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Londres liga, mas investidor não atende: êxodo fiscal e fuga de empresas preocupam o Reino Unido

Alta de impostos, custo de vida e instabilidade política desafiam papel global da capital do Reino Unido

Publicado em 14 de julho de 2025 às 09h10.

A cidade de Londres, tradicional epicentro econômico e cultural do Reino Unido, vive um momento de questionamento. A saída de milionários, empresas e trabalhadores levanta dúvidas sobre o futuro da capital como polo financeiro global. Segundo reportagem da CNBC, as pressões vêm de múltiplos lados: políticas fiscais mais duras, custos de vida elevados e o enfraquecimento da confiança institucional do país.

Um dos pontos críticos foi a mudança no regime tributário que afetou diretamente os chamados “não domiciliados” — estrangeiros ricos que viviam em Londres sob um regime fiscal favorável. A medida levou à saída estimada de 10 mil milionários da cidade em 2024, em busca de jurisdições mais seguras para seus patrimônios.

Ao mesmo tempo, trabalhadores de diferentes faixas salariais têm deixado Londres em busca de uma qualidade de vida melhor e preços mais acessíveis.

O setor corporativo também dá sinais de desgaste. Nos últimos anos, empresas britânicas têm buscado listagens iniciais de ações fora do país, especialmente nos Estados Unidos. Algumas estão transferindo suas sedes legais ou operacionais para outras jurisdições.

Política e regulação

O clima de negócios na capital perdeu apelo, segundo analistas ouvidos pela CNBC, em parte pela complexidade regulatória e pela percepção de instabilidade política. Só nos últimos dez anos, o Reino Unido teve seis primeiros-ministros.

O cenário de incerteza foi agravado pelo processo de saída do Reino Unido da União Europeia, há cinco anos. Segundo analistas ouvidos pela CNBC, o Brexit contribuiu para enfraquecer a reputação global de Londres como centro político e financeiro estável, afastando investidores e deteriorando relações comerciais com parceiros europeus.

A vitória do Partido Trabalhista nas eleições de 2024 também colocou a política econômica britânica sob os holofotes. A nova ministra das Finanças, Rachel Reeves, enfrenta o desafio de equilibrar regras fiscais mais rígidas com a necessidade de promover crescimento e destravar investimentos.

Para o estrategista Bill Blain, ex-banqueiro de investimento, Londres perdeu o brilho que tinha nas décadas anteriores. Ele aponta que o número de profissionais dedicados a compliance e regulação já supera o de trabalhadores da linha de frente nos serviços financeiros, além de criticar a ausência de grandes bancos de investimento ou firmas de capital privado com origem britânica.

Adaptação ou decadência?

Ainda assim, há quem veja o atual momento como uma fase de adaptação, não de decadência. Barret Kupelian, economista-chefe do Reino Unido na PwC, afirma que os fundamentos que sustentam a atratividade de Londres permanecem sólidos: Estado de Direito, diversidade, qualidade regulatória e infraestrutura.

Ele reconhece os desafios de habitação e transporte, mas defende que a cidade continua sendo um polo de inovação e serviços profissionais.

Apesar da estagnação nas exportações de bens, especialmente diante de um ambiente comercial mais protecionista e com tarifas elevadas, o crescimento das exportações de serviços tem compensado parte das perdas. De acordo com Kupelian, o avanço é puxado principalmente por serviços corporativos e profissionais, que hoje sustentam boa parte da dinâmica econômica de Londres.

Embora Londres apareça atrás de outras cidades britânicas no índice de qualidade de vida da PwC, a expectativa é de que o crescimento econômico da capital se mantenha forte em 2025.

A concorrência, no entanto, é crescente. Cidades como Nova York, Paris, Singapura, Pequim e Tóquio disputam o protagonismo global, forçando Londres a se reinventar. Para os analistas, o caminho não é uma ruptura completa, mas uma série de ajustes estratégicos.

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