Redação Exame
Publicado em 1 de agosto de 2025 às 15h50.
Última atualização em 1 de agosto de 2025 às 17h33.
O Ibovespa fechou em queda nesta sexta-feira, 1º, de 0,48%, aos 132.437 pontos, após os investidores observarem o índice fora do ar pela manhã devido a problemas técnicos.
O mercado acompanham com preocupação os efeitos das tarifas de 50% impostas por Donald Trump sobre produtos brasileiros que entram em vigor na próxima terça-feira, 6 de agosto. A medida, oficializada nesta semana por ordem executiva, prevê algumas exceções para setores estratégicos, como aviação, energia e fertilizantes. Mercadorias que já estiverem em trânsito antes do dia 6 e forem desembaraçadas até 5 de outubro estarão isentas da nova cobrança.
Nos Estados Unidos, os índices terminaram o dia no vermelho, após a divulgação de um payroll mais fraco nos Estados Unidos, que reforça a percepção de desaceleração da economia americana. O S&P 500 caiu 1,60%, o Nasdaq 100 perdeu 2,24%, e o Dow Jones recuou 1,23%.
O principal dado do dia, o relatório de empregos dos Estados Unidos (payroll), veio abaixo do esperado e reforçou os sinais de desaquecimento do mercado. Foram criadas 73 mil vagas em julho, ante expectativa de 104 mil, segundo o Departamento do Trabalho. Além disso, os dados de maio e junho foram revisados para baixo em quase 260 mil vagas.
Com isso, a média de geração de empregos nos últimos três meses caiu para 35 mil, o pior resultado desde a pandemia. A taxa de desemprego subiu para 4,2%, em linha com o esperado, e a participação na força de trabalho recuou para 62,2%, menor nível em quase três anos.
Apesar do avanço de 0,3% nos salários médios por hora, o desempenho fraco do mercado de trabalho amplia a pressão sobre o Federal Reserve para cortar juros, movimento defendido publicamente pelo presidente Trump.
Na decisão desta semana, a autoridade monetária manteve os juros inalterados pela quinta vez consecutiva, mas parte do mercado já projeta um corte em setembro.
No Brasil, os principais indicadores econômicos desta sexta-feira, 1º, trouxeram sinais mistos sobre a atividade e os preços.
A produção industrial brasileira subiu 0,1% em junho frente a maio, segundo o IBGE. O resultado, que interrompe dois meses de queda, veio abaixo da expectativa mediana de economistas consultados pela Reuters, que projetavam alta de 0,4%.
Na comparação com junho de 2024, a produção caiu 1,3%, resultado também mais fraco que o esperado, já que o mercado previa retração de 0,6%. No acumulado de 2025, a indústria ainda mostra crescimento de 1,2%, com avanço de 2,4% nos últimos 12 meses.
Já o Índice de Preços ao Consumidor – Semanal (IPC-S) subiu 0,37% em julho, acumulando alta de 4,05% em 12 meses, segundo a FGV-Ibre. O principal impacto partiu do grupo Saúde e Cuidados Pessoais, cuja variação acelerou de 0,30% para 0,69%. Também registraram aceleração os grupos Despesas Diversas (1,10%), Habitação (0,88%) e Vestuário, que reduziu a queda de -0,30% para -0,07%.
Nesta sexta-feira, 1º, os investidores monitoram a entrada em vigor das novas tarifas comerciais dos Estados Unidos. À meia-noite, expirou o prazo estabelecido pelo presidente Donald Trump para a entrada em vigor das novas tarifas “recíprocas”. A Casa Branca confirmou os aumentos tarifários sobre produtos de mais de 67 países, com alíquotas que variam entre 10% e 50%, dependendo do parceiro comercial.
O Brasil recebeu uma das tarifas mais elevadas: 50%, embora algumas categorias, como aeronaves, energia e fertilizantes, tenham sido excluídas. A medida agrava um momento delicado para o governo, que articula uma resposta coordenada à escalada protecionista dos Estados Unidos.
No Palácio do Planalto, as tarifas impostas por Trump são interpretadas como um ataque direto ao agronegócio e à indústria nacional, com potencial de impacto relevante sobre as exportações e a base de apoio político no Congresso. Nos bastidores, a diplomacia brasileira busca abrir um canal de diálogo com autoridades americanas para evitar o agravamento do conflito comercial.
No Canadá, produtos não cobertos pelo acordo comercial entre EUA, México e Canadá terão tarifa de 35% — um aumento de 25%. Já o Japão e a Coreia do Sul serão afetados por uma tarifa de 15%.
Além disso, os Estados Unidos aplicaram uma sobretaxa de 40% sobre produtos que passaram por transbordo (transshipment), uma prática em que as mercadorias são desviadas para países intermediários para mascarar sua origem e evitar tarifas mais altas.
O movimento coincide com uma série de incertezas envolvendo o futuro da relação comercial com a China, ainda sem definição sobre uma possível extensão da trégua de 90 dias.
Nos Estados Unidos, a agenda está carregada de indicadores. Ao longo da manhã, saem os índices de atividade industrial dos EUA. O Purchasing Managers' Index (PMI) Industrial da consultoria S&P Global caiu para 49,80 pontos em julho, de 52 pontos em junho (consenso 49,5).
Também saíram os dados do Institute for Supply Management (ISM), um dos indicadores industriais mais acompanhados pelos mercados, por oferecer uma visão ampla do desempenho do setor manufatureiro americano. O PMI industrial pelo ISM Chicago de julho caiu a 48, de 49; projeção 49,5.
Foi divulgado o índice de sentimento do consumidor da Universidade de Michigan, que mede a confiança das famílias em relação à economia. O indicador de julho subiu a 61,7, de 60,7, abaixo do consenso de 62.
Na temporada de balanços, os números da Apple e da Amazon continuam repercutindo. A Apple superou as expectativas no terceiro trimestre, com avanço nas vendas do iPhone — destaque para a China, onde a receita chegou a US$ 15,37 bilhões. As ações subiram mais de 2% no after market.
Já a Amazon frustrou com a margem operacional da AWS e caiu quase 7% nas negociações estendidas, mesmo com alta de 11% na receita total, que atingiu US$ 167,7 bilhões. A empresa também reportou free cash flow próximo de zero, devido aos elevados investimentos em inteligência artificial.
No Brasil, os investidores reagem aos resultados da Vale, divulgados na noite de quinta-feira. A mineradora anunciou distribuição de juros sobre capital próprio (JCP) e apresentou números considerados positivos pelo mercado, com destaque para a geração de caixa e a estabilidade nas operações de minério de ferro.
Hoje, as petroleiras Exxon Mobil e Chevron divulgaram resultados acima do esperado para o segundo trimestre, impulsionados por recordes de produção que compensaram os preços mais baixos do petróleo.
A Exxon registrou sua maior produção para um segundo trimestre em mais de 25 anos, com 4,63 milhões de barris por dia, enquanto a Chevron também bateu recorde, com quase 4 milhões.
Os lucros ajustados vieram acima das estimativas (US$ 1,64 por ação para a Exxon e US$ 1,77 para a Chevron) e ambas mantiveram otimismo com o futuro: a Exxon indicou que segue em busca de novas aquisições, e a Chevron elevou sua projeção de fluxo de caixa livre, mesmo prevendo pressão sobre os preços no segundo semestre.
No Brasil, os números da Fertilizantes Heringer saem após o fechamento.
Os mercados internacionais operam em queda nesta sexta-feira, 1º. Na Ásia, as bolsas fecharam majoritariamente no vermelho. O índice Hang Seng, de Hong Kong, recuou 1,07%, enquanto o CSI 300, da China continental, caiu 0,51%. No Japão, o Nikkei 225 perdeu 0,66%, e o Topix subiu 0,19%.
As quedas mais fortes foram vistas na Coreia do Sul, com o Kospi despencando 3,88% e o Kosdaq, 4,03%. Na Austrália, o S&P/ASX 200 caiu 0,92%, enquanto os índices da Índia registraram perdas mais moderadas: o Nifty 50 recuou 0,48% e o Sensex, 0,34%.
Na Europa, o tom também é negativo. O índice Stoxx 600 fechou em queda de 1,81%, o CAC 40, de Paris, caiu 2,91%, o DAX, de Frankfurt, perdeu 2,71%. Em Londres, o FTSE 100 cedeu menos, 0,70%.