Repórter
Publicado em 28 de julho de 2025 às 06h19.
As ações Classe B da Berkshire Hathaway recuaram para 1,6 vez o valor patrimonial, o menor nível registrado em 2025. O movimento evidencia a redução do chamado "prêmio Buffet", o prêmio histórico que investidores pagavam para acompanhar a gestão de Warren Buffett. Em 2 de maio, antes do anúncio de que o executivo deixará o comando da companhia no fim do ano, esse múltiplo estava em 1,7 vez.
O índice preço/lucro (P/L) também aponta desconto. Hoje, a ação negocia a 12,9 vezes, muito abaixo das 22 vezes do S&P 500 e da média histórica da própria Berkshire, de 20,7 vezes na última década. O papel está apenas 6 a 7 pontos percentuais acima do patamar de 1,5 vez o valor patrimonial, nível que tradicionalmente aciona programas de recompra de ações pela companhia.
Durante três décadas, a Berkshire manteve múltiplos superiores a 1,5 vez o valor patrimonial, reflexo da confiança no histórico de Buffett. Até 2018, a companhia só recomprava ações quando o índice caía abaixo de 1,2 vez, criando um “piso” informal para o valor de mercado.
Desde o anúncio da sucessão, os papéis da empresa perderam fôlego. A saída de Buffett reduziu a percepção de segurança que sustentava o prêmio pago pelos investidores. Além disso, a Berkshire está há três trimestres sem recomprar ações, sinal de que a administração considerava o múltiplo acima de 1,7 elevado.
Analistas também citam o impacto da expectativa de cortes nas taxas de juros. A redução das receitas de juros sobre a carteira de mais de US$ 300 bilhões em títulos do Tesouro tende a pressionar os resultados nos próximos trimestres.
A empresa mantém hoje US$ 347 bilhões em caixa e títulos do Tesouro, o equivalente a 34% de seu valor de mercado e um recorde. Segundo o Morningstar, o valor justo da ação Classe B é de US$ 689, o que representaria uma alta de cerca de 30% em relação à cotação atual de US$ 484.
O múltiplo atual está marginalmente acima dos níveis que historicamente acionam recompras de ações, o que pode sinalizar uma oportunidade de valorização futura.
O consenso de mercado indica preço-alvo médio entre US$ 523 e US$ 538, o que representaria uma alta de 8% a 12% em relação ao nível atual. A recomendação predominante é de “compra moderada”, com duas avaliações de compra e quatro de manutenção.
A UBS cita a melhora estrutural da seguradora GEICO, com queda nas despesas e redução de sinistros catastróficos, como um ponto positivo. Já o TD Cowen mantém cautela, destacando a incerteza em torno da sucessão de Greg Abel e o risco de litígios envolvendo a elétrica PacifiCorp.
O mercado também acompanha de perto a possibilidade de a companhia retomar as recompras caso o múltiplo caia para 1,4 vez o valor patrimonial. Historicamente, essas operações funcionaram como um sinal de valorização futura.
A Berkshire mantém um portfólio diversificado que inclui seguros, ferrovias, energia e empresas industriais e de consumo. No último trimestre, o conglomerado registrou lucro operacional de US$ 9,6 bilhões, mesmo com perdas decorrentes de incêndios florestais.
A execução da sucessão de Greg Abel é considerada o principal desafio. Investidores ainda não viram o executivo liderar a companhia em um ciclo econômico completo. Há também a possibilidade de normalização dos lucros da GEICO, que hoje opera com margens recordes, e de redução nas receitas de juros caso os rendimentos dos títulos do Tesouro recuem.
Com caixa recorde e baixo endividamento, a companhia tem espaço para aquisições ou recompras em caso de novas quedas no mercado. Esses fatores podem contribuir para a recomposição do prêmio Buffett nos próximos meses.