(Leandro Fonseca/Exame)
Editora do EXAME IN
Publicado em 26 de maio de 2025 às 10h28.
O Mercado Livre (MELI) anunciou uma reformulação na política de frete para vendedores no Brasil, em mais um movimento que sinaliza a crescente disputa no e-commerce no país.
A mudança é estratégica: mira diretamente o segmento de produtos com preços intermediários, justamente onde a Shopee tem ganhado cada vez mais tração, aponta o Itaú BBA, em relatório.
O novo modelo adota uma estrutura de subsídio variável, baseada na reputação do vendedor, valor do produto e peso da encomenda.
Com isso, os custos de envio poderão cair até 40% em determinados casos, substituindo a antiga tabela que utilizava faixas fixas de frete, calcula o banco.
A medida vale para vendas de terceiros (3P) entre R$ 79 e R$ 200, com peso de até 30 kg.
Para os analistas do Itaú BBA, a mudança mostra como o Mercado Livre continua "paranoico" com a concorrência — o que, neste caso, é visto como uma postura correta. “É um movimento calculado para manter competitividade”, escreveu a equipe liderada por Rodrigo Gastim em relatório.
A atualização amplia uma iniciativa que havia começado em 2024, limitada a categorias específicas. Agora, com aplicação mais ampla, o objetivo é reduzir o chamado “gap de frete” enfrentado por vendedores brasileiros.
Enquanto para os pedidos abaixo de R$ 79, o frete para o vendedor era de uma taxa fixa de R$ 6,25, para aqueles acima desse valor os custos começavam em R$ 20.
A pressão vem de todos os lados. A Shopee dobrou seu GMV (volume bruto de mercadorias) em 2024, alcançando US$ 60 bilhões, e acaba de inaugurar um novo centro de distribuição em São Paulo.
A Amazon trocou o comando local, cortou taxas cobradas de vendedores e aumentou os investimentos em logística. E o TikTok Shop acaba de estrear oficialmente no Brasil.
“Entre todos os players, a Shopee é o mais disruptivo”, escreveram os analistas. A expectativa é que a nova política ajude o Mercado Livre a reforçar sua proposta de valor no intervalo de preços onde a rival tem avançado.
Na avaliação do BBA, o impacto líquido da mudança será negativo para o lucro do Mercado Livre em 2025, ainda que administrável. A estimativa é de uma redução de US$ 76 milhões no lucro líquido do ano, equivalente a uma queda de 3% sobre as projeções anteriores.
Esse cálculo considera um desconto médio de 20% aplicado a cerca de 25% do GMV no Brasil (vendas de produtos entre R$ 79 e R$ 200), com receita de frete representando 8% do GMV total. A conta não inclui possíveis ganhos futuros com aumento de vendas, que poderiam mitigar o efeito.
Como a nova política entrou em vigor apenas em maio, o efeito proporcional em 2025 será menor, mas pode crescer nos anos seguintes.
Apesar do novo fator de pressão nas margens no Brasil, somado aos investimentos em logística e na operação de cartão de crédito, o BBA destaca que a operação da Argentina pode compensar boa parte desse impacto.
Segundo o banco, o país segue com forte crescimento e margens elevadas, com o Mercado Livre mantendo cerca de 50% de participação tanto no comércio eletrônico quanto nos pagamentos digitais.
O Itaú BBA manteve a recomendação de “outperform” (desempenho acima da média do mercado) para as ações da companhia, com preço-alvo de US$ 3.133 até o fim de 2025 — o que implica um potencial de valorização de 20,4% frente à cotação atual de US$ 2.601,97.
Apesar de admitir a complexidade do modelo e a volatilidade trimestral, o banco acredita que a tese segue intacta: “Enquanto crescer com força, ganhar mercado no e-commerce e controlar sua carteira de crédito, o papel deve continuar performando”.