.

Embora o mercado enxergue Abel como uma escolha sólida, analistas apontam para a perda do chamado “Buffett premium” — uma valorização implícita nas ações atribuída à reputação e ao histórico do megainvestidor. As ações da Berkshire subiram 6,1% no ano, contra alta de 16,3% do S&P 500.

A expectativa é de que Abel traga maior detalhamento à gestão e possível abertura para temas historicamente evitados por Buffett, como o pagamento de dividendos.

Cathy Seifert, da CFRA, disse à AP que a pressão por mais transparência pode aumentar, especialmente se a empresa continuar acumulando caixa sem realizar grandes aquisições.

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