Gavekal: para a casa de análise, a política tem pouco efeito nos mercados dos EUA, mas é central na América Latina (Leonardo Benassatto/Reuters)
Repórter de finanças
Publicado em 7 de julho de 2025 às 16h23.
Última atualização em 7 de julho de 2025 às 17h20.
“Tentamos evitar escrever sobre política”, começa o mais recente relatório de Louis-Vincent Gave, da renomada Gavekal Research. Mas ele abriu exceção na análise que circulou nesta segunda-feira, 7, no mercado, à medida que 2026 se aproxima e as primeiras pesquisas das eleições presidenciais pipocam. Gave indaga se a bolsa brasileira já não estaria antecipando um resultado, ao ganhar fôlego e renovar máximas históricas. Ainda que precoce, já que, oficialmente, não há candidatos definidos para o pleito, os números apontam para uma não continuidade do atual governo.
“Correndo o risco de soar caricatural, quando a esquerda vence eleições na América Latina, os investidores locais tendem a temer a chegada de uma figura ao estilo Hugo Chávez, que levará o país a um inferno socialista [...] E quando a direita volta ao poder, o dinheiro local retorna ao país (ou, ao menos, para de sair)”, brinca Gave.
O relatório também cita que as pesquisas indicam a substituição de governos de esquerda ou centro-esquerda pela direita em países como Chile, Colômbia, Peru e Brasil. E para Gavekal, a política tem um peso muito maior na confiança geral dos investidores. Aqui, “parece existir uma forte correlação entre nível de riqueza e posicionamento político”, afirma a análise.
“O pró-mercado [Tarcísio de] Freitas parece ser o favorito do… mercado”, avalia Gavekal.
Neste fim de semana, a coluna do jornalista Lauro Jardim, de O Globo, deu como certa a candidatura de Tarcísio de Freitas à Presidência. O governador de São Paulo aparece à frente do presidente Lula nas últimas pesquisas eleitorais.
A principal incerteza agora gira em torno da escolha do vice na chapa de Freitas — e se essa decisão será suficiente para garantir uma coalizão sólida. No momento, ele parece ter duas alternativas principais: “A primeira é ‘virar mais à direita’ e escolher o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro”, diz a Gavekal.
Um anúncio nesse sentido provavelmente seria bem recebido pelo mercado, já que poderia unificar o voto da direita e evitar sua dispersão — risco que aumentaria caso o próprio Jair Bolsonaro decidisse concorrer.
A outra possibilidade, ventilada neste fim de semana, seria a escolha de Ciro Nogueira Lima Filho, nome de destaque no Centrão, bloco parlamentar de centro-direita com perfil pragmático.
O desfecho mais amigável para os mercados seria construir uma chapa capaz de atrair os três principais blocos do Congresso, conclui a casa. “À primeira vista, isso pode parecer improvável. Mas política é a arte de tornar possível o que é necessário. Qualquer indício de que um acordo assim esteja em formação provavelmente levaria a valorização do real, dos títulos e das ações brasileiras”, finaliza Gave.