Redação Exame
Publicado em 16 de outubro de 2025 às 19h42.
Apesar da intervenção do secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, que qualificou o peso argentino como “subvalorizado” e buscou ampliar o resgate para US$ 40 bilhões por meio de um acordo com bancos internacionais, a confiança do mercado segue baixa. Muitos investidores acreditam que o presidente Javier Milei terá dificuldade em sustentar a moeda após as eleições legislativas de 26 de outubro, provocando vendas em massa.
Os esforços para sustentar o peso elevaram as taxas de juros de curto prazo para até 157%, drenando liquidez do sistema financeiro e aumentando o risco de choque em uma economia marcada por crises intermitentes. Segundo a Bloomberg, os anúncios de Bessent têm cada vez menos efeito, incluindo o dinheiro que ele está investindo.
O peso, que chegou a se valorizar brevemente após a promessa de ajuda norte-americana em setembro, voltou a perder terreno frente ao dólar, registrando quedas consecutivas nas últimas sessões. A confiança nos EUA também foi abalada por declarações do presidente Donald Trump, que indicou possível retirada de apoio caso Milei sofra derrota eleitoral.
"Estamos aqui para te dar apoio para as próximas eleições. Se a Argentina vai bem, outros países a seguirão. Mas se não ganhar, não contará conosco. Se perder, não seremos generosos", disse Trump.
Milei precisa garantir ao menos um terço das cadeiras para conseguir aprovar reformas e evitar que seus decretos sejam derrubados. Atualmente, seu partido tem apenas 36 dos 257 assentos na Câmara dos Deputados e depende do apoio de outros partidos para aprovar pautas.
O cenário interno se combina com fatores externos que aumentam a vulnerabilidade argentina.
A China controla grande parte do fornecimento de terras raras, enquanto a Argentina tem depósitos estratégicos de lítio, cobre e outros minerais críticos para cadeias de suprimento de tecnologia.
Além disso, o país mantém um swap de yuan de US$ 5 bilhões com a China e não tem pleno acesso aos mercados internacionais, tornando-se particularmente suscetível à pressão política de Pequim. Qualquer exigência dos EUA poderia incluir o cancelamento dessa linha de swap.
A especulação sobre o impacto da agenda de livre mercado de Milei se intensificou após revés nas eleições locais de Buenos Aires, acelerando a venda do peso. Entre abril e agosto, os argentinos compraram US$ 18 bilhões em dólares — cerca de US$ 400 por habitante, segundo dados do Banco Central. Segundo a Bloomberg, estima-se que a compra diária de dólares por pessoas físicas e empresas seja de cerca de US$ 300 milhões.
Embora o Tesouro americano não divulgue a extensão das intervenções cambiais, recuperações temporárias do peso foram rapidamente aproveitadas pelo mercado como oportunidade de venda.
Lucio Arrocha, estrategista da StoneX, avalia que uma desvalorização é inevitável, e a questão central é se a situação se agravará caso uma derrota de Milei intensifique a fuga de capitais. “Não há dólares suficientes no país para conter a retirada de recursos”, afirma.