Redatora
Publicado em 8 de julho de 2025 às 07h06.
A varejista de moda Shein entrou com um pedido confidencial de oferta pública inicial (IPO) em Hong Kong, para acelerar o processo de listagem e ao mesmo tempo pressionar o Reino Unido a flexibilizar suas exigências regulatórias. O movimento reacende o interesse da empresa em Londres, onde o regulador, há mais de um ano, analisa uma proposta da companhia, mas sem avanço.
Segundo o jornal britânico Financial Times, a Shein apresentou na semana passada um prospecto preliminar à bolsa de Hong Kong (HKEX) e também buscou a aprovação da Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China (CSRC).
A decisão ocorre após uma longa disputa sobre a linguagem usada na seção de riscos do prospecto, principalmente em relação à cadeia de suprimentos da empresa e sua exposição à região chinesa de Xinjiang, foco de intensas controvérsias internacionais devido a denúncias de violações de direitos humanos.
A empresa, com sede em Singapura, mantém a maior parte de sua produção na China. Apesar de ter submetido um pedido de IPO em Londres há cerca de 18 meses, ainda não conseguiu obter o aval do regulador britânico.
Em 2024, a Autoridade de Conduta Financeira do Reino Unido (FCA) chegou a aprovar uma versão do prospecto, mas o documento foi rejeitado pela CSRC, que tem exigido descrições mais cautelosas ou controladas sobre riscos operacionais no país.
A nova ofensiva em Hong Kong é vista como uma estratégia para manter viva a possibilidade de uma listagem em Londres, que continua sendo a opção preferida da Shein, e ao mesmo tempo destravar o processo com uma alternativa viável. A expectativa é de que o HKEX adote uma postura mais tolerante quanto à forma como empresas chinesas descrevem riscos políticos.
Ainda que o IPO em Hong Kong seja aprovado, a FCA poderia retomar o processo de Londres com base no mesmo prospecto, abrindo a possibilidade de uma listagem dupla ou secundária. Mas, segundo fontes ouvidas pelo Financial Times, as diferenças entre os reguladores permanecem significativas.
O impasse regulatório não é o único entrave. Em janeiro, o presidente da comissão de negócios da Câmara dos Comuns, Liam Byrne, levantou dúvidas sobre a integridade da cadeia de suprimentos da Shein, após um executivo da empresa se recusar a confirmar se o algodão usado em suas roupas vinha de Xinjiang.
Com cerca de US$ 12 bilhões em caixa, a Shein não tem pressa para abrir capital, mas enfrenta pressões de investidores e assessores para concluir o processo iniciado há quase três anos. A primeira tentativa, nos Estados Unidos, foi interrompida em 2023, quando a Comissão de Valores Mobiliários (SEC) não deu sinal verde para o IPO.
Goldman Sachs, Morgan Stanley e JPMorgan lideram a operação, que passou por Nova York, Londres e agora Hong Kong.