Ação da Vale é uma das maiores altas do Ibovespa no 'morning after' do tarifaço
Redação Exame
Publicado em 10 de julho de 2025 às 17h41.
Última atualização em 10 de julho de 2025 às 17h42.
Conforme o esperado, a bolsa brasileira opera em baixa nos negócios desta quinta-feira, 10, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar uma tarifa adicional de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil. Os rumos do que aparenta ser uma guerra comercial ainda parecem bastante incertos, mas os agentes dos mercados já fizeram as contas sobre setores mais e menos impactados. Muito do que é visto nos relatórios que estão circulando hoje reflete o que acontece no Ibovespa.
A ação de maior peso do índice de referência do mercado acionário brasileiro opera com alta expressiva, como se nem tivesse ouvido falar de "tarifaço". Vale (VALE3) passou boa parte do dia entre as maiores altas do Ibovespa, reduziu ganhos, mas fechou com variação positiva de 2,29%, a R$ 55,28. Pelo seu tamanho na composição da carteira, a ação impediu que o Ibovespa cedesse ainda mais ainda e também dá impulso aos papéis de seu acionista, Bradespar (BRAP4), que fechou em alta de 2,41%.
As siderúrgicas também passaram boa parte da sessão no Top 5 de altas. Destaque para a CSN (CSNA3), que sustentou o fôlego e fechou com alta de 4,92%, segunda maior alta do Ibovespa.
É praticamente um consenso entre analistas do sell side que o tarifaço de Trump tem impacto limitado nos setores de mineração e siderurgia.
O Bradesco BBI/ Ágora nota uma exposição relativamente baixa à exportações para os Estados Unidos entre as empresas desses setores, acompanhadas pela casa. "Destacamos a Gerdau, que tem operações locais por lá", destacam os analistas Rafael Barcellos e Renato Chanes. Segundo eles, as tarifas tendem a beneficiar as operações da empresa em território americano, já que a indústria siderúrgica dos EUA é fortemente dependente das exportações brasileiras de aço semiacabado.
"[Com] a limitada exposição direta da Gerdau a esse material, vemos as tarifas mais altas como inflacionárias –potencialmente levando a um aumento nos preços do aço laminado no país", explicam.
A dupla também vê impacto imaterial para a Vale, dado que vendas para os Estados Unidos respondem por apenas 3% das receitas da mineradora. O Citi, por sua vez, avalia que a Vale poderia redirecionar os volumes exportados para outros territórios.
Para os analistas da XP, os principais riscos das tarifas estão nos seus efeitos sobre o real e a percepção de risco dos investidores no geral.
Atualmente, os Estados Unidos já trabalham com tarifas de 50% sobre aço e alumínio importado, utilizando o mecanismo da Seção 232, da Lei de Expansão Comercial americana, que estabelece restrições a importações de artigos que possam representar algum tipo de ameaça à segurança nacional. Os analistas têm interpretações diferentes sobre efeitos cumulativos da tarifa extra de 50% anunciada por Trump sobre todos os produtos.
"Produtos sob investigação da Seção 232, como semicondutores, minerais críticos, produtos farmacêuticos e cobre, continuarão isentos. A isenção também inclui petróleo e derivados", diz análise do BTG Pactual. O Citi também tem o mesmo entendimento e afirma que, para o aço, "as tarifas seriam substituídas pela Seção 232, que já são de 50%".
"Pelo lado do aço, compreendemos que as tarifas anunciadas hoje [dia 9 de julho] incidem sobre as anunciadas anteriormente de 50% pela Seção 232, totalizando, então tarifas de 100%", escreveu o Goldman Sachs.
Essa também é a interpretação da XP. "[As] tarifas seriam aplicadas sobre todas as tarifas setoriais existentes, o que significa que commodities já cobertas pela Seção 232 [como aço e alumínio] podem enfrentar tarifas combinadas de até 100%", diz o relatório.