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Gripe aviária traz desafio bilionário ao setor de proteínas; veja impactos para BRF e JBS

BRF é a mais vulnerável, por sua grande exposição à produção de frango no Brasil, apontam analistas; ação, contudo, deve oscilar mais de acordo com razão de conversão em fusão com Marfrig

BRF: Ações devem oscilar de acordo com razão de troca com Marfrig, aponta o BTG (SOPA Images/Getty Images)

BRF: Ações devem oscilar de acordo com razão de troca com Marfrig, aponta o BTG (SOPA Images/Getty Images)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 19 de maio de 2025 às 10h05.

Última atualização em 19 de maio de 2025 às 13h13.

A confirmação do primeiro caso de gripe aviária (HPAI) em uma granja comercial no Brasil acendeu um alerta no setor de proteínas, especialmente para empresas como BRF (BRFS3), dona das marcas Sadia e Perdigão, e JBS (JBSS3), dona da Seara.

O foco da doença foi identificado em Montenegro, no Rio Grande do Sul, um dos principais estados exportadores de frango do país. Desde então, diversos países anunciaram a suspensão das importações de carne de frango brasileira — e as consequências já começam a ser estimadas em bilhões de dólares.

Segundo os relatórios de Bradesco BBI e BTG Pactual (do mesmo grupo de controle de Exame), os impactos imediatos são negativos e devem se refletir na pressão sobre preços, interrupção das exportações e perda de margens para as empresas.

O BTG calcula que os países que já impuseram restrições — entre eles China, União Europeia, México, Coreia do Sul, Chile e Argentina — representaram cerca de 42% do valor total exportado pelo Brasil em 2024, o equivalente a US$ 3,9 bilhões. Isso indica um impacto potencial de até US$ 300 milhões por mês enquanto os embargos estiverem em vigor.

Entre as empresas cobertas pelos analistas, a BRF é a mais vulnerável, por sua grande exposição à produção de frango no Brasil.

O Bradesco BBI destaca que, embora o surto atual seja um revés, o evento também reforça a importância da diversificação geográfica das operações — com a BRF já ampliando investimentos no Oriente Médio e até mesmo no segmento de carne bovina.

Apesar do impacto direto no setor, o BTG ressalta que o desempenho das ações da BRF deve continuar mais influenciado pela proposta de fusão com a Marfrig.

Segundo o banco, os papéis da companhia tendem a seguir a razão de conversão das ações no âmbito da operação, o que pode suavizar os efeitos do surto sobre as cotações no curto prazo. O banco mantém recomendação 'neutra' para BRF.

Já a JBS, dona da marca Seara, também será afetada, mas de forma mais branda, graças à sua atuação diversificada no exterior, especialmente nos EUA. O BTG mantém recomendação de 'compra' para o papel.

Embora o Ministério da Agricultura tenha declarado emergência sanitária por 60 dias e ativado protocolos de contenção, o histórico recente com o surto de doença de Newcastle, em 2024, mostra que o impacto pode ser mitigado com medidas regionais. Naquele episódio, as exportações foram redirecionadas com sucesso e os embargos duraram menos que o esperado — a China, por exemplo, suspendeu as compras por apenas duas semanas, apesar de inicialmente anunciar 60 dias.

O maior risco, segundo os analistas, é a duração das suspensões nacionais, uma vez que parte dos parceiros comerciais ainda não implementou protocolos regionais. Em contrapartida, países como Japão, Emirados Árabes e Arábia Saudita já indicaram que vão restringir apenas as cargas provenientes da área afetada.

A depender da resposta internacional e da contenção do vírus, o caso pode se tornar um marco para a implantação definitiva de protocolos sanitários regionais no Brasil. Por ora, no entanto, a situação pressiona o setor e coloca à prova a resiliência das maiores exportadoras de proteína do mundo.

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