Lukoil: EUA barram venda de operações estrangeiras da petrolífera russa
Redação Exame
Publicado em 13 de novembro de 2025 às 06h49.
Em meio à sanções dos Estados Unidos e Reino Unido, a Lukoil, segunda maior produtora de petróleo da Rússia, anunciou recentemente que pretende vender seus ativos internacionais, despertando o interesse de gigantes do setor, incluindo a holandesa Shell e a KazMunayGas, estatal do Cazaquistão.
A petrolífera já iniciou a análise de propostas de potenciais compradores e poderá solicitar a extensão de licenças para garantir a continuidade das operações até a conclusão do processo de venda.
Até a semana passada, a estatal russa parecia ter conseguido se desfazer de parte de seus ativos estrangeiros para a trader de commodities Gunvor Group. No entanto, a operação foi rejeitada pelo Departamento do Tesouro dos EUA, que classificou a Gunvor de "fantoche" do Kremlin. Diante da decisão, a empresa suíça desistiu da transação, aumentando a urgência dos esforços para manter os ativos da empresa russa em operação no exterior.
"Há uma verdadeira corrida para descobrir como lidar com os ativos internacionais da Lukoil, principalmente porque o Tesouro dos EUA rejeitou a proposta da Gunvor de assumi-los”, disse à Bloomberg Richard Bronze, chefe de geopolítica da consultoria Energy Aspects.
“Embora os mercados globais de petróleo bruto tenham uma margem de segurança razoável para absorver eventuais interrupções no fornecimento, o cenário é bem diferente para o setor de refino.”
Vários países pediram aos EUA que permitam a continuidade das operações da Lukoil após 21 de novembro, data-limite das atuais licenças. Mas se as prorrogações não forem concedidas desta vez, isso poderá causar um efeito cascata nos mercados de petróleo.
Segundo reportagem da Bloomberg, a Bulgária está em negociações com o Tesouro dos EUA numa tentativa de manter em funcionamento a refinaria de Burgas, com capacidade para 195 mil barris por dia. A planta é a maior do sudeste europeu e está sendo alvo de um longo processo de venda que ainda não resultou em conclusão.
Na Romênia, fontes ouvidas pela Bloomberg disseram que o país pode considerar pedir uma prorrogação do prazo de 21 de novembro, embora ainda não tenha tomado essa medida.
Já o governo da Moldávia pretende adquirir um depósito de combustível da Lukoil para garantir o bom funcionamento do aeroporto na capital do país, Chisinau, afirmou o ministro da Energia, Dorin Junghietu, em um comunicado no Facebook na semana passada. O governo também solicitou uma isenção das medidas que se estenderiam além de 21 de novembro.
A KazMunayGas está estudando uma oferta pelos ativos da Lukoil no país, disseram duas fontes ouvidas pela Reuters. A Lukoil tem participação em Karachaganak, um dos maiores campos de gás do mundo, juntamente com a Eni, Shell, Chevron e KazMunayGas.
Enquanto isso, a Shell está interessada em ativos de águas profundas da Lukoil em Gana e na Nigéria, disseram outras duas fontes ouvidas pela agência. Já a Lukoil indicou ao governo do Egito seus possíveis planos de vender sua participação. A estatal russa detém três concessões no país.
As medidas econômicas fazem parte de um novo pacote de restrições anunciado na última quarta-feira, 22, pelo presidente norte-americano, Donald Trump, que atingiu diretamente as estatais Lukoil e Rosneft, além de outras empresas russas envolvidas em exportações de energia.
Poucos dias antes, em 15 de outubro, o Reino Unido também havia expandido suas sanções ao incluir as duas companhias e 44 navios-tanque usados pela chamada “frota paralela” — embarcações empregadas para driblar restrições à venda de petróleo russo.
Essas novas rodadas de sanções têm o objetivo de reduzir a receita energética do Kremlin em meio à continuidade da guerra na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022.
Com sede em Moscou, a Lukoil responde por 2% da produção mundial de petróleo. A empresa tem presença expressiva fora da Rússia, principalmente na Europa, no Oriente Médio e na Ásia Central.
Entre os ativos internacionais mais relevantes estão o campo petrolífero de West Qurna 2, no Iraque, onde a empresa detém participação de 75%, com produção superior a 480 mil barris por dia; e a refinaria Lukoil Neftohim Burgas, na Bulgária, com capacidade para 190 mil barris diários, considerada a maior dos Bálcãs.
A companhia também controla a refinaria Petrotel, na Romênia, e fornece petróleo à Hungria, Eslováquia e Turquia, além de manter terminais, redes de varejo e projetos de exploração na África, América Latina e Cazaquistão.
A decisão da Lukoil é considerada a medida mais significativa já tomada por uma empresa russa desde a nova leva de sanções ocidentais. Segundo a Reuters, a venda de ativos internacionais pode reduzir a presença da Rússia no mercado global de refino e distribuição, ao mesmo tempo em que amplia o controle de países aliados sobre cadeias regionais de energia.