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Paralisação do governo americano completa uma semana: veja os impactos até agora

Impasse continua e deixa mercado no escuro, já que o 'shutdown' compromete indicadores oficiais da economia, em momento de flexibilização de juros no país

Paralisação do governo americano completa uma semana (Yasin Ozturk/Anadolu/Getty Images)

Paralisação do governo americano completa uma semana (Yasin Ozturk/Anadolu/Getty Images)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 8 de outubro de 2025 às 06h00.

A paralisação do governo dos Estados Unidos completa uma semana nesta quarta-feira (8), sem sinais de avanço significativo nas negociações e marcada por ameaças demissões de funcionários federais pelo presidente Donald Trump.

Desde o início do 'shutdown', na quarta-feira passada, republicanos e democratas mantêm posições firmes e se culpam mutuamente. Trump anunciou na noite de domingo que começaram as demissões definitivas de funcionários, em vez das licenças temporárias aplicadas em paralisações anteriores. Nos últimos dias, ele também congelou projetos de infraestrutura em estados democratas e ameaçou eliminar agências federais.

Os republicanos propõem um prolongamento do orçamento atual até o fim de novembro, enquanto os democratas insistem em aumentar o financiamento de programas de seguro de saúde para a população mais desfavorecida, e revisão de cortes nos programas aprovados como parte do "One Big Beautiful Bill Act", a lei orçamentária de Trump.

De acordo com Scott Bessent, secretário do Tesouro de Trump, o shutdown já impacta o crescimento econômico e pode prejudicar o produto interno bruto (PIB) dos EUA.

A postura firme dos democratas marca um raro momento de influência para o partido opositor, quando Trump e seus republicanos fiéis controlam cada ramo do governo. Os republicanos precisam persuadir senadores democratas suficientes para alcançar o mínimo de 60 votos em 100 para superar o bloqueio.

Analistas financeiros, como Michael Ashley Schulman, destacam que a pressão econômica, caso o fechamento se prolongue, pode obrigar mesmo os ideólogos mais fervorosos a buscar soluções de consenso.

Novo ponto de tensão

Após o Senado americano rejeitar pela quinta vez, na segunda-feira, um projeto de lei que financiaria o governo até 21 de novembro, o presidente Donald Trump deu sinais de abertura para negociar com os democratas sobre subsídios de saúde, principal ponto do impasse.

As declarações marcaram uma mudança de tom depois de dias em que republicanos vinham sustentando que só considerariam a extensão dos subsídios do Obamacare depois que os democratas aprovassem a reabertura do governo. O líder democrata no Senado, Chuck Schumer, reagiu rapidamente, dizendo em nota que, embora não houvesse conversas em andamento, “se ele finalmente estiver pronto para trabalhar com os democratas, estaremos à mesa”.

Apesar de recuar horas depois, afirmando que as negociações só ocorreriam após a reabertura do governo, o fato de Trump admitir a possibilidade de diálogo indica pressão crescente na Casa Branca, enquanto servidores federais se preparam para ficar sem pagamento.

Após o episódio, Trump abriu um novo front de confronto. Segundo reportagem da Bloomberg, nesta terça-feira (7), ele alertou que não há garantia de pagamento retroativo para trabalhadores federais durante a paralisação, revertendo uma política histórica aplicada a cerca de 750 mil funcionários licenciados, segundo um memorando circulado pela Casa Branca.

O Escritório de Gestão e Orçamento (OMB), liderado por Russell Vought, elaborou o memorando indicando que os pagamentos retroativos só seriam garantidos se o Congresso decidir aprová-los. A medida é vista como uma tática de pressão sobre legisladores, quase uma semana após a suspensão de operações não essenciais em diversas agências e departamentos.

Após o shutdown mais longo do governo, em 2019, Trump sancionou legislação que garantia pagamento retroativo aos funcionários. O novo posicionamento do OMB marca uma mudança significativa.

Democratas criticaram a ação. A senadora Patty Murray, de Washington, vice-presidente do Comitê de Dotações, disse que a lei é "tão clara quanto possível" e chamou a medida de "mais uma tentativa infundada de assustar os servidores federais". O senador Dick Durbin, de Illinois, qualificou a postura como um "ultraje" e uma violação da lei, afirmando que os funcionários devem receber seus salários.

Impactos do shutdown

Os servidores federais são os mais afetados pelo shutdown. Cerca de dois milhões de funcionários ficarão sem receber seus salários até que o Congresso aprove um orçamento. Além disso, o Escritório Orçamentário do Congresso estimou que a lei de Trump promulgada em 4 de julho deixaria 11 milhões de americanos sem cobertura de saúde, principalmente pelo corte no Medicaid.

Democratas afirmam que outros 4 milhões de americanos perderão a cobertura do Obamacare se os subsídios não forem prorrogados, e 24 milhões verão aumento nos prêmios de saúde.

A paralisação afeta também viagens, com atrasos e cancelamentos devido à escassez de agentes de segurança e controladores de tráfego aéreo. Embora o fechamento atual ainda esteja distante do recorde de 35 dias registrado entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019, o presidente adotou uma estratégia de "máximo sofrimento", congelando fundos federais para estados democratas e ameaçando demissões massivas.

Além disso, a divulgação de indicadores oficiais da economia continuam comprometidas, podendo ser adiadas.

Impacto nos mercados

Embora as bolsas de Nova York tenham inicialmente mostrado resiliência, com o Nasdaq e o S&P 500 registrando sete sessões de alta consecutivas, os ganhos perderam força na terça-feira. Investidores passaram a pesar os riscos da paralisação do governo contra as expectativas geradas pelo avanço da inteligência artificial, refletindo a tensão entre otimismo tecnológico e incerteza política.

Por outro lado, a incerteza em torno da paralisação do governo levou investidores a buscar proteção, migrando entre ativos de risco e refúgios seguros, o que fez os futuros do ouro atingirem US$ 4.000 a onça pela primeira vez.

O índice do dólar (DXY), por sua vez, segue fortalecido em meio à desafios fiscais de países desenvolvidos, acumulando alta de 0,81% no período.

No mercado de juros, o rendimento dos títulos do Tesouro a 10 anos caiu mais de 3 pontos-base para 4,131%, enquanto o rendimento dos títulos de 30 anos em 4,726%, uma queda de mais de 3 pontos-base. O rendimento dos títulos do Tesouro de 2 anos enfraqueceu em mais de 2 pontos-base, situando-se em 3,574%.

Ian Lyngen, chefe de estratégia de taxas da BMO Capital Markets FICC Macro Strategy, comentou à CNBC: "A ausência de dados estabelece um alto padrão para o FOMC adiar a normalização, ao mesmo tempo em que dificulta para o Fed alterar a cadência dos cortes."

Investidores acompanharão esta semana comentários de autoridades do Fed, incluindo o governador Stephen Miran, nesta quarta-feira, e o presidente Jerome Powell, na quinta-feira, em busca de sinais sobre a direção futura da política monetária.

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