Robotáxi: analistas veem lançamento com entusiasmo (Tesla/Divulgação)
Publicado em 25 de junho de 2025 às 06h30.
“Esse é o começo de uma nova era para a direção autônoma.” O comentário é de Dan Ives, analista da corretora americana Wedbush, que participou do lançamento e fez duas viagens nos robotáxis da Tesla no último fim de semana. A avaliação positiva ajudou a impulsionar as ações da empresa, que dispararam 8,2% na segunda-feira, 23, após o lançamento do serviço em Austin, no Texas.
A estreia limitada a poucos veículos, com um grupo selecionado de usuários, foi o suficiente para reacender o entusiasmo de investidores com a ambição de Elon Musk de transformar a Tesla em uma gigante da inteligência artificial e da mobilidade autônoma.
Segundo Ives, a experiência foi "segura, confortável e personalizada", com navegação precisa e respostas naturais do sistema de direção. Em entrevista à CNBC, ele afirmou que o serviço “superou expectativas” e classificou a iniciativa como o início da era de inteligência artificial da Tesla.
Nem todos, porém, compartilham o entusiasmo. Ronald Jewsikow, do Guggenheim, descreveu o lançamento como um "primeiro passo tímido" e ponderou que o ritmo de expansão será determinante para sustentar as expectativas.
Dan Levy, analista do Barclays, afirmou que o lançamento representa um marco importante, mas alertou para o desafio real da Tesla. “Os investidores otimistas enxergam o evento como o começo de uma nova era para a Tesla. Mas o verdadeiro desafio está no caminho da escala”, escreveu em relatório. Segundo ele, a geração de receita com viagens autônomas marca um ponto de virada, mas ainda não justifica o otimismo excessivo com o papel no curto prazo.
Já Joseph Spak, do UBS, reforçou que o entusiasmo do mercado está, em grande parte, embutido no preço atual da ação. “Apesar da escala inicial limitada, o lançamento ajuda a Tesla a controlar a narrativa dos robotáxis e manter o interesse dos investidores”, afirmou em nota a clientes. Mesmo mantendo a recomendação de venda, o analista elevou o preço-alvo para US$ 215.
Apesar da euforia inicial, a ação da Tesla ainda acumula queda de mais de 12% em 2025, segundo dados compilados pela CNBC. O movimento mais recente reflete a forte volatilidade em torno das promessas de Elon Musk.
Na terça-feira, 24, os papéis recuaram 2,35%, fechando a US$ 340,47. No pré-mercado desta quarta-feira, 25, por volta das 5h34 no horário de Brasília, subiam 0,21%, a US$ 341,17.
A queda refletiu uma combinação de cautela regulatória e aumento da concorrência. Após a divulgação de vídeos que mostravam robotáxis da Tesla ultrapassando o limite de velocidade e entrando na contramão, a NHTSA, agência de segurança rodoviária dos Estados Unidos, informou que está em contato com a fabricante para solicitar informações sobre possíveis falhas.
A investigação se soma a outras já abertas contra o sistema Full Self-Driving, que está sob escrutínio das autoridades americanas desde 2024.
Além do escrutínio regulatório, a Tesla também enfrenta turbulência política. Após romper com Donald Trump, Musk foi alvo de críticas que afetaram o desempenho da Tesla. A instabilidade gerada pelo afastamento resultou na maior perda de valor de mercado da empresa desde 2020: mais de US$ 150 bilhões em um único dia.
A crise veio na esteira de boicotes organizados contra a Tesla e outras empresas associadas ao bilionário, após sua aproximação com o governo Trump e adoção de posicionamentos políticos controversos. O episódio intensificou a percepção de que a imagem pessoal de Musk está profundamente atrelada ao desempenho da empresa.
Analistas apontam que o futuro da empresa depende da materialização de promessas como a direção totalmente autônoma e novos modelos de negócios baseados em inteligência artificial.
O serviço da Tesla foi lançado de forma discreta, restrito a uma área geográfica limitada de Austin, sem evento oficial. Os veículos usados são modelos Model Y equipados apenas com câmeras, sem sensores como radar ou lidar. Cada viagem custa uma tarifa fixa de US$ 4,20 e está disponível entre 6h e meia-noite, desde que o clima esteja favorável.
O serviço da Tesla foi lançado de forma discreta, restrito a uma área geográfica limitada de Austin, sem evento oficial. Os veículos usados são modelos Model Y equipados apenas com câmeras, sem sensores como radar ou lidar. As viagens têm custo fixo de US$ 4,20 e operam entre 6h e meia-noite, desde que o clima esteja favorável.
Super congratulations to the @Tesla_AI software & chip design teams on a successful @Robotaxi launch!!
Culmination of a decade of hard work.
Both the AI chip and software teams were built from scratch within Tesla.
— Elon Musk (@elonmusk) June 22, 2025
Cada carro conta com um monitor de segurança no banco do passageiro e apoio remoto de teleoperadores. A empresa selecionou um grupo de influenciadores e investidores simpatizantes para testar o serviço e divulgar vídeos em redes sociais.
Apesar dos elogios à suavidade da condução, algumas gravações mostraram falhas, como entrada indevida em faixa contrária e excesso de velocidade. Ainda assim, segundo a Bloomberg, não houve incidentes graves no primeiro fim de semana de operação.
O sistema de direção é baseado em redes neurais e aprendizado de máquina. Em abril, Musk afirmou que “milhões de Teslas” poderão operar de forma totalmente autônoma até o fim de 2026. Em publicações recentes, o CEO reforçou que todos os carros da empresa já são capazes de condução sem supervisão.
A Tesla entra em uma corrida que já tem concorrentes mais experientes. O principal é a Waymo, do Google, que opera uma frota de mais de 1.500 carros autônomos em cidades como San Francisco, Phoenix e, mais recentemente, Austin. A empresa utiliza sensores avançados e sistemas de monitoramento remoto, além de já ter transportado centenas de milhares de passageiros com taxas de acidente inferiores às do trânsito convencional.
A Zoox, controlada pela Amazon, também atua em modo experimental em algumas regiões dos Estados Unidos. Ambas adotam uma abordagem mais cautelosa do que a Tesla, com forte presença de tecnologia embarcada e protocolos de segurança mais rigorosos.
O professor Bryant Walker Smith, da Universidade da Carolina do Sul, em entrevista à Reuters, alertou que o sistema da Tesla ainda não demonstrou ser seguro em grande escala. Para ele, a diferença entre testes limitados e uma operação nacional é comparável a “dizer que vai para Marte e ir até Cleveland”.
Mesmo entre os otimistas, há cautela. Tom Narayan, do RBC Capital Markets, disse que os investidores ainda estão em modo de espera. “As expectativas já estavam ajustadas para um lançamento modesto”, afirmou em relatório citado pelo site de notícias americano Quartz.
A Tesla ainda não informou quando o serviço será liberado para o público em geral. A nova regulamentação do Texas, que entra em vigor em 1º de setembro, exigirá licença especial para veículos sem motorista. Até lá, o serviço continua em modo piloto e sob forte escrutínio do mercado, de reguladores e da opinião pública.