FIDCs: crédito privado segue sendo destaque no primeiro semestre de 2025 (Montagem EXAME/Canva)
Repórter de finanças
Publicado em 8 de julho de 2025 às 16h26.
Última atualização em 8 de julho de 2025 às 17h40.
Os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) seguem brilhando em 2025. Em meio a um cenário de captação líquida negativa em R$ 37,8 bilhões na classe total de fundos no primeiro semestre desse ano, FIDCs e a renda fixa foram as duas classes que tiveram mais aportes do que resgates: R$ 59,4 e R$ 28,8 bilhões.
Para Pedro Rudge, diretor da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), é uma conjunção de fatores que levam os FIDCs a se destacarem. Primeiro, o ambiente de taxa de juros mais alto ajuda o crédito privado, já que o investidor consegue ter uma rentabilidade maior.
“Vimos também uma oferta maior de produtos pelos gestores. Algumas casas, que antes não eram tão atuantes nesse segmento, passaram a ser”, afirmou durante uma coletiva para jornalistas nesta terça-feira, 8.
Esse fenômeno também foi ajudado pela democratização do acesso do investidor médio. “Lembrando que com a resolução da CVM 175 devemos ter um impulso, porque ela flexibilizou para o varejo poder investir no FIDC — nem vemos ainda esse componente de aumento no universo endereçável.”
Desde dezembro de 2024, os FIDCs superam os fundos de ações em patrimônio líquido, segundo os dados da Anbima. Em junho deste ano, eles acumulavam um patrimônio líquido de R$ 687,39 bilhões, com uma captação líquida de R$ 22,45 bilhões no mês.
Ao todo, 24 mil fundos se adaptaram às novas regras da 175 até 30 de junho deste ano — 82% de toda a indústria.
Entretanto, não é toda a classe de crédito privado que está positiva. Fundos com crédito privado em carteira tiveram resgates líquidos de R$ 12,6 bilhões entre janeiro e maio de 2025 — mas nos últimos 12 meses foram R$ 116 bilhões em captação.
“Talvez uma explicação seja a redução do spread das taxas, ou seja, uma rentabilidade um pouco mais desafiadora. Mas ainda assim vemos essa classe crescendo relativamente, ao longo dos meses ela tem ganhado relevância”, pontua Rudge.
Quando observado o número de fundos, cresceu 39% em maio na comparação anual: de 1.664 (5% total indústria) para 2.313 (7% total indústria). Já o patrimônio líquido foi de R$ 566 bilhões em maio de 2024 para R$ 838 bilhões em maio de 2025 (13% da indústria).
Esse movimento é impulsionado pela saída de capital dos fundos multimercado. Mas, para Rudge, a classe pode se recuperar: “Não é uma classe que vai desaparecer, ela vai reduzir de tamanho e eventualmente pode voltar a crescer.”
Tradicionalmente vindo dos bancos, o financiamento das empresas está, agora, vindo de outras fontes: o mercado de capitais. E os Fundos de Investimento em Participações (FIPs) e os FIDCs se destacam nisso.
Ao todo, 959 empresas receberam investimentos até setembro de 2024 por meio dos FIPs, sendo 307 de bens de capital, 247 de energia, 140 de serviços administrativos e 59 de serviços profissionais e técnicos.
Já os FIDCs financiam mais instituições financeiras: R$ 179,7 bilhões foram destinados ao financiamento delas em dezembro de 2024, seguido por R$ 125,1 bilhões para comércio e R$ 97,4 bilhões para indústria.
"Dados de dezembro de 2024 do Banco Central mostram que o conjunto de debêntures, notas comerciais, CRI, CRA e direitos creditórios do FIDC representam 31,6% do crédito ampliado para essas empresas", aponta o estudo da Anbima.
Segundo Julya Wellisch, diretora da Anbima, fundos estruturados canalizam, de fato, poupança para a economia real, tendo impacto direto em produção, renda e geração de emprego.
“Não é um mercado voltado apenas para grandes empresas, serve ao financiamento de pequenas e médias empresas também e por isso é um motor importante do nosso crescimento econômico”, pontua.