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Por que as petroleiras caem hoje na B3 mesmo com o petróleo em alta

Investidores estão aliviados com o cessar-fogo, mas com dúvidas sobre a destruição das instalações nucleares do Irã

Petróleo: alta está ligada à percepção de que o pior cenário — como o fechamento do Estreito de Ormuz — foi evitado (ABPIP/Divulgação)

Petróleo: alta está ligada à percepção de que o pior cenário — como o fechamento do Estreito de Ormuz — foi evitado (ABPIP/Divulgação)

Juliana Alves
Juliana Alves

Repórter de mercados

Publicado em 25 de junho de 2025 às 13h38.

Última atualização em 25 de junho de 2025 às 14h41.

Na tarde desta quarta-feira, 25, a sequência de quedas do petróleo foi interrompida. O contrato do petróleo Brent, negociado em Londres, avançava 1,86% por volta das 13h22 (horário de Brasília).

A alta da commodity reflete o alívio dos investidores após a trégua entre Israel e Irã, que afastou, pelo menos por ora, os temores de escalada militar na região. No entanto, esse alívio ainda não se traduziu em ganhos para as ações das petroleiras brasileiras — sinal de que o mercado segue cauteloso.

No mesmo horário, os papéis da Brava Energia (BRAV3) recuavam 2,00%, os da Prio (PRIO3) caíam 1,15% e os da Petrorecôncavo (RECV3) cediam 1,50%. As ações da Petrobras (PETR4), por sua vez, subiam 0,38%, em movimento de recuperação após as perdas da véspera.

Trégua traz alívio, mas incertezas permanecem

Apesar do cessar-fogo, permanecem dúvidas relevantes sobre o impacto real dos ataques israelenses às instalações nucleares do Irã. Um relatório dos Estados Unidos indica que o programa nuclear iraniano teria sido atrasado por apenas alguns meses, o que alimenta o ceticismo sobre a durabilidade da trégua.

“A alta do petróleo está ligada à percepção de que o pior cenário — como o fechamento do Estreito de Ormuz — foi evitado. Mas ainda não há uma convicção de que a tensão geopolítica está resolvida”, explica Pedro Rodrigues, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

A disparidade entre a alta da commodity e a queda nas ações das petroleiras se deve, em parte, à forte correção recente nos preços do petróleo. O barril do Brent caiu de US$ 78 para US$ 66 em poucos dias, e as empresas do setor ainda estão digerindo esse movimento.

Segundo Pedro Rodrigues, o impacto da valorização do petróleo nas ações das petroleiras não é imediato. “As empresas trabalham com horizontes de investimento mais longos e precisam de previsibilidade. Em um ambiente volátil, o mercado prefere aguardar antes de reprecificar esses ativos.”

Além disso, o alívio geopolítico reacendeu preocupações com o crescimento da economia global e com a possibilidade de aumento da oferta de petróleo por parte da OPEP, o que pode limitar novas altas da commodity no médio prazo.

Volatilidade ainda dita o rumo do petróleo

O analista-chefe da VG Research, Lucas Lima, afirma que o atual patamar de preços do petróleo é instável. “Ainda não dá para dizer se a alta vai se sustentar. Caso a trégua continue, o Brent deve se estabilizar entre US$ 60 e US$ 65 o barril. Mas, se houver nova escalada no conflito ou cortes de produção pela OPEP, o preço pode ultrapassar esse intervalo.”

Nos Estados Unidos, os estoques de petróleo caíram 4,28 milhões de barris na última semana, bem acima da expectativa de 600 mil barris. Esse foi o quarto recuo semanal consecutivo e reforça a percepção de um mercado mais apertado do lado da oferta.

“A combinação entre estoques em queda e risco geopolítico latente sustenta essa recuperação gradual do petróleo”, afirma Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.

Apesar da valorização pontual da commodity, o mercado de ações segue reticente. Para que as petroleiras voltem a ganhar tração, será necessário um cenário mais claro — tanto no front externo quanto na política de produção global.

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