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Por que executivos, conselheiros e controladores estão comprando mais ações das próprias empresas?

'Insiders' - ou partes relacionadas - compraram R$ 5,47 bilhões em ações entre fevereiro e julho deste ano, mostra levantamento do Itaú BBA

Dinheiro; poupança (Natalya Kosarevich/Getty Images)

Dinheiro; poupança (Natalya Kosarevich/Getty Images)

Publicado em 21 de agosto de 2025 às 06h00.

Esta semana chamou atenção a notícia de que David Vélez, fundador e CEO do Nubank, vendeu o equivalente a US$ 432 milhões de ações da sua própria empresa. O movimento ilustra uma situação de transação feita por parte relacionada - quando um alto executivo, conselheiro da companhia, ou até mesmo o seu controlador adquire ou vende papéis da empresa onde atua.

O Itaú BBA monitorou esse tipo de movimento aqui no Brasil, entre as empresas que a casa acompanha. E viu que, nos últimos seis meses (entre fevereiro e julho), as partes relacionadas fizeram mais compras do que vendas no período. Para se ter uma ideia, as 10 companhias que mais registraram compras de ações realizadas por insiders (termo que o mercado costuma utilizar) no período, movimentaram R$ 5,47 bilhões; já nas vendas, esse número no período foi de R$ 4,66 bilhões.

"Quando vemos compras líquidas de controladores, executivos e membros dos conselhos, o sinal clássico é de confiança interna no valor da empresa. Eles têm mais perspectivas operacionais e estratégicas", explica Eduardo Rahal, analista chefe da Levante Inside Corp.

"Ao comprar ações da empresa, além da mensagem ao mercado da oportunidade, estão também selando um compromisso de longo prazo com a companhia", complementa Max Linder Campos, head de relacionamento B2B da Hurst Capital. Ele explica que o insider não tem liquidez para vender os papéis quando quiserem e, por isso, o compromisso fica ainda maior com os acionistas.

Todas essas operações são reportadas à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que fica de olho nas circunstâncias dessa compra ou venda. "Não pode haver negociação com informação privilegiada", esclarece Lucy Sousa, conselheira do Conselho Regional de Economia de São Paulo.

Frigoríficos na ponta positiva

BRF (BRFS3) e Marfrig (MRFG3), empresas em vias de combinar operações, encabeçam a lista das companhias onde houve maior volume de compra de ações por partes relacionadas entre fevereiro e julho. A primeira registrou R$ 1,4 bilhão em compras e a segunda, R$ 836 milhões. Um outro frigorífico, o Minerva, não ficou muito atrás, registrando R$ 790,9 milhões em compras por insiders.

O ranking das maiores compradoras tem ainda empresas como Eletrobras (R$ 592 milhões), Petrobras (R$ 373,1 milhões) e Weg, que também aparece na lista das empresas com os maiores volumes de vendas por partes relacionadas.

A conta final acabou ficando negativa para a fabricante de máquinas industriais, já que ao mesmo tempo em que os insiders compraram R$ 790,9 milhões no período, venderam R$ 805,3 milhões.

"A compra de ações por parte relacionadas também pode se amparar na percepção de que a empresa tem potencial de entregar resultados e as ações não estão precificadas. Mas essa é uma visão de curto prazo e pode reverter a qualquer momento", explica Lucy.

A lista das empresas que mais tiveram venda de ações por insiders entre fevereiro e julho é encabeçada com folga por Smartfit (SMFT3), com a venda de R$ 2,365 bilhões em papéis. A BRF também aparece no top três desse sell side, porém com volume de vendas de R$ 608,8 bilhões. Mesmo assim, foi uma das maiores compradoras líquidas do período, com um saldo positivo de R$ 787,5 milhões.

Não confundir com recompra de ações

Rahal, da Levante, explica que as transações realizadas por partes relacionadas refletem decisões patrimoniais individuais. É diferente de um programa de recompra de ações, decisão corporativa na qual papéis da empresa são comprados com recursos do caixa da companhia. É uma estratégia de alocação de capital.

"Do ponto de vista dos efeitos, recompra reduz o free float [volume de ações em circulação no mercado], aumenta métricas por ação - como lucro e dividendo por ação - e pode sustentar o preço no curto prazo, mas não resolve problemas estruturais de negócios. Quando mal utilizada, em momentos de ação já valorizada, destrói valor", diz o analista.

Compras por parte relacionadas e programas de recompras podem coexistir, explica Rahal, e reforçar uma mesma mensagem. "A de que a ação está barata e a gestão confia no futuro da empresa. Mas carregam implicações distintas para a governança e para a análise do investidor", conclui o analista.

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