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Por que a recuperação judicial da Azul não deve pesar sobre a Embraer

Companhia aérea é parceira de longa da data da fabricante de aeronaves e sua principal cliente para os jatos E2, de nova geração. Mas o impacto da crise financeira deve ser limitado, aponta o BTG

Fábrica de aviões comerciais da Embraer em São José dos Campos: Alta demanda global por jatos E2 (Leandro Fonseca/Exame)

Fábrica de aviões comerciais da Embraer em São José dos Campos: Alta demanda global por jatos E2 (Leandro Fonseca/Exame)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 29 de maio de 2025 às 13h43.

Última atualização em 29 de maio de 2025 às 13h43.

O pedido de recuperação judicial da Azul trouxe aos investidores dúvidas sobre os impactos para a Embraer. A companhia tem uma frota formada majoritariamente por aeronaves da fabricante brasileira.

Para os analistas do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame), os impactos devem ser limitados – inclusive, com uma possível vantagem dos modelos E2 da Embraer, que são mais econômicos e se adequam melhor ao novo momento da companhia aérea.

A relação entre as duas empresas é antiga. A Azul foi protagonista na aposta na nova geração de jatos da Embraer.

A trajetória da Azul tem trazido uma "montanha-russa" nas expectativas para a fabricante, reconhece a equipe liderada por Lucas Marquiori.

Quando circulou a notícia de que a Azul estava próxima de reestruturar suas dívidas e a intenção de se fundir com  Gol, o BTG se animou e escreveu um relatório citando uma oportunidade incremental para os E2 da Embraer.

Com o pedido de RJ, os ventos que haviam se tornado favoráveis voltaram a ser contrários novamente, afirmam os analistas.

A Azul irá reduzir sua frota de aeronaves. Até o fim de 2025, a expectativa é ter 170 aviões, uma redução de 15% frente aos 201 atuais. Para o fim de 2027, a expectativa da companhia agora é ter 172 aeronaves, uma queda de 20% sobre o plno anterior.

Segundo os analistas, ainda é “muito difícil” avaliar se esses ajustes de frota serão feitos por meio de adiamentos, cancelamentos, renegociação de contratos ou qualquer outra forma de acordo - e se os E2 estarão nessa conta.

Há um argumento que pesa contra cortes drásticos: os pedidos de aeronaves exigem depósitos prévios. Assim, mesmo que a Azul queira cancelar algum contrato, isso geraria perdas financeiras — algo pouco palatável no meio de uma recuperação judicial. A alternativa mais provável, segundo o BTG, são os adiamentos nas entregas.

Vantagem estratégica dos E2

Além dos cancelamentos serem caros, o E2 pode ter uma vantagem estratégica sobre os A320, da Airbus. Os jatos desse modelo são mais econômicos, o que pode ser benéfico para Azul. “Nesse sentido, vemos o E2 como um pilar-chave na recuperação financeira da área”, escrevem os analistas.

O fato das aeronaves serem montadas no Brasil permite que a Azul acesse melhores condições financeiras na compra de uma fabricante nacional - o que é extremamente vantajoso para seu atual momento.

O banco pondera ainda que um eventual impacto no backlog da Embraer seria pequeno. A Azul tem encomendas de apenas 51 unidades, 15% do total de 335 unidades da carteira comercial da Embraer, ainda que a companhia aérea seja o seu principal cliente para E2.

Além disso, todos as encomendas de E2 vieram da via a AerCap, a principal  arrendadora, que depois os repassam à Azul por meio de contratos de aluguel. Se a Azul deixar de pagar ou devolver os aviões, o prejuízo imediato não é da Embraer, e sim da empresa de leasing.

A Aercap (incluída inclusive no anúncio de reestruturação) tem uma encomenda restante de 15 aeronaves no primeiro trimestre de 2025. Desde o início de 2024, o banco estima que a companhia recebeu 11 aeronaves — sendo a Azul provavelmente o principal destino da maioria delas.

Hoje, as 15 aeronaves restantes da Aercap representam 3% da carteira firme total de pedidos comerciais da Embraer.

Outro final do impacto limitado: no balanço do primeiro trimestre, a Embraer reporta R$ 1,5 bilhão em contas a receber, dos quais apenas R$ 209 milhões são de clientes domésticos — um grupo que inclui também a Força Aérea Brasileira.

Ou seja, a exposição direta à Azul é uma fração disso, algo inferior a 1% do valor de mercado da companhia.

Mas e se a Azul cancelar parte das encomendas?

Caso a aérea cancele os atuais pedidos que possui, a Embraer poderia perder capital de giro já comprometido, ou seja, dinheiro investido nas montagens que já iniciaram, mas não toda a carteira da Azul (já que há aviões que ainda não começaram a ser montados).

Mas, se isso acontecer, a empresa poderia substituir a Azul por novos clientes. Isso poderia ser inclusive um fator positivo, já que pedidos recentes tendem a ter rentabilidade melhor do antigos.

Ainda que a substituição seja desafiadora, ela não seria impossível, dado o crescimento da carteira de pedidos do E2 e a forte demanda pelos modelos no mercado global.

Enquanto isso, a Embraer segue ampliando seus negócios mundo afora. As frentes de Defesa e Aviação Comercial mostram potencial robusto de crescimento.

Em resumo: a diversificação permite que a Embraer siga firme, mesmo quando turbulências sacodem seus parceiros de cabine.

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