China: dados da indústria decepcionaram mercados (Leandro Fonseca /Exame)
Repórter
Publicado em 14 de novembro de 2025 às 07h06.
A sexta-feira, 14, começa movimentada para os mercados, com indicadores relevantes, balanços corporativos e novos sinais de desaceleração global. No Brasil, o destaque fica para o IGP-10 de novembro, divulgado às 8h, que deve apontar alta de 0,18%, enquanto o investidor acompanha a reta final da temporada de resultados, com Azul (AZUL4), Cosan (CSAN3), Raízen (RAIZ4) e Rumo (RAIL3) publicando balanços após o fechamento.
No noticiário político, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participa nesta tarde, às 15h, da cerimônia de recebimento da Ordem Nacional do Mérito da Educação, em Brasília — movimento simbólico em meio às negociações do governo sobre orçamento e regras fiscais.
Mas o foco principal da manhã vem de fora.
Os mercados globais operam em forte aversão ao risco após dados fracos da China, onde a produção industrial cresceu apenas 4,9% em outubro e as vendas no varejo avançaram 2,9%, ambos no pior ritmo em mais de um ano. Já a queda de quase 42% da Hapvida na B3, após um balanço considerado fraco e revisões negativas de análise, segue repercutindo entre investidores locais.
Com bolsas internacionais no vermelho e incerteza sobre juros nos EUA, o dia começa pressionado — e promete volatilidade.
As bolsas internacionais operam em forte queda nesta sexta-feira, pressionadas pelo tom mais duro de dirigentes do Federal Reserve (Fed), que derrubou as apostas por um corte de juros em dezembro.
Segundo a Reuters, mercados agora precificam apenas 49% de chance de redução de 0,25 ponto, abaixo dos mais de 60% vistos no início da semana. A combinação de falta de dados econômicos — consequência do shutdown — e temor de uma bolha de IA aumentou a aversão ao risco.
As principais bolsas do mundo abriram no vermelho:
MSCI Ásia ex-Japão: –2%
Nikkei (Japão): –1,8%
Coreia do Sul: –3,8%
China (CSI300): –0,9% após dados fracos de indústria e varejo
Futuros dos EUA: queda após tombo acentuado na véspera
Na Europa, Londres e Paris também registraram perdas, enquanto o Reino Unido vive volatilidade adicional com rumores sobre mudanças no orçamento do novo governo.
A aversão ao risco elevou a busca por segurança: yields dos Treasuries de 2 anos recuaram para 3,58%, enquanto o ouro operava estável na casa de US$ 4.173. O petróleo Brent subia cerca de 1%, a US$ 63,65.
No Brasil, o destaque corporativo da quinta-feira foi a queda abrupta de 42,1% da Hapvida (HAPV3), que perdeu R$ 6,8 bilhões em valor de mercado em apenas um pregão.
A companhia informou após o fechamento que o conselho aprovou um novo programa de recompra de até 70 milhões de ações, válido por 18 meses.
A derrocada foi motivada principalmente pelo balanço do 3º trimestre. Embora o lucro ajustado tenha apresentado alta, os efeitos não recorrentes levaram a empresa a um prejuízo líquido de R$ 57 milhões.
O BTG Pactual classificou o resultado como “ainda muito poluído”, citando queda de 17% no Ebitda e piora na sinistralidade. Após o balanço, JP Morgan e Bank of America revisaram recomendações e outras casas reduziram preços-alvo.
A economia chinesa voltou a decepcionar. Dados de outubro mostraram crescimento abaixo do esperado na indústria e no consumo, aumentando a pressão sobre Pequim às vésperas de 2026.
Produção industrial: +4,9% (menor ritmo desde agosto de 2024; projeção era 5,5%)
Vendas no varejo: +2,9% (pior leitura em mais de um ano)
Investimentos fixos: –1,7% nos 10 meses do ano
Segundo analistas ouvidos pela Reuters, os resultados reforçam que a China enfrenta “pressões de todos os lados”: demanda doméstica fraca, exportações atingidas pela guerra tarifária com os EUA e crise prolongada no setor imobiliário.
Economistas afirmam que, embora haja espaço para estímulos, o governo chinês deve guardar munição para 2026, já que a meta de crescimento de 5% para 2025 deve ser cumprida com relativa folga.