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'Paradoxo de Trump': economistas veem menos risco de recessão nos EUA

Melhora nas previsões reflete resiliência da economia e desaceleração da inflação; cenário ainda é incerto com nova rodada de tarifas prevista para agosto

Publicado em 14 de julho de 2025 às 09h18.

A perspectiva econômica dos Estados Unidos melhorou nos últimos meses, mesmo com a continuidade das políticas tarifárias do presidente Donald Trump. Segundo levantamento do Wall Street Journal com 69 economistas, o risco de recessão diminuiu, a criação de empregos veio acima do previsto e a inflação ficou mais contida do que se temia.

As projeções foram ajustadas após três meses de dados mais positivos que o esperado. A estimativa média para o crescimento do PIB real no quarto trimestre subiu de 0,8% para 1% em relação ao mesmo período do ano anterior, mas ainda representa apenas metade do que era esperado em janeiro.

A taxa de desemprego caiu de 4,2% em maio para 4,1% em junho, e a média de criação de empregos nos últimos três meses chegou a 150 mil vagas por mês, superando as previsões feitas em abril.

Apesar da melhora, os economistas ainda demonstram cautela diante da persistente incerteza comercial. A rodada anterior da pesquisa foi feita durante o pico das ameaças tarifárias de Trump. Desde então, parte das medidas foi suspensa, mas o presidente já avisou que novas tarifas mais amplas começam a valer em 1º de agosto, afetando países como Brasil, México, Canadá e União Europeia.

Como reflexo, as importações de bens dispararam 26% no primeiro trimestre em comparação com o ano anterior, à medida que empresas e consumidores tentaram se antecipar às tarifas. Após a entrada em vigor das novas taxas, em abril, os volumes importados recuaram fortemente.

No campo da inflação, o cenário também melhorou. O índice de preços ao consumidor (núcleo do CPI) subiu 2,8% em maio em relação ao mesmo mês de 2024, menor nível em quatro anos, embora ainda acima da meta de 2% do Federal Reserve (Fed).

A projeção média para a inflação em dezembro foi revisada de 3,6% para 3%, mas ainda superior aos 2,7% previstos em janeiro, mesmo com a expectativa de que as novas tarifas adicionem 0,7 ponto percentual ao índice no quarto trimestre de 2025.

Segundo o WSJ, a alta nas tarifas deve ser parcialmente compensada pela desaceleração nos custos de energia e habitação. Além disso, autoridades do Fed apontaram, nas atas de sua última reunião, que muitas empresas ainda operam com estoques acumulados antes das tarifas e só devem repassar os preços quando esses estoques se esgotarem.

Em relação aos juros, a média das estimativas aponta que o ponto médio da taxa básica deve encerrar o ano em 3,94%, acima da previsão de 3,79% em abril, o que implica uma ou duas reduções de 0,25 ponto percentual em relação ao nível atual, entre 4,25% e 4,5%.

Para o mercado de trabalho, a projeção de criação mensal de vagas subiu de 54 mil para 74 mil desde abril, embora não tenha retornado ao nível de janeiro. Ainda assim, a taxa de desemprego pode avançar para 4,5% até dezembro, de acordo com os economistas ouvidos pelo jornal.

Apesar do consumo ainda sustentar o crescimento, os analistas observam uma mudança de comportamento: os americanos continuam gastando, mas com mais cautela. A confiança de consumidores e empresas, que vinha em queda, parece ter se estabilizado, contribuindo para a percepção de resiliência da economia.

Os economistas também avaliaram os efeitos do novo pacote fiscal sancionado por Trump, que prevê cortes de impostos e redução de gastos. Espera-se que esse pacote adicione 0,2 ponto percentual ao crescimento econômico em 2025 e 0,3 ponto em 2026.

Por outro lado, o endurecimento na política migratória, com aumento das deportações e queda na entrada de imigrantes, deve anular esse impulso, retirando exatamente os mesmos 0,2 e 0,3 ponto do PIB, respectivamente.

A média das tarifas americanas, que era de 12,2% em 12 de maio após o recuo de Trump nas taxas sobre a China, subiu para 14,6% após novas tarifas sobre aço, alumínio, cobre e outros países, segundo estimativa de economistas do JPMorgan citada pelo WSJ. Caso todos os novos pacotes sugeridos por Trump sejam implementados, esse número pode subir mais 6,1 pontos percentuais, ampliando a pressão sobre cadeias de produção e preços.

No balanço geral, os economistas reconhecem que a economia americana tem mostrado mais resiliência do que o previsto no início do ano. Mas alertam que o ambiente continua volátil, especialmente por conta das incertezas ligadas à política comercial e à resposta dos consumidores diante de possíveis novos aumentos de preços.

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