Para o JP Morgan (JPM), a decisão pode gerar um choque nos ativos brasileiros (Montagem EXAME/Canva)
Repórter
Publicado em 10 de julho de 2025 às 11h05.
A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras para os Estados Unidos, a partir de 1º de agosto, representa a mais alta taxa aplicada a qualquer país em sua atual campanha tarifária. Para o JP Morgan (JPM), a decisão pode gerar um choque nos ativos brasileiros.
Em relatório assinado pelas estrategistas Emy Shayo e Cinthya Mizuguchi, o banco alerta que o impacto estimado pode alcançar entre 0,8% e 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB), caso a tarifa seja integralmente implementada, e gerar um choque no mercado nacional.
O conteúdo da carta enviada por Trump revela motivações políticas. O presidente americano justifica a sanção com base no tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, classificando o processo como “uma vergonha internacional” e “caça às bruxas”. Também critica decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que afetam redes sociais americanas.
Em resposta imediata, o governo brasileiro afirmou que poderá recorrer à Lei da Reciprocidade Econômica, aprovada em abril, que autoriza tarifas equivalentes contra países que impuserem medidas unilaterais contra o Brasil. O presidente Lula afirmou que “o Brasil é uma nação soberana com instituições independentes” e que “não aceitará sanções políticas disfarçadas de medidas comerciais.”
O impacto sobre os mercados foi instantâneo: o Ibovespa caiu 1,3% e o real se desvalorizou 2,2% frente ao dólar no mesmo dia do anúncio. Nesta quinta-feira, 10, a moeda americana abriu em alta de mais de 2%.
Segundo o JPMorgan, a cada 10 pontos percentuais de aumento tarifário, o PIB do Brasil pode recuar entre 0,2% e 0,3%. No caso da tarifa de 50%, o efeito total pode chegar a 1,2%. O banco também indica que, se os setores de aço e alumínio forem excluídos, o impacto pode ser reduzido em até 20%.
A instituição aponta ainda que uma reconfiguração das exportações para destinos como China, União Europeia, Canadá e México pode compensar entre 20% e 30% das perdas diretas.
A análise setorial do JPMorgan identificou as companhias brasileiras com maior exposição ao mercado americano:
Suzano (SUZB3): 16% da receita vem dos EUA.
Embraer (EMBR3), Tupy (TUPY3), WEG (WEGE3), Mahle Metal Leve (LEVE3): entre 6% e 13% da receita afetada.
JBS (JBSS3), Minerva (BEEF3): forte presença no setor de proteína animal com foco nos EUA.
Azzas (AZZA3), Alpargatas (ALPA4): cerca de 10% da receita vem dos Estados Unidos.
Setores como mineração (Vale), energia, telecomunicações, bancos e saúde devem ter impacto mínimo, devido ao foco no mercado interno.
A desvalorização do real pode suavizar parte das perdas na competitividade, mas pressiona a inflação e os custos de importação. O JP Morgan destaca que há espaço para mais deterioração até que haja clareza nas negociações entre os dois países.
Mesmo com o choque inicial, o banco mantém perspectiva positiva de médio prazo, citando fundamentos estruturais e possível início de ciclo de afrouxamento monetário no Brasil ainda em 2025.
Os EUA mantêm um superávit comercial com o Brasil de US$ 7,4 bilhões desde 2024, segundo o US Census Bureau, o que enfraquece justificativas econômicas para a medida. O episódio lembra a guerra comercial entre EUA e China (2018–2019), mas se diferencia por envolver diretamente o sistema judiciário de outro país.
Trump também anunciou tarifas entre 20% e 30% contra 21 outros países desde 7 de julho. Nenhum, no entanto, foi alvo de uma tarifa tão elevada quanto o Brasil — 50%.
O posicionamento político contra um membro do Brics pode acelerar o processo de diversificação brasileira para reduzir dependência dos EUA, com aumento de parcerias com Ásia e Europa.
Os preços internacionais do café subiram 13% em dois dias após o anúncio da tarifa, refletindo a importância do Brasil no fornecimento global. O setor agroexportador também inclui soja e carne bovina, que podem ser atingidos diretamente.
Portos como o de Santos avaliam redirecionamento de rotas. Empresas de logística relatam aumento de custos operacionais e necessidade de adaptação urgente.